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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 17, 2011

Exagero? De quem?

É discutível a questão dos benefícios ao consumidor e da concorrência entre as montadoras instaladas aqui – que mal ou bem geram emprego e, embora importando muito, movimentam a cadeia produtiva interna – mas a nossa imprensa parece estar tomada de um furor concorrencial quase bélico.
Tendo Miriam Leitão como “Joana D’Arc” (perdão, Joana), apelam à OMC para derrubar o “furor protecionista” de nosso Governo. É bom lembrar que, e muito corretamente, a propriedade de meios de comunicação no Brasil também tem seus mecanismos protecionistas, por outras razões. Econômicas ou culturais, as razões que um país tem para proteger-se são justas, se isso não implica exclusão total das influências ou produtos externos.
E não é que num destes areoubos internacionalistas, a Folha acaba apelando para um exemplo que desnuda todo o exagero com que o tema está sendo tratado? veja o que se publica sob o título Para gerente de loja de carros de luxo, governo “exagerou”:
A decisão do governo de elevar em 30 pontos percentuais o IPI para carros importados amargou o café de Breno Floriano, 32, gerente comercial de uma loja de veículos de luxo em Ribeirão Preto (303 km de São Paulo).
Segundo ele, o aumento do imposto vai encarecer em até R$ 300 mil os custos de importação de um veículo.
O Rolls Royce Phanton que acabou de comprar, por exemplo, vai custar R$ 1,309 milhão, ante os R$ 1,010 milhão previstos inicialmente.
Ribeirão Preto é reconhecida com um dos principais polos de consumo de carros de luxo do país. “Com esse custo a mais, vai ficar difícil vender carros importados. Acho que governo exagerou na medida”, disse.
Exagero, desculpe, é achar que o direito de comprar com imposto reduzido um Rolls-Royce Phanton de R$ 1 milhão deva se sobrepor aos interesses da economia nacional. Até porque quem quer este Maria Antonieta sobre rodas que está na foto do post, pode e deve pagar bastante imposto pelo seu luxo. Aliás, já paga, porque um gerente de loja ter um carro desses é sinal que a loja salga e muito no preço.
Se quer fazer economia, tem carro brasileiro para isso. Se quer ser esnobe, passe no caixa.
 *Tijolaço

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