Pour Elise
Acabou mal a estória do empresário que achava que podia tudo
com meninas que, sem o mesmo capital, recorriam à prostituição para ganhar a vida.
Colocava-se como que senhor de seus destinos, dava carro, mesada, saciava-se e
depois descartava.
Foi assim com Elise, garota com cara de anjo mas que trazia
na mão o punhal de quem precisa lutar todos os dias para manter-se viva. Matsunaga, o
rei da pipoca, havia aberto para ela as portas da esperança tal como se passava
nos antigos programas dominicais de Silvio Santos.
Abriu e fechou. Havia encontrado outra vítima, outra menina
que só dispunha do corpo para sobreviver e procurava Matsunagas em sites de
relacionamentos na internet. Na troca de uma por outra, mercadorias que se
intercambiavam, restava uma criança. Esta o patrão de mil empregados resolvera
manter junto a si a fim de mostrar aos familiares que era pai zeloso, na velha
tradição da cultura japonesa.
Ao comunicar a decisão de que reclamaria a filha e substituiria Elise por outra
garota, depois de confrontado com a próprio adultério, Matsunaga lembrou-se onde
havia encontrado aquela a quem por capricho e desafio de conquista desposara, e
chamou-a de prostituta, filha da pobreza e fraca. Evocou sua fortuna, sua
estirpe oriental, quem sabe, e desafiou-a a agir.
Sem titubear, guiada pela moral das ruas, de quem bem sabe
que o dia do júbilo é a véspera do escárnio Elise disparou um tiro certeiro
no rosto do aproveitador Matsunaga . Desprezando o corpo do ex-marido como o
seu mesmo havia antes sido desprezado, esquartejou-o e depositou-o como lixo na
noite da cidade.
Quem poderá recriminar Elise pela explosão de cólera em razão do vilipêndio do único bem que de fato possuia,
a dignidade? Quem poderá, de outro modo, chorar a morte de um homem sem caráter que colecionava indistintimante
armas, vinhos e mulheres?
Poucos terão lágrimas para
Matsunaga, aquele que planejou sem saber a própria morte por haver
se enganado sobre como dispôr da sua fortuna.
LuisCezar
*Brasilquevai