Por enquanto, CPMI sem cheiro de pizza
Nada indica, até agora, que a CPMI terminará em pizza.
Pelo contrário, a partir de sexta-feira parece que baixou a sabedoria nos seus integrantes e deixou-se de jogar para a torcida.
A CPMI exige investigação e, como tal, técnicas de análise. Na primeira
fase – da apuração de dados e sua contextualização - não se pode jogar
para a plateia. Há que se debruçar sobre os dados – e eles estão
chegando -, analisá-los, confrontá-los com os fatos extra-CPMI e
levantar o contexto, o relato.
Nesses momentos iniciais, não há muito a mostrar e isso provoca dois
tipos de pressão. De um lado, militantes da blogosfera querendo
resultados rápidos; de outro, atores oportunistas, recém-chegados ao
jogo, loucos para se firmar com o sensacionalismo que o tema suscita e,
para tanto, dispostos a embaralhar o jogo.
Se se for atender a essa febre por resultados imediatos, dá-se com a
cara na parede. Será possível montar escândalos em cima de meras
suspeitas – mesmo que bastante fundadas. Excesso de escândalo vazio
agora apenas ajudará a diluir o impacto das denúncias baseadas em dados
reais, que existem e chegarão à CPMI.
Cabe à blogosfera a pressão para que não termine em pizza mas,
principalmente, a divulgação dos fatos que forem sendo apurados. Mas o
ritmo tem que ser ditado pela CPMI, de modo profissional, à luz dos
fatos que forem surgindo.
Daí a importância da CPMI retomar as rédeas do processo.
É um jogo complexo, que não comporta amadorismo.
Luis Nassif
No Advivo
~ o ~
Comentário de Alexandre Tambelli
A velha mídia e suas artimanhas de enganação do povo estão com seus
dias contados. Eu vejo que a calma na apuração e a sabedoria de convocar
o Policarpo, o Civita, o Cachoeira, o Demóstenes, o Perillo, o Leréia,
etc. na hora certa é o caminho da vitória da CPMI do Cachoeira.
Os áudios do grupo do Cachoeira com o Policarpo ainda estão
aparecendo, e as suas relações com reportagens da Veja, amplificadas no
JN, na velha mídia impressa devem ser bem estudadas e então, ai sim!
Convoca-se esses personagens para depor.
Nós precisamos primeiro desarmar a velha mídia e toda a oposição com
investigações corretas, correlacionando áudios às reportagens, tudo bem
detalhado; desnudando um pouco a cada dia este jogo entre o crime
organizado e a velha mídia, capitaneado pela revista Veja e o JN.
Quando a situação ficar inustentável, ou seja, as provas forem
irrefutáveis, a velha mídia e seus políticos não terão por onde correr.
Quando o Senador Álvaro Dias e o Deputado Miro Teixeira não puderem mais
defender o indefensável, por sobrevivência política, ai estaremos
prontos para convocar esses personagens, golpistas e bandidos, para
deporem. Será um desnudamento coletivo ao vivo para todo o Brasil
assistir e um avanço para a democracia brasileira.
Tem que sangrar uma gota a cada dia. Sem pressa e sem revanchismo.
Apenas aplicando a Lei e se fazendo a Justiça através dela. O importante
é estar preparando o terreno para que, próximo do horário político das
Eleições Municipais se tenha o ponto forte da CPMI. Não para se fazer
vigança com os políticos ligados à velha mídia, mas para ajudar no clima
mais ético, honesto e cordial do período eleitoral.
As esquerdas não agem por impulso. As esquerdas brasileiras, quase
sempre, buscam o caminho da verdade e da apuração correta dos fatos.
Comprovadamente, quem se beneficia de microfones da velha mídia para
referendar denúncias sem provas são os políticos da direita.
Nós precisamos passar a limpo, de uma vez por todas, essas histórias
envolvendo a velha mídia e o crime organizado. Destituí-las do convívio
Jornalístico. Que isto aconteça com calma. E como bem sabemos, cuidemos
de não levar a sério boa parte dos noticiários que brotam da velha
mídia, eles nos levam a crer que quase todo político é corrupto, que
todos os partidos são corruptos, etc e isto nos faz mal, porque
desacreditamos na Democracia, na importância das instituições, no
Judiciário, no Executivo, nos políticos, na importância do voto, nas
eleições diretas, etc.
A velha mídia é ligada ao centro do Capitalismo! Desacreditando nas
instituições podemos ajudar em muito na manutenção do Sistema, do mundo
Capitalista. Para seus ideólogos e seus comandantes a alienação e o
desacreditar nas instituições democráticas é excelente, facilitam na
dominação do povo, dos poderes centrais dos países e no controle e
apoderamento do capital e seus recursos para ampliá-lo e concentrá-lo
ainda mais. Quem desacredita nas instituições, acredita que não tem mais
jeito de se encontrar um mundo melhor para vivermos, mais facilmente se
desanima e vive em um egoísmo particular e menos combativo para com as
injustiças sociais e políticas.
Os noticiários da velha mídia tendem a nos fazer desacreditar na
CPMI, a nos dizer que tudo caminha para uma grande "PIZZA". É tudo
jogada para nos desanimar, nos tornar mais céticos e nos colocar contra
políticos que estão do nosso lado.
Todo cuidado é pouco. Agora o FHC está favorável a uma Lei de
regulação dos meios de comunicação? Como disse o Professor Venício Lima,
e traduzindo para o popular, "Tem boi na linha". Ele sabiamente
argumenta que a velha mídia quer se apoderar do discurso de regulação
dos meios de comunicação, porque sabe que não tem como impedir a sua
existência, em um tempo não muito distante. Então, aos poucos, se
apodera do discurso, se engendra nas decisões e busca minimizar ao
máximo seus malefícios para a sua hegemonia midiática continuar. A velha
mídia finge-se de democrática, assume o papel de protagonista da
discussão e no fundo no fundo pouca coisa muda.
Não esperemos da velha mídia nada de generoso ou mea culpa por seus
erros. As pessoas que a comandam e seus Jornalistas são pessoas que
vivem em um mundo que está prestes a ruir e eles jogam as últimas
fichas, descontroladamente é certo, como o apostador que só tem uma
jogada em mãos, tentando salvar-se da bancarrota, do nocaute. Quem sabe
para perder por pontos e minimizar as condenações.
Quer ser informado e lúcido não assimile o discurso da velha mídia,
não propague o seu discurso e não aceite como a verdade verdadeira as
informações que eles veiculam. Tem sempre um outro lado a ser procurado,
uma versão outra a ser descoberta, uma mentira a ser desvendada.
*comtextolivre
“Assusta-me que FHC assuma a bandeira da regulação da mídia”
Em entrevista à Carta Maior, Venício Lima, pesquisador na área da
Comunicação, analisa as recentes declarações do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, favoráveis a regulação dos meios de comunicação. "Isso
pode significar que algum tipo de costura de bastidores pode estar
sendo feita para que haja alguma coisa que se apresente como regulação e
que não chegue nem ao que já está na Constituição há 23 anos. Então,
tenho medo disso", afirma.
Brasília - Durante o seminário “Meios de comunicação e democracia na
América Latina”, realizado no último dia 15 pelo Instituto Fernando
Henrique Cardoso (FHC), o ex-presidente defendeu a regulação da mídia
como condição da democracia . O evento marcou também o lançamento de uma
publicação conjunta do iFHC, Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e da
Plataforma Democrática apresentando reflexões e propostas para mudanças
na legislação do setor.
As declarações aparentemente inusitadas de FHC - historicamente alinhado
aos setores da mídia que abortam qualquer discussão sobre o tema
taxando-o como tentativa de censura e ataque a liberdade de imprensa -,
entretanto, não surpreendem o professor aposentado de Ciência Política e
Comunicação da UnB (aposentado) Venício de Lima. O pesquisador aponta
indícios de mudança na estratégia dos grandes grupos de mídia e teme que
eles assumam a bandeira da regulação para fazê-la entre aspas: “Ou
seja, muda para não mudar.”
Confira a entrevista.
O senhor se surpreendeu com a posição de Fernando Henrique Cardoso?
Não me surpreende, mas me preocupa. Tenho a impressão de que os setores
historicamente avessos até ao debate sobre a questão da regulação estão
se apropriando de um certo vocabulário de regulação da mídia, o que não
necessariamente significa um avanço democrático. Há várias sinalizações
disto.
Quais?
Em 2003, se não me engano, quando o Conselho de Comunicação Social
[órgão auxiliar do Congresso previsto no artigo 224 da Constituição]
ainda funcionava - porque desde dezembro de 2006 ele não funciona mais -
criou-se uma subcomissão para discutir concentração da mídia no Brasil,
por iniciativa do à época conselheiro Alberto Dines. Eu fui um dos
convidados e apresentei um texto tratando da concentração histórica, não
só, mas sobretudo, na radiodifusão do país. A última pessoa convidada
foi um filósofo gaúcho chamado Denis Rosenfield, que não é da área, mas é
um expoente do pensamento liberal conservador no Brasil. Sua
participação foi sugerida e apoiada pelos grandes grupos de mídia que
tem representação no Conselho. Ele criticou todas as apresentações
anteriores, muito particularmente a minha, reafirmando todas as posições
tradicionais dos grandes grupos de mídia, por exemplo, contrário a
qualquer tipo de controle da propriedade cruzada dos meios e coisas
desse tipo.
Recentemente, este ano, esse mesmo professor publicou um texto, destes
que são publicados em vários jornais, defendendo a regulação do setor.
Ele comete alguns erros bastante primários, mas pelo fato de ter
publicado este texto e de ter defendido há menos de dez anos atrás
posições totalmente opostas, passei a suspeitar de que os grandes
proprietários da mídia começaram a se apropriar da necessidade de uma
certa atualização da regulação, o que me preocupa porque isso pode
significar que algum tipo de costura de bastidores pode estar sendo
feita para que haja alguma coisa que se apresente como regulação e que
não chegue nem ao que já está na Constituição há 23 anos. Então, tenho
medo disso. Como acontece no Brasil, na maioria das vezes, as mudanças
são para continuar onde estamos.
Há outras sinalizações?
Quando da aprovação da Lei 12.485, no final do ano passado, unificando a
regulação da televisão paga, o jornal O Globo fez um editorial falando
“precisamos mesmo atualizar a legislação da área e um bom exemplo do que
precisa ser feito é essa lei, que foi feita sem contaminação
ideológica, sem viés populista”, etc.
Além disso, o professor Bernardo Sorj, que é o representante do Centro
Edelstein, que inclusive publica o livro lançado no seminário promovido
pelo Instituto FHC, é o organizador de outro livro publicado há uns dois
anos pela Paz e Terra, junto com a organização Plataforma Democrática.
Esse livro não deixa qualquer dúvida sobre a posição desses centros de
estudo sobre as questões que tem sido levantadas em relação aos marcos
regulatórios que estão sendo implementados na América Latina. O próprio
Bernardo Sorj, em outro texto, defende explicitamente a manutenção da
propriedade cruzada dos meios, argumentado que a concentração talvez
fosse uma forma de garantir a permanência dos veículos impressos,
ameaçados pelas novas tecnologias. Então, fico com pé atrás, a menos que
ele tenha mudado de posição.
Ou seja, a mídia tradicional prevê a regulação da comunicação como
inevitável no Brasil e se movimenta para garantir uma regulação que lhe
seja menos prejudicial?
Seria isso, como acontece com relação à bandeira da liberdade de
expressão. Você vê setores que apoiaram o golpe de 1964, que
patrocinaram a última expressão institucionalizada da censura no Brasil,
assumindo indevidamente, de forma totalmente absurda, a bandeira da
liberdade de expressão. Os mesmos grupos que apoiaram um governo que
institucionalizou a censura e que, inclusive, afetou a eles próprios! O
risco que se corre agora é que com esse movimento, certamente articulado
com os próprios grandes grupos de mídia, eles assumam a bandeira da
regulação e façam a regulação entre aspas. Ou seja, muda para não mudar.
Entre as propostas tiradas neste seminário, eles falam em combater a concentração da propriedade dos meios privados.
Eles precisam explicar melhor. Muita gente fala que combater a
concentração é finalmente cumprir o que está naquele decreto 236, de
1967, da ditadura. Aquilo ali não tem nada a ver com propriedade
cruzada. Limitam o número de concessões por região geográfica e um
parágrafo poderia ser aplicado na formação de redes. Não há qualquer
controle na formação de redes de rádio e televisão como a Globo. Do
ponto de vista jurídico, inclusive da ação do Cade [Conselho
Administrativo de Defesa Econômica] em relação a formação de cartéis e
controle de oligopolização, esses grupos são aceitos como rede.
Mas eu ainda não vi a publicação lançada neste seminário e prefiro fazer
um estudo do documento. Estou falando com base nas coisas que eu já
vinha observando e sobre algumas já escrevi.
Seria importante ter um aliado como FHC nesta luta?
Ao contrário, me assusta que FHC e o grupo em torno dessa promoção
assumam a bandeira da regulação, eu jamais diria que ele é aliado. Se
fosse teria promovido a regulação nos anos que foi presidente da
República ou, então, o PSDB estaria apoiando alguma coisa nesse sentido.
Vinicius Mansur
No Carta Maior