Às margens da BR-060, o crescimento é chinês
Às margens da BR-060, o crescimento é chinês
A expansão do eixo Brasília-Goiânia coloca a região como o 3º maior aglomerado urbano do país. O pib ao longo da rodovia soma R$ 230 bilhões. De cada R$ 10 gerados em riqueza pelo Centro-Oeste, R$ 7 estão à beira do trecho
O trecho da BR-060 entre Brasília e Goiânia é o espelho do desenvolvimento de uma região que cresce a taxas chinesas, avança pelo Planalto Central e se consolida como o maior mercado do país fora do eixo Rio-São Paulo. As riquezas produzidas no caminho que divide dois centros consumidores em franca expansão já respondem por um Produto Interno Bruto (PIB) estimado em R$ 230 bilhões, em valores atualizados. É como se cada quilômetro da rodovia movimentasse mais de R$ 1 bilhão. O montante representa em torno de 6% do PIB do Brasil e quase 70% do PIB da região Centro-Oeste.
Cerca de 9 milhões de pessoas vivem hoje ao longo dos 209km do eixo Brasília-Anápolis-Goiânia. A soma supera o número de habitantes das regiões metropolitanas de Porto Alegre e Recife e faz do corredor a terceira maior aglomeração do Brasil. Segundo projeções demográficas, a população deve mais que dobrar em 20 anos e alcançar, em 2030, o total de 20 milhões de pessoas. Especialistas preveem que a malha urbana entre as capitais federal e de Goiás se entrelace em uma velocidade assustadora nos próximos anos.
Ao longo da última semana, o Correio percorreu a rodovia em toda a sua extensão e constatou o crescimento econômico do eixo. Aos poucos, os municípios goianos de beira de estrada ganham vida própria e se livram do estigma de cidade-dormitório. Alexânia, a 60km do centro de Brasília, se prepara para receber em março do ano que vem o segundo shopping do país exclusivamente com outlets de lojas de grife. Não há mais lotes disponíveis ao lado do terreno onde o empreendimento será erguido.
Abadiânia, 28km adiante, no caminho de Goiânia, assiste a uma invasão cada vez maior de estrangeiros que chegam para conhecer a Casa Dom Inácio de Loyola, onde o médium João de Deus atende uma média de 1,5 mil visitantes por dia. O aumento da frequência de voos internacionais em Brasília impulsionou o movimento no centro espiritual. Euro e dólar viraram moedas correntes na cidade. Pousadas e restaurantes estão sempre cheios e a procura por imóveis nas redondezas só aumenta.
Distante 53km da capital goiana, Anápolis conquistou independência e vive sua melhor fase econômica. O PIB local saiu de R$ 2,15 bilhões, em 2002, para
R$ 7,80 bilhões, no ano passado. As 22 mil toneladas de cargas que passam pelo Porto Seco Centro-Oeste todo mês ajudam a explicar o salto de 262% no período. O polo industrial anapolino reúne 130 empresas, incluindo multinacionais dos segmentos automobilístico e farmacêutico. Todas estão em processo de expansão.
Comércio de base
A duplicação da rodovia, concluída em 2008 após 20 anos de obras, aqueceu o desenvolvimento. Entre Brasília e Goiânia, o viajante já tem à disposição pelo menos 20 pontos de parada. De
olho no potencial consumidor provocado por um fluxo de 60 mil carros por dia, postos de combustíveis ampliam a área comercial e pequenas residências se transformam em restaurantes e empórios. Moradores vendem de panela de alumínio a móveis rústicos, passando por frutas típicas da região.
Redes nacionais e até internacionais de hotéis despertaram interesse em se instalar no eixo. Focado principalmente no Lago Corumbá IV, o mercado da pesca e do turismo rural ferve ao redor da BR-060. Propriedades rurais também se destacam. Mora em uma fazenda perto de Alexânia, por exemplo, a vaca zebuína recordista mundial em produção de leite. De alambiques pertencentes ao mesmo município, saem cachaças distribuídas para o país inteiro.
A conurbação entre as duas capitais é encarada como processo natural e inevitável. “Não há como ser diferente. Necessariamente, temos de pensar na expansão econômica nesse trecho. Caso contrário, as pessoas continuarão vindo para Brasília com a ilusão de encontrar aqui o que procuram”, pondera o secretário de Desenvolvimento Econômico do DF, Jacques Pena. O desenvolvimento ao longo da BR-060 pode amenizar o inchaço do Entorno da capital federal, com criação de emprego e renda.
Os governos do DF e de Goiás vislumbram há décadas as possibilidades na região. A falta de políticas públicas integradas, no entanto, nunca permitiu um desenvolvimento mais eficaz. “Temos uma cidade com a maior renda per capita do país, uma Goiânia com qualidade de vida e o maior distrito industrial do Centro-Oeste no meio do caminho. Não há o que discutir: somos um eixo de sucesso”, diz o secretário de Indústria e Comércio de Goiás, Alexandre Braga.
Na última década, diversos estudos destacaram o potencial do eixo Brasília-Goiânia. Em 2004, a Federação das Indústrias do DF (Fibra) concluiu um deles. “Essa região cresce naturalmente. Com um pouco mais de atenção, cresceria muito mais, de maneira mais veloz e ordenada”, afirma o presidente da Fibra, Antônio Rocha. Ele reforça que há um grande número de investidores internacionais dispostos a desembarcar no corredor.
Para o economista da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg) Cláudio Henrique de Oliveira, o problema, ao contrário do que se espera, é que as duas unidades da Federação competem entre si na atração de empresas e incentivos fiscais. “Cada um pensa em si. Não há uma política industrial continuada que valorize as potencialidades. Não se pensa no todo”, critica. Este ano, os setores produtivos do DF e de Goiás voltaram a se reunir para discutir projetos em comum.
Radiografia
9 milhões
Total da população que inclui
todos os municípios e áreas
rurais entre Brasília e Goiânia
R$ 230 bilhões
PIB do eixo Brasília-Goiânia,
em valores atualizados
70%
Participação do eixo Brasília-Goiânia
no PIB do Centro-Oeste
6%
Participação do eixo Brasília-Goiânia
no PIB do Brasil
Cerca de 9 milhões de pessoas vivem hoje ao longo dos 209km do eixo Brasília-Anápolis-Goiânia. A soma supera o número de habitantes das regiões metropolitanas de Porto Alegre e Recife e faz do corredor a terceira maior aglomeração do Brasil. Segundo projeções demográficas, a população deve mais que dobrar em 20 anos e alcançar, em 2030, o total de 20 milhões de pessoas. Especialistas preveem que a malha urbana entre as capitais federal e de Goiás se entrelace em uma velocidade assustadora nos próximos anos.
Ao longo da última semana, o Correio percorreu a rodovia em toda a sua extensão e constatou o crescimento econômico do eixo. Aos poucos, os municípios goianos de beira de estrada ganham vida própria e se livram do estigma de cidade-dormitório. Alexânia, a 60km do centro de Brasília, se prepara para receber em março do ano que vem o segundo shopping do país exclusivamente com outlets de lojas de grife. Não há mais lotes disponíveis ao lado do terreno onde o empreendimento será erguido.
Abadiânia, 28km adiante, no caminho de Goiânia, assiste a uma invasão cada vez maior de estrangeiros que chegam para conhecer a Casa Dom Inácio de Loyola, onde o médium João de Deus atende uma média de 1,5 mil visitantes por dia. O aumento da frequência de voos internacionais em Brasília impulsionou o movimento no centro espiritual. Euro e dólar viraram moedas correntes na cidade. Pousadas e restaurantes estão sempre cheios e a procura por imóveis nas redondezas só aumenta.
Distante 53km da capital goiana, Anápolis conquistou independência e vive sua melhor fase econômica. O PIB local saiu de R$ 2,15 bilhões, em 2002, para
R$ 7,80 bilhões, no ano passado. As 22 mil toneladas de cargas que passam pelo Porto Seco Centro-Oeste todo mês ajudam a explicar o salto de 262% no período. O polo industrial anapolino reúne 130 empresas, incluindo multinacionais dos segmentos automobilístico e farmacêutico. Todas estão em processo de expansão.
Comércio de base
A duplicação da rodovia, concluída em 2008 após 20 anos de obras, aqueceu o desenvolvimento. Entre Brasília e Goiânia, o viajante já tem à disposição pelo menos 20 pontos de parada. De
olho no potencial consumidor provocado por um fluxo de 60 mil carros por dia, postos de combustíveis ampliam a área comercial e pequenas residências se transformam em restaurantes e empórios. Moradores vendem de panela de alumínio a móveis rústicos, passando por frutas típicas da região.
Redes nacionais e até internacionais de hotéis despertaram interesse em se instalar no eixo. Focado principalmente no Lago Corumbá IV, o mercado da pesca e do turismo rural ferve ao redor da BR-060. Propriedades rurais também se destacam. Mora em uma fazenda perto de Alexânia, por exemplo, a vaca zebuína recordista mundial em produção de leite. De alambiques pertencentes ao mesmo município, saem cachaças distribuídas para o país inteiro.
A conurbação entre as duas capitais é encarada como processo natural e inevitável. “Não há como ser diferente. Necessariamente, temos de pensar na expansão econômica nesse trecho. Caso contrário, as pessoas continuarão vindo para Brasília com a ilusão de encontrar aqui o que procuram”, pondera o secretário de Desenvolvimento Econômico do DF, Jacques Pena. O desenvolvimento ao longo da BR-060 pode amenizar o inchaço do Entorno da capital federal, com criação de emprego e renda.
Os governos do DF e de Goiás vislumbram há décadas as possibilidades na região. A falta de políticas públicas integradas, no entanto, nunca permitiu um desenvolvimento mais eficaz. “Temos uma cidade com a maior renda per capita do país, uma Goiânia com qualidade de vida e o maior distrito industrial do Centro-Oeste no meio do caminho. Não há o que discutir: somos um eixo de sucesso”, diz o secretário de Indústria e Comércio de Goiás, Alexandre Braga.
Na última década, diversos estudos destacaram o potencial do eixo Brasília-Goiânia. Em 2004, a Federação das Indústrias do DF (Fibra) concluiu um deles. “Essa região cresce naturalmente. Com um pouco mais de atenção, cresceria muito mais, de maneira mais veloz e ordenada”, afirma o presidente da Fibra, Antônio Rocha. Ele reforça que há um grande número de investidores internacionais dispostos a desembarcar no corredor.
Para o economista da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg) Cláudio Henrique de Oliveira, o problema, ao contrário do que se espera, é que as duas unidades da Federação competem entre si na atração de empresas e incentivos fiscais. “Cada um pensa em si. Não há uma política industrial continuada que valorize as potencialidades. Não se pensa no todo”, critica. Este ano, os setores produtivos do DF e de Goiás voltaram a se reunir para discutir projetos em comum.
Radiografia
9 milhões
Total da população que inclui
todos os municípios e áreas
rurais entre Brasília e Goiânia
R$ 230 bilhões
PIB do eixo Brasília-Goiânia,
em valores atualizados
70%
Participação do eixo Brasília-Goiânia
no PIB do Centro-Oeste
6%
Participação do eixo Brasília-Goiânia
no PIB do Brasil
DIEGO AMORIM
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