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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 31, 2011

A sublimação de Hugo Chávez

Uma das coisas mais interessantes nos seres humanos é a sua limitação e finitude.
Alguns não a percebem. Outros, descobrem que a vida- um valor tão negligenciado, sobretudo quando se vive em meio a relações de poder – é algo inestimável e o ponto inicial e final de tudo o que fazemos.
Notaram algo na foto que ilustra este post?
Sim, Chávez apareceu de camisa amarela dada por suas filhas,  em lugar da vermelha que costuma revezar com seu uniforme militar, numa celebração que reuniu uma multidão em frente ao Palácio de Miraflores, sede do governo do país.
E ele próprio, no discurso, explicou o porque.
“”Por que temos sempre que usar uma camisa vermelha? O mesmo vale para a palavra ‘socialismo”.
E lamentou que a classe média venezuelana e os pequenos empresários do país não se sintam incluída no projeto socialista que lidera no país.
A BBC diz que eleafirmou lamentar que haja, por parte deles, a percepção de que pequenos negócios serão dominados pelo estado.
“Temos que garantir que ninguém acredite nisso. Temos que convencê-los do nosso projeto real, do fato de que precisamos desse setor e reconhecemos sua contribuição”, disse.
O presidente venezuelano pediu aos seus seguidores que mudem o grito de guerra “patria livre ou morte”, e o substituam por “pátria socialista e victoria. Viveremos e venceremos”
“Peço que pensemos essa palavra, morte (…) Aqui não há morte, aqui há vida”.
Claro que a direita dirá que é tudo marketing do chavismo, face às eleições do ano que vem.
Ela costuma pensar Chávez como um homem pequeno, de cérebro miúdo e aparência tosca, morena e grosseira.
E, por isso, ele a vence, há mais de uma década, em sucessivas disputas eleitorais.

A “cartilha” neoliberal na cabeça da mídia

O Ministro Guido Mantega não é das pessoas mais exuberantes do falar.
Mas os entrevistadores do Estadão foram tão radicalmente “mercadistas” que ele deu um banho na matéria publicada ontem.
Este diálogo, se não tivesse sido preproduzido pelo próprio jornal, seria inacreditável:
Estadão: O Banco Central vem seguindo essa cautela com juros com esses aumentos bem baixinhos da Selic, de 0,25%?
Mantega: Bem baixinho? É a mais alta do mundo! Aumentou 1,5 ponto porcentual. Qual foi o país que aumentou isso?Não tem nada de baixinho.
Impressionante que quatro jornalistas de um dos maiores jornais do país se refiram como “baixinhos” aos aumentos de juros no Brasil.
A cabeça do jornalismo econômico brasileiro “está feita”.  Eles só ouvem e crêem no “mercado”.
Apesar disso, a entrevista é muito boa por revelar a segurança que o Ministro da Fazenda transmite, neste momento de ameaças.
Afinal, ele tem mais informações do que qualquer um de nós sobre a situação  de nossas contas e revela ter muitas das opiniões que aqui tem sido debatidas.
E não demonstra, hora alguma, ter o pulso alterado pela ameaça de crise.

Não tentem pegar a Dilma por aí

A reportagem exibida ontem pelo Jornal Nacional é um primor de “urubologia”.
Com uma edição digna de programa eleitoral do PSDB, com números negativos exibidos em computação gráfica e imagens de obras supostamente paradas.
Numa tentativa de transformar o sucesso em fracasso, não há uma palavra sobre 89% das obras monitoradas  estarem em ritmo adequado, enquanto 8% estão em estado de atenção, 2% têm execução preocupante e 1% já foi concluído, até porque são obras pesadas, que não se fazem com um estalar de dedos. Esse é o número em valor, o critério mais adequado, porque não distorce o quadro, misturando pequenas obras com grandes projetos.
Em resumo: 90% está dentro do planejado e 10% apresenta problemas. Mas a Globo faz matéria apenas sobre os 10%.
Nem uma palavra sobre já estarem contratados R$ 25 bilhões para obras de saneamento, 87%  deles em obras cuja execução está em torno de 50% realizada.
Nem um segundinho para a informação de já entraram no sistema elétrico brasileiro 2 mil megawatts gerados por obras do PAC 2. Ou que 83% dos projetos de urbanização em áreas precárias estão em andamento, satisfatoriamente.
Mas muito tempo para o senador Alvaro Dias – aquele vice “viúva Porcina” de Serra, o que foi sem nunca ter sido – e para um economista da “Contas Abertas” (aquela mesmo cujos fundadores estiveram às voltas com os problemas panetônicos do Governo de José Roberto Arruda, no Distrito Federal.
A gente posta aí em cima o vídeo da apresentação feita pela Ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para você ver, em detalhes, o que a emissora não deu. Quem quiser ter acesso ao balanço completo, pode acessá-lo aqui.
A Globo, por aí, vai sangrar na veia da saúde do Governo Dilma.
Porque ela pode ter defeitos, mas um deles certamente não é o de ser incapaz ou tolerante com atrasos e incompetência na gestão de projetos.
Mas isso tem dois aspectos bons.
O primeiro, que a Globo pode distorcer a realidade, mas não é capaz de revogá-la.
O segundo, o de que está se encarregando de mostrar que a comunicação do governo não pode ser baseada no que a grande mídia chama de “liberdade de expressão”, que é ela falar sozinha.
Quem sabe assim o pessoal de lá se convence de que precisa falar claro, mostrar os fatos e dar à imensa rede de solidariedade ao projeto que Dilma os meios para combater a “urubologia” global?

*Tijolaço

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