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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, agosto 23, 2010

Eleitor tem que saber mais sobre documentos para votar

Uma minirreforma eleitoral criou para as eleições deste ano a obrigatoriedade de levar um documento com foto, além do título de eleitor, no momento da votação, o que pode significar um complicador para muitos brasileiros.

Em primeiro lugar, porque se está mudando uma regra de anos. Para votar em todas as eleições depois da democratização do país, bastava um documento reconhecido em todo o território nacional, que não precisava sequer ser o título de eleitor. Votava-se com a carteira de identidade, de trabalho, o passaporte ou a carteira de motorista.

A partir do momento em que se altera uma regra elementar como essa, seria preciso uma grande campanha de massa, iniciada bem antes das eleições, talvez com um ano de antecedência, para que as pessoas assimilassem a nova conduta que terão que adotar. Mas não foi isso o que aconteceu. O TSE lançou uma campanha publicitária no dia 31 de julho, que contém várias peças sobre voto consciente, voto em trânsito e papel de cada um dos representantes que o povo elegerá, e apenas uma sobre a necessidade de dois documentos, que é a mais necessária e urgente.

Ainda não a tinha visto e fui encontrá-la no YouTube. Fiz uma pesquisa informal junto a pessoas próximas e ninguém lembrava de ter visto qualquer propaganda sobre a exigência de um documento com foto além do título de eleitor. Assim, acho que a população poderá não estar esclarecida até o dia da votação e ser surpreendida quando chegar à cabine de votação.

O outro complicador que a medida traz atinge diretamente as pessoas mais simples e dos lugares mais distantes dos centros urbanos, que muitas vezes não dispõem de um documento com foto, mas têm o seu título de eleitor bem guardado para uso em cada eleição. Ou então não possuem o título eleitoral, mas têm ao menos um documento com foto e estão habituadas a votar assim. Será que a informação da nova necessidade chegará a cada canto do país de forma clara e em tempo hábil?

O TSE gasta muito com processos sofisticados como a identificação biométrica que será utilizada esse ano em 34 municípios, mas evita medidas simples como um comprovante impresso do voto para possíveis verificações ou uma campanha mais ampla e eficiente para informar os brasileiros sobre uma mudança essencial como essa no exercício do direito do voto.

*Tijolaço

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