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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 26, 2011

Somália: as reais causas da fome

Há 20 anos a Somália se vê envolvida em uma "guerra civil", em meio à destruição de suas economias tanto rural quanto urbana.

O país enfrenta agora uma fome generalizada. De acordo com as últimas informações, dezenas de milhares de pessoas morreram de desnutrição nos últimos meses. As vidas de milhões de pessoas estão ameaçadas.

A mídia hegemônica atribui a fome casualmente a uma forte seca sem examinar questões de fundo.

Uma atmosfera de "ilegalidade, brigas de gangues e anarquia" também é apontada como uma das maiores causas por detrás da fome.

Mas quem está por trás da ilegalidade e das gangues armadas?

A Somália é categorizada como um "estado falido", um país sem governo.

Mas como ela se tornou um "estado falido"? Há ampla evidência de intervenção estrangeira, assim como apoio às milícias armadas. Criar "estados falidos" faz parte da política externa dos EUA. É parte de sua agenda de inteligência militar.

De acordo com a ONU, a situação de fome prevalece em Bakool e Shabelle, áreas parcialmente controladas pela Al Shahab, uma milícia jihadista afiliada à Al Qaeda.

Tanto a ONU quanto a administração Obama acusaram a Al Shahab de impor uma "proibição de agências de ajuda estrangeiras em seus territórios em 2009". O que as notícias não mencionam, no entanto, é que a Jarakat al-Shabaab al-Mujahideen (HSM) ("Movimento da Juventude em Luta") foi fundada pela Arábia Saudita e financiada por agências de inteligência ocidentais.

O suporte ocidental de milícias islâmicas é parte de um padrão histórico mais amplo de suporte a organizações jihadistas e afiliadas à Al Qaeda em vários países, incluindo, mais recentemente, a Líbia e a Síria.

A grande questão é: que forças externas precipitaram a destruição do Estado Somali no início da década de 1990?

A Somália foi autosuficiente em alimentos até o final dos anos 1970 apesar de recorrentes secas. No início da década de 1980, sua economia nacional foi desestabilizada e a agricultura alimentar destruída.

O processo de desarticulação econômica precedeu a guerra civil em 1991. O caos econômico e social resultante da "economia de recuperação" do FMI preparou o terreno para a guerra civil financiada pelos EUA.

Todo um país com uma rica história de comércio e desenvolvimento econômico foi transformado em um mero território.

Ironicamente, este território possui uma significante reserva de petróleo. Quatro gigantes petroleiras estadunidenses já estavam alertas antes mesmo do começo da guerra civil em 1991.

O início dos anos 1980 foi um ponto decisivo.

O programa de ajuste estrutural do FMI e do Banco Mundial foi imposto na África subsaariana. As fomes recorrentes de 1980 e 1990 são em grande parte as consequências da "economia de recuperação" do FMI e do Banco Mundial.

Na Somália, dez anos de economia de recuperação do FMI jogaram o país numa economia desarticulada e no caos.

No final dos anos 1980, depois de recorrentes "medidas de austeridade" impostas pelo consenso de Washington, os salários no setor público caíram a três dólares mensais.

Tradução e edição de Glauber Ataide
Fonte: Global Reserach
Fonte:
*palavraseimagens 

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