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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 15, 2012

Pesquisa britânica recomenda descriminalizar uso de drogas

Para órgão que aconselha o governo, não haverá aumento no consumo de tóxicos no país



Folha da cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha
Foto: DAVID MCNEW / AFP
Folha da cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha DAVID MCNEW / AFP
RIO - Um estudo de seis anos da Comissão de Políticas de Drogas do Reino Unido (UKDPC, na sigla em inglês) concluiu que o uso e a posse de pequenas quantidades de drogas deveriam ser descriminalizados. Segundo detalhes do relatório do órgão, divulgados nesta segunda-feira pelo jornal britânico “Guardian”, a iniciativa não iria aumentar o consumo de drogas ilícitas e poderia contribuir para enfraquecer o tráfico de tóxicos.
A pesquisa foi realizada por cientistas, policiais e acadêmicos que contribuem com o UKDPC, um grupo independente que aconselha o governo britânico. Os especialistas afirmam que punições criminais impostas a 42 mil pessoas condenadas ao ano por posse de pequenas quantidades de drogas poderiam ser substituídas por penas civis, como pagamento de fiança e introdução a tratamentos contra o vício.
O estudo também afirma que impor sanções mínimas e ou nenhuma punição àqueles que plantam maconha para uso próprio pode ajudar a combater o tráfico e o crescimento de plantações controladas pelo crime organizado.
Apesar de recomendar a descriminalização do uso, o relatório condena qualquer movimento radical em direção à legalização das drogas, afirmando que permitir a venda legal de substâncias, como heroína e cocaína, poderia causar mais danos à sociedade do que a existência do narcotráfico.
O levantamento também afirma que os números sobre o uso de drogas no Reino Unido caíram nos últimos anos, mas que ainda são muito maiores que em muitos outros países europeus. O governo britânico registra um média de 2 mil mortes por ano pelo uso de drogas e 380 mil incidentes relacionados a dependentes químicos.
A comissão critica de forma radical a atual política antidrogas do Reino Unido, considerando que a abordagem é “simplista em considerar que todo o uso de drogas é problemático”, falhando em “reconhecer que problemas relacionados a drogas estão ligados à exclusão social”, segundo o “Guardian”. O relatório também afirma que a maior parte dos 3 bilhões de libras (cerca de US$ 4,8 bilhões) usados por ano no combate às drogas ilícitas é desperdiçado em políticas que não são rentáveis.
No mês passado, a ministra do Interior britânica, Theresa May, afastou qualquer movimento relacionado à descriminalização do uso de drogas, afirmando que a decisão traria mais problemas para o governo, salienta o “Guardian”.

Leia mais sobre esse assunto em http://ogrobo.globo.com/mundo/pesquisa-britanica-recomenda-descriminalizar-uso-de-drogas-6399673#ixzz29PcN5Rjt

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