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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 17, 2010

josé ss erra, e sua campanha suja, abriu a Caixa de Pandora




"Incêndios em favelas, surto racista, homofobia. Como anda o respeito (ou desrespeito) aos direitos humanos no Brasil
Primeiro, a estudante de direito Mayara Petruso, revoltada com a derrota de José Serra, pediu na internet depois do pleito de 31 de outubro que seus conterrâneos paulistanos afogassem nordestinos, para ela responsáveis pela eleição de Dilma Rousseff. Semanas depois, quatro homossexuais foram covardemente agredidos na Avenida Paulista, coração de São Paulo. Domingo, durante e após a Parada do Orgulho LGBT-Rio, jovens que namoravam na Avenida Atlântica e imediações, como o Arpoador, foram hostilizados, ameaçados e agredidos por militares do Forte de Copacabana. Um rapaz de 19 anos foi baleado. Não se trata de fatos isolados. Acontecendo nas duas metrópoles brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo, demonstram que apesar dos avanços vamos mal no campo dos direitos humanos. Direitos humanos que, para uma parcela da sociedade cuja cabeça é feita pela mídia, são "proteção a bandido e vagabundo". (Rodrigo Brandão, da Equipe do EDUCOM)

Todas as vezes que assistimos a episódios bábaros como os descritos na postagem acima ficamos entre a perplexidade e a sensação de impotência para tentar mudar esse estado de coisas.
Qual é a responsabilidade que cada um de nós, cidadãos, tem nesses episódios?
Qual é a responsbilidade que tem as instituções sociais nesses episódios?
Tenho lido em vários blogues e redes sociais que a campanha eleitoral para a presidência da República, principalmente a campanha do candidato derrotado José Serra teria sido a responsável pela onda de manifestações racistas na imprensa e nas redes sociais.
Discordo e vou além.
Penso que temos que agradecer ao candidato José Serra por ter, com sua campanha sórdida e imbecilizante, destampado a caixa de Pandora da sociedade brasileira.
As misérias humanas, naturais e ou adquiridas, estavam lá encobertas por uma fina película de discursos politicamente corretos, apenas esperando que um ambicioso e desesperado político prepotente, num acesso de fúria rasgasse essa película e destampasse a frágil caixa que esconde nossos preconceitos e intolerâncias.
Não bastam leis e políticas de ação afirmativa em defesa das mulheres, dos homossexuais, dos negros e das populações em situação de risco social para mudar comportamentos, culturas arraigadas e maneiras de encarar o mundo. Aliás, como ficou claro nas manifestações fascistas dos envolvidos no caso do twitter, é justamente por causa das políticas sociais como o Bolsa Família que alguns setores da sociedade deixaram cair a máscara de bons moços.
As pessoas caridosas, que na época do Natal adoram fazer campanhas de arrecadação de alimentos e brinquedos para crianças e pessoas carentes, via de regra, são as maiores críticas do programa Bolsa Família.
Para essas pessoas a caridade faz muito bem , lhes dá a sensação de terem cumprido o seu dever cristão e passarão o resto do ano com a consciência tranquila, mesmo que explorem suas faxineiras e humilhem os porteiros de seus edifícios- Zeram seus pecadinhos com as cestas básicas, os panetones e os brinquedos velhos doados para os pobres no natal.
Quando a mãe de um dos envolvidos no espancamento brutal dos jovens na Av.Paulista, declara em entrevista a jornalistas que seu filho é um bom rapaz, bom estudante, tira boas notas, ela realmente acredita nisso e não tem conciência de que colaborou muito para que seu filho fosse um assassino.
Nas escolas particulares de São Paulo é comum ouvir-se relatos de professores que foram ameaçados e ofendidos por pais de alunos por terem ousado repreender seus filhos ou reprová-los em suas matérias.
Crianças na mais tenra idade, transformam-se em pequenos ditadores impondo aos pais sua vontades e caprichos em lojas e supermercados. Não gostar desta comida, desta roupa ou daquele brinquedo é palavra de ordem para que os objetos que os desagradam sejam descartados ou eliminados.
Crianças que crescerão e que se não gostarem de negros, homossexuais e nordestinos, acham que também poderão eliminá-los.
É natural que os pais defendam suas crias, até na natureza vemos exemplos. Porém temos que refletir muito sobre a educação que está sendo dada às crianças e que exemplos estamos dando à elas.
Sobre os meios de comunicação há inúmeros artigos que expõem as verdadeiras faces de jornalistas que, até há algum tempo, pousavam de democrátas e defensores dos direitosdo povo. Finalmente, deixaram claro que povo para eles não é qualquer povo é o que pertence à sua classe social. Isso também devemos à campanha do José Serra.
Programas humorísticos fazendo caricaturas dos pobres, do churrasco na lage, do viadinho, da empregada doméstica, do nordestino, da sapatão, etc., quem nunca riu desses programas deprimentes? Quem nunca achou engraçado ver seus pimpolhos imitando esses personagens?
Sobre as igrejas e suas doutrinas, seria demasiado pretensioso aborda-las neste singelo desabafo. Basta relembrar as declarações de S.S. o Papa às vésperas da eleição presidencial.
Enfim, é bastante assustador o cenário que presenciamos diariamente nas cidades brasileiras, principalmente nas metrópoles consideradas mais modernas e culturalmente desenvolvidas como Rio de Janeiro e São Paulo.
Por isso afirmo que temos que agradecer ao candidato José Serra que, com sua campanha eleitoral de baixo nível, destampou a caixa de Pandora e permitiu que aflorasse o que há de pior na sociedade brasileira.
Temos que enfrentar esse aparente estado de anomia social e reverter esse quadro de barbárie através da arma mais eficaz. Educação de qualidade para todas as crianças em todos os níveis. Como no mito Grego, ainda resta a esperança no fundo da caixa de Pandora. 
*BrasilMobilizado

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