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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 09, 2012


O BRICS AVANÇA



 do Mauro Santayana
Ignorado e desvalorizado pela mídia “ocidental”, que só noticia sua existência quando das cúpulas presidenciais, o grupo BRICS, que reúne o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, se prepara para  promover  verdadeira revolução no mercado financeiro internacional.
Reunindo alguns dos maiores credores dos EUA - com 378 bilhões de dólares em reservas internacionais, o Brasil é o seu terceiro maior credor - o grupo  se organiza para criar o seu próprio banco mundial e a sua própria agência de qualificação de riscos.
Eles se cansaram de esperar pelas reformas do FMI e do Banco Mundial, que lhes dariam mais poder e cotas dentro daquelas organizações, e decidiram atuar em conjunto para superar a crise. Na semana que vem, será realizada em Tóquio  mais uma reunião dos países membros do Fundo Monetário Internacional. Mas os países do BRICS não esperam qualquer avanço nos debates pela reforma da instituição, já que os Estados Unidos a isso se opõem.
Em ano eleitoral, o Presidente Barack Obama não quer dar pretextos à crítica dos republicanos,  dando a impressão que os EUA estariam dispostos a ceder mais espaço de poder para os BRICS na mais conhecida – até agora – organização financeira do planeta.
Nada disso, no entanto, muda o fato de que o apego ao poder dos Estados Unidos e da Europa nos organismos internacionais está cada vez mais distante da situação geopolítica real.
Para o “mercado”, manda quem tem dinheiro, e, se os EUA e a Europa estão cheios de dívidas, por causa de guerras como as do Iraque e do Afeganistão, e de anos de hedonismo e de consumo irresponsável, o dinheiro agora está nas mãos da China e do BRICS como um todo.
Os membros do grupo tem um perfil de dívida baixo e não devem quase nada ao Exterior, comparando-se aos países do G-7, (Brasil, 13% de dívida externa, 35% de dívida líquida total – contra 55,5% em 2002) e já detêm, com  pouco mais de 4.3 trilhões de dólares, quase 50% das reservas internacionais do planeta.
No dia 15 de agosto realizou-se na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, a primeira reunião do Grupo de Trabalho sobre a criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS.
No dia 26 de setembro, um fórum de especialistas do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul, se reuniu em Chongqing, na China e ali foi discutida a idéia de se criar uma agência de qualificação do grupo, como alternativa às agências de classificação ocidentais, que não souberam prever a crise de 2008, nem a que eclodiu este ano.    
Nesta semana, em Tóquio, os ministros das finanças do BRICS voltarão a reunir-se, à margem do encontro do FMI. Da pauta deverá constar a troca de reservas, em caso de eventual necessidade de financiamento externo, e a criação do Banco do BRICS, cujo capital inicial, segundo anuncia a imprensa internacional, poderá chegar a 50 bilhões de dólares.

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