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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 27, 2010

Boicote folha de São Paulo






A ditabranda da Folha não é branda


Fotos: Jesus Carlos/Imagemlatina
Manifestação do Movimento pela Anistia Ampla, Geral
e Irrestrita nas ruas do centro de São Paulo, SP. 1979.








O editorial da Folha de S. Paulo de hoje é de uma coerência deplorável. Exige, sem meias palavras, a entrega, para explorar como quiser, do processo montado pela ditadura – ou “ditabranda”, como já a chamou – sobre Dilma Rousseff.

O Folha de S. Paulo é um jornal que não teve vergonha de estampar uma suposta ficha do DOPS, que circulava pela internet e juntá-la com uma entrevista onde atribui a um companheiro de Dilma declarações sobre um suposto plano de sequestro de Delfim Neto. A ficha, obtida em sites de extrema-direita, não era dos arquivos do DOPS, como o jornal anunciou e o entrevistado negou ter dito o que a Folha diz que ele disse.

Na ocasião, ao “explicar” porque estampou a enorme ficha baseada apenas num e-mail recebido por “uma fonte”, a Folha diz, textualmente:

“Na apuração da reportagem do dia 5, o jornal obteve centenas de documentos com fontes diversas: Superior Tribunal Militar, Arquivo Público do Estado de São Paulo, Arquivo Público Mineiro, ex-militantes da luta armada e ex-funcionários de órgãos de segurança que combateram a guerrilha.”

Reparem: obteve “centenas de documentos”. Já não lhe bastam?

O que o jornal quer agora, ainda? Quer os detalhes das sevícias, dos choques elétricos, das bordoadas, do sangue secando sobre o corpo moído pelos animais da Gestapo tupiniquim?

Quer transformar a vítima em algoz?

Curioso é que um jornal que se bate contra uma suposta quebra de sigilo fiscal do qual nada vazou, que protesta contra um dossiê do qual ninguém soube o que continha queira, agora, detalhes de um processo instaurado e escrito no regime de tortura e do horror. O que quer com informações que, no desespero da dor, uns e outros diziam para se livrar dos sofrimentos lancinantes a que estavam submetidos, pendurados em paus-de-arara e atados a fios elétricos?

A Folha, embora se sinta tão poderosa quando se sentiam os beleguins da ditadura, embora ache que tem o direito de torturar “jornalisticamente” seus adversários, está se remoendo pelo fato de seu poderoso instrumento de condenação política , o STDo Supremo Tribunal do Datafolha - ter falhado em sua missão.

Nem sob a tortura permanente de seus números inacreditáveis, a opinião pública se entregou.

A Folha de S. Paulo tem razão em achar a “ditabranda”. Queria mesmo que ela seja mais dura, inesquecível, e que estivesse em vigor, para evitar a ousadia do povo brasileiro em pretender ser dono de seu próprio destino.

*Tijolaço

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