Miguel Nicolelis diz o que pensa sobre o jornalismo da Folha
Acesso a equipamentos de pesquisa provoca cisão entre cientistas
Claudio Angelo - Reinaldo José Lopes
Um casamento que na década passada prometeu revolucionar a ciência brasileira terminou na segunda-feira (25), com um dos cônjuges literalmente pegando suas coisas e se mudando.
Os neurocientistas Sidarta Ribeiro e Miguel Nicolelis, cofundadores do IINN (Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra), estão "divorciados".
Na manhã de ontem, Ribeiro saiu do instituto com um caminhão carregado de equipamentos científicos, como centrífugas e computadores.
O material pertence à UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e foi requisitado pela reitora, Ângela Paiva Cruz, para suprir o recém-criado Instituto do Cérebro da universidade, liderado por Ribeiro.
De Mudança
Professores da UFRN que compõem a equipe científica do IINN vão deixar o instituto. Dos dez membros da equipe científica listados no site do instituto, só Nicolelis e o chileno Romulo Fuentes vão ficar.
Ribeiro pediu à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia) que transfira para a UFRN aparelhos comprados pelo instituto por R$ 6 milhões, como um microscópio caríssimo, encaixotado há seis meses.
Segundo a Folha apurou, a cisão foi causada por divergências sobre a gestão do instituto, nas mãos de Nicolelis. O professor da Universidade Duke (EUA) preside a Aasdap (Associação Alberto Santos-Dumont), entidade privada que toca o instituto em convênio com a UFRN.
Apesar da parceria, ele teria limitado o acesso de alunos e professores da universidade aos equipamentos do IINN, irritando Ribeiro.
A gota d'água aconteceu em junho, quando Ribeiro, escolhido por Nicolelis para ser o primeiro diretor do IINN, em 2005, foi convidado a desocupar sua sala e a deixar de usar a garagem do instituto.
Patrimônio
Procurado pela Folha, Ribeiro não quis comentar a briga, mas disse que quer passar todos os equipamentos do IINN bancados com verba pública à gestão pública. "Os pesquisadores da Aasdap poderão ter acesso a tudo."
A reitora Ângela Paiva confirma que mandou retirar os equipamentos, mas nega a ruptura. "Estamos trabalhando com o Miguel Nicolelis para resolver o conflito."
O pesquisador da UFRN Sérgio Neuenschwander, que acaba de voltar ao Brasil para trabalhar no IINN após 23 anos no Instituto Max Planck, na Alemanha, tem uma visão diferente: "O Nicolelis contribuiu imensamente, mas a gestão dele foi muito destrutiva. Não tem volta."
Neuenschwander é um dos proponentes originais do instituto. Em 1995, ele, Ribeiro e Cláudio Mello, hoje na Universidade de Saúde e Ciência do Oregon (EUA), idealizaram uma forma de repatriar neurocientistas brasileiros.
O projeto ganhou forma após Nicolelis assumir sua liderança. Ele bancou a criação da Aasdap com US$ 450 mil do próprio bolso e obteve recursos do Banco Safra estimados em US$ 10 milhões.
A gestão público-privada, modelo usado nos EUA, daria mais agilidade à ciência, dizia Nicolelis.
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Nota da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
A UFRN reafirma o seu compromisso de manter a parceria com o INN-ELS/AASDAP iniciada há oito anos e esclarece que não existe nenhum conflito institucional, senão algumas divergências pessoais de pesquisadores, antes colaboradores do INN-ELS/AASDAP. A REITORIA DA UFRN continua com a interlocução permanente para dar continuidade a essa parceria, com a conclusão do CAMPUS DO CÉREBRO, nesta área estratégica para o desenvolvimento da ciência brasileira. A REITORIA confia na superação de eventuais divergências e na construção do entendimento necessário à consolidação desse projeto institucional.
Natal, 26 de julho de 2011.
ÂNGELA PAIVA CRUZ
REITORA DA UFRN
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Nota de esclarecimento, AASDAP
A Associação Alberto Santos-Dumont para Apoio à Pesquisa (AASDAP), gestora do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) continuam trabalhando em conjunto, visando concretizar o plano de criação do Campus do Cérebro em Macaíba. Ambas as partes não só mantém a parceria, como pretendem ampliá-la. O fato de haver ajustes administrativos não significa cisão.
Em relação ao grupo de pesquisadores da UFRN que está encerrando sua colaboração com os Centros de Pesquisa da AASDAP, nada impede que trabalhemos juntos no futuro.
A missão do IINN-ELS, de usar a ciência como agente de transformação social do nosso país, continua sendo cumprida, como atestam os mais de 1000 jovens atendidos em seus dois Centros de Educação Científica e os 12000 atendimentos anuais do Centro de Saúde Anita Garibaldi.
Os pesquisadores da equipe do IINN-ELS e seus colaboradores no Brasil, Estados Unidos e Europa mantém o cumprimento de sua missão científica.
São Paulo, 26 de julho de 2011
AASDAP
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Nicolelis fala sobre o assunto no twitter
*comtextolivre
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