D. Helder Câmara
Dois fatos recentes esclarecedores:
1) A psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida pelo Jornal O Estado de S. Paulo por artigo onde critica a desqualificação dos votos dos pobres. Diz ela: "Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos". Tais palavras foram consideradas pelo jornal como "delito de opinião", punido com sua demissão. Quer dizer, o jornal acha que voto de pobre não vale nada, e liberdade em suas páginas para alguém dizer o contrário é proibido. É o mesmo jornal que brada ter sido censurado recentemente, uma vítima, um desrespeito à liberdade de expressão. Quer dizer, liberdade da porta para a fora de seu prédio. Dentro, só o apoio ao candidato demotucano e seus preconceitos contra o andar de baixo.
2) Aula de jornalismo na PUC no Rio, manhã do dia 5 de outubro. A professora Marília Martins, jornalista do jornal O Globo, comenta as recentes provas de seus alunos. Para uma aluna, Gizele Martins, dirige as mais pesadas críticas. Seu crime, segundo a jornalista, ter apresentado um bom texto, mas "totalmente parcial". Ao falar do direito à moradia, a luta social que envolve a questão, a professora disse que a aluna demonstrou "simpatias" pelo MST e o Movimentos dos Sem Teto, organizações criminosas, segundo ela. E ainda alertou a aluna para que guardasse bem o diploma, pois precisaria dele para garantir "uma cela de luxo" quando estivesse na prisão. Afirmou, por fim, que defende a liberdade de expressão, mas que não há lugar para a Gizele na imprensa.
Certamente não, nesta imprensa. A Gisele teria que dizer que movimento social é sempre criminoso, que os pobres não sabem votar, mas que há "homens de bem", como o vampirotucano que pode salvar o país. Não é uma receita de jornalismo, mas de propaganda. A mídia existe, tem concessões públicas, para vender seus produtos mentirosos, contrários ao interesse de informação do povo brasileiro.
Quem, como eu, deseja apoiar a Gizele, assine o abaixo-assinado em seu favor aqui.
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