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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quarta-feira, junho 13, 2012
Ahhh o Amor
“O amor é sentimento único, mas não é igual. Isso o faz um monstro terrível e ao mesmo tempo desejado. Torna o homem masoquista, egoísta. É tão forte que desmascara o individualista.
Quem nesta vida pode ser tão rico sem ter um ser amado? Que delícia teriam as águas do mar se fossem insípidas? Que beleza teria a noite sem ter o céu de estrelas bordado? Que fascínio teria abrir, ao amanhecer, uma janela se o Sol não fosse dourado? E no campo a Primavera sem os apaixonados querendo flores para colher? Que suavidade há no olhar dos que não amam? Que certeza há nos corações dos que não crêem no amor? E quantas dúvidas moram, perpetuam-se nos corações dos que amam? É o doce e o sal, o amor; o veludo mais áspero que a minha mão já tocou; é a ferida que mais arde e que parece não precisar de cura, porque se ela cicatriza vem com ela a morte do amor. É preciso que doa para permanecer vivo, é preciso que lateje – não basta ser latente -, incomode, tem que ser mesmo forte, irreverente, cruel, um carrasco que castiga, causando prazer em vez de dor. Só assim pode ser amor; inquietante, barulhento, dentro da alma. Mesmo que às vezes a boca cale, o amor precisa ser uma tormenta dentro do coração. O amor vive da guerra dentro da paz que proporciona. Alimenta-se do desejo contínuo de permanecer… Indecifrável, indefinido. O amor me faz entender de amar; não de amor.
Para entender de amor, morri. Até jurei desamar ou nunca mais amar, mas com este poderoso, quem pode? Vira e mexe, você xinga o mundo, desfaz-se em pranto, risca, rabisca sentimentos, pensa que chegou ao mais profundo e, de repente, você submerge e emerge das águas profundas deste sentimento um outro amor. Amores são amores, divergem tanto e não poderia ser diferente. Por ser universal é único, não é comum; tem personalidade; chega diferente a cada um. O amor… A dor que ninguém rejeita; a poesia que todos querem cantar; o profundo mar; o abismo que todos querem velejar; o obscuro; o negro; o transparente; o claro sentimento da vida. Nele tudo está contido. Tudo há. Não há falta de razão no amar, no amar de cada um. No modo de dizer que sente, ama ou de sentir. Ele é permanente. O eterno sentimento… Sem face, sem cheiro definido, sem lugar-comum; nasce nos becos, no gueto, na lama, em sodoma, em gomorra, onde quer que ódio morra, nasce o amor. Eu desconheço sentimento mais profundo, nem o vinho mais caro, nem a uva mais rara, nem o manjar mais doce tem o seu sabor. Um sabor tão raro, doado pelos deuses, presente divino; anjo sem rosto; um céu cheio de inferno; e fogo; que nos consome; purifica e dá vida.
Assim, é o amor… Doce mistério da minha vida, da tua, de todos; quem não carrega consigo a larva desta borboleta tão mutante com asas plenas? um viajante sem pouso certo habita nas noites, até nos sepulcros; no coração daqueles que mesmo enterrados foram, levando consigo um segredo de amor; os mistérios noite a dentro nos cemitérios, quantos partiram pobres sem provar o seu sabor? No coração da prostituta, que a carne doa sem pudor, nela também habita o amor; este sentimento que me move, te move, conduz o mundo; do santuário ao profano ele é a mola que move, que faz vibrar, que pulsa e faz jorrar sangue ao órgão mais vital; vício; adrenalina; pulsante coração cheio de amor habita em todo ser que ama. Será assim o amor? Tenho amado tanto… Tento entender o amor. Não existe no mundo este professor. Todos já tentaram traduzir, tentam tingir de alguma cor. Muitas tentativas e ele será sempre mutante, errante, perpétuo, imperfeito, frágil, sutil , assim como as estações: chuvoso, nublado, outono perfumado, quente como o Sol, num dia de Verão, com seu aroma de Primavera, inconfundível; o seu colorido possui cores tão cintilantes, tão diferente; ninguém consegue pintar um quadro com a verdadeira cor vinda do amor” (In: Johann e Maria, Parte VIII).
*Ednar
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