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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 17, 2010

Filme mostra como o Opus Dei dilui fronteiras entre o fanatismo e a psicopatia



Por Marco Weissheimer

“É um filme contra o obscurantismo, a dor e os fundamentalismos neste país”. Foi assim que o cineasta espanhol Javier Fesser recebeu, em fevereiro de 2009, seis estatuetas do Goya (prêmio máximo do cinema espanhol) pelo filme “Camino” (“Um caminho de luz”, em português): melhor filme, melhor realizador (Javier Fesser), melhor atriz (Carmen Elías), melhor atriz revelação (Nerea Camacho), melhor ator coadjuvante (Jordi Dauder) e melhor roteiro.
O obscurantismo e o fundamentalismo ficam por conta da Opus Dei, organização ultra-conservadora da Igreja Católica que desafia as fronteiras entre o fanatismo, a psicopatia e a sem-vergonhice. “Camino” é uma homenagem pessoal de Fesser a uma menina de 13 anos chamada Alexia González-Barros e mostra a maneira como a Opus Dei manipula a sua doença e a transforma num sacrifício que se deve oferecer a Deus. Na tela, é retratada pelo nome de Camino, em referência ao livro homônimo de Josemaría Escrivá de Balaguer, fundador da ordem.
O fanatismo católico está presente dentro da casa da menina, encarnado no corpo da mãe, uma carola fundamentalista que vai se confessar para pedir perdão por desejar um milagre que salvasse a vida da própria filha. Em retribuição a esse infinito amor maternal, a filha, Camino, vê a mãe como uma espécie de demônio em seus sonhos.
“Camino” (disponível nas locadoras) é um filme extraordinário que trata de um tema extremamente duro, mesclando uma corrosiva crítica ao fanatismo religioso e um olhar doce e cheio de imaginação da menina que sofre a terrível coincidência de encontrar seu primeiro amor, um menino chamado Jesus, e descobrir que tem um agressivo câncer. Submetida a diversas e dolorosas cirurgias, ela fala em Jesus o tempo todo, o menino, não o Messias, como entendem sua mãe e os psicopatas da Opus Dei. Daí para virar candidata à santa é um pulinho, com direito a uma pornográfica conversa entre um padre e a mãe. O obrador de Deus tenta convencer a dita cuja que é melhor Camino morrer logo para iniciar o processo de canonização.
O filme, disse ainda o diretor, acabou se tornando, durante sua realização, uma procura da verdade com “dezenas de testemunhas de gente maravilhosa presa injustamente numa instituição chamada Opus Dei”. “Camino” causou forte polêmica na Espanha, berço da prelazia apoiada por parte da elite empresarial e famílias tradicionais e com forte influência na cúpula da Igreja Católica, tanto na Espanha como em Roma. Por aqui também a Opus Dei anda colocando suas manguinhas de fora. Recentemente, um jovem padre da Catedral Metropolitana de Porto Alegre, ligado à organização, foi capa do caderno Donna, da Zero Hora, apresentado como um “padre pop”. Alguns gabinetes da Faculdade de Direito da UFRGS também respiram esse odor fundamentalista católico. Para quem se interessa pelo tema, “Camino” é um filme obrigatório. Mostra alguns detalhes da vida interna dessa organização e de seus códigos de conduta, para não falar de diversas patologias travestidas de fervor religioso. Deus nos livre dessa gente!
Dica do turquinho: Faça download do filme aqui

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