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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 26, 2010

Natal antecipado






NATAL ANTECIPADO E 1º TURNO

mercado de trabalho brasileiro antecipa o Natal e registra em julho o menor nível de desemprego dos últimos oito anos, com taxa média de 7% no país. Tradicionalmente, é no período natalino que a economia apresenta atividade mais intensa com reforço da geração de vagas. Desta vez, o quadro se precipitou em julho. Em Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, as taxas de desemprego ficaram abaixo da média nacional, respectivamente 4,8%, 5,1% e 5,4%. Não por acaso, o eleitorado do Sudeste –para espanto e desalento da mídia demotucana-- tem negado a Serra os votos com os quais o candidato do conservadorismo esperava contrabalançar a vantagem fornida de Dilma Rousseff no Nordeste. O Natal antecipado do emprego é uma das alavancas que aceleram o desfecho das eleições presidenciais no 1º turno. Até o resiliente Datafolha jogou a toalha e já 'converge' para o cenário antecipado por outros institutos menos comprometidos com o esforço pró-tucano. Conforme a enquete divulgada nesta 4º feira, José Serra tem 29% das intenções de voto e 29% de rejeição. Está empatado tecnicamente com ele mesmo nesse aspecto, condição que pretendia ostentar em relação à adversária que abriu 20 pontos de vantagem na disputa. Dilma tem 49% das intenções de votos e lidera em todas as regiões. A candidata do PT virou o jogo inclusive no RS , onde o tucano ainda liderava, e abriu 5 pontos de vantagem em SP, cidadela tradicional do PSDB. Entre as capitais, Serra só ganha --ainda-- em Curitiba. Sua última linha de resistência é não perder para o próprio índice de rejeição. Exceto por um desastre de proporções ferroviárias, arquitetado pelo condomínio midiático-demotucano, a sorte da disputa, no 1º ou no 2º turno, está selada. Justiça seja feita, a sova federal não pode ser debitada exclusivamente ao ex-governador de SP. Embora a conservadora revista 'Economist' diga que "o sr. Serra parece insípido, exceto quando sorri, aí se torna alarmante", há algo mais que antipatia nesse revés. A dimensão histórica do naufrágio demotucano foi resumida pelo professor José Fiori em seu recente artigo 'Requiescat in pace' [leia a íntegra nesta pág]. Sua exposição sepulta o PSDB de Serra e Fernando Henrique, mas embute também desafios para o futuro da esquerda em geral e a petista em particular. Um trecho: "...o que mais chama a atenção não é a derrota em si mesma, é a anorexia ideológica dos dois últimos herdeiros da "terceira via" [a Concertación chilena e o PSDB brasileiro]. Não se trata de incompetência pessoal, nem de um problema de imagem, se trata do colapso final de um projeto político-ideológico eclético e anódino que acabou de maneira inglória: o projeto do neoliberalismo social-democrata. Que repouse em paz !
(Carta Maior; 26-08)

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