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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 25, 2012


Alunos denunciam câmeras espiãs no bandejão; USP diz que são para ‘monitorar fluxo das refeições’



A foto maior, à esquerda, mostra o quadro que tinha as câmeras ocultas.No alto, à direita, o “furo” na tela que escondia uma câmera. Abaixo, ela instalada

por Conceição Lemes

Há pouco mais de três semanas estudantes, professores e funcionários da USP, na Cidade Universitária, foram surpreendidos com uma denúncia: a reitoria havia instalado, escondidas atrás de quadros no saguão do bandejão central, microcâmeras.
Na hora do jantar desse mesmo dia, as câmeras foram removidas.

A reitoria não deu qualquer explicação nem sobre a colocação nem sobre a retirada dos equipamentos de vigilância. E várias perguntas da comunidade uspiana continua sem respostas, entre as quais estas:
*Por que ela não foi informada previamente da instalação das câmeras?
* Em que outros lugares da Cidade Universitária as pessoas (visitantes e a comunidade da USP) estão sendo vigiadas sem serem informadas?
* O que foi feito com as imagens obtidas durante o tempo em que elas funcionaram sem serem descobertas?
*A instalação das câmeras foi feita por iniciativa da própria reitoria? Se não, quem são os responsáveis?
Assustados com o caso e mais ainda com o silêncio que se seguiu (dentro e fora da USP), um grupo de alunos de graduação em Jornalismo e de pós-graduação em Ciências da Comunicação, resolveu “solicitar informações sobre a instalação das câmeras espiãs dentro do restaurante universitário”.

“Em razão da gravidade dos fatos, imaginávamos que seriam investigados por algum dos órgãos internos da Universidade, especialmente por sua Comissão de Ética, para apuração dos responsáveis e esclarecimento do ocorrido”, diz o grupo de alunos em e-mail enviado ao Viomundo.  “Como não verificamos qualquer movimento nesse sentido, nós resolvemos agir. Fazendo uso da Lei de Acesso à Informação e do Decreto Estadual nº 58.052/12, encaminhamos três pedidos à Reitoria da USP, por meio do Serviço de Informações ao Cidadão – SIC, do governo do Estado.”

Os três pedidos de esclarecimentos foram encaminhados no dia 10 de novembro. Eles  podem ser acompanhados AQUI. Números dos protocolos: 6675012240868159122409 e 70274122411.

USP: CÂMERAS SÃO PARA “ACOMPANHAR O FLUXO E MANTER O ABASTECIMENTO DAS REFEIÇÕES” 

Esta repórter contatou a assessoria de imprensa da reitoria da USP, para saber: 1) Foi a reitoria que determinou a instalação dessas câmeras?; 2) Qual o objetivo delas?; 3) Por que estavam escondidas?; 4) O que a reitoria vai fazer com as imagens obtidas?

Resposta da assessoria de imprensa,via e-mail:

A Superintendência de Assistência Social informa que duas câmeras foram instaladas à entrada do Restaurante Central com a única e exclusiva finalidade de acompanhar o fluxo e manter o abastecimento das refeições, visando a melhor atender à comunidade uspiana. Em razão da demanda crescente de usuários no Restaurante, torna-se necessário monitorar o tempo e o fluxo contínuo para servir as refeições. Cartazes com essas informações estão sendo afixados no local para informar os usuários.

 A reitoria da USP tem até dia 30 para responder os três pedidos de esclarecimentos feitos pelo grupo de alunos. Eles acreditam que a reitoria vá usar o prazo por inteiro, aproveitando o final do ano e as férias, que invariavelmente esfriam esse tipo de questão.
“Caso a reitoria se recuse a fornecer as informações requeridas, retarde deliberadamente ou forneça intencionalmente informações incorretas, incompletas ou imprecisas, o reitor será processado por improbidade administrativa”, antecipa o grupo. “Será também nos termos da Lei de Acesso à Informação e art. 11 da Lei nº 8.429/92.

Em tempo 1. Esses alunos não fazem parte de nenhum coletivo conhecido da universidade. Atemorizados pelo fato, eles estavam conversando sobre o fato e  resolveram arregaçar as mangas. Os nomes dos signatários constam dos requerimentos; apenas não querem que seus dados sejam amplamente divulgados.
Em tempo 2. Se a finalidade era somente monitorar o fluxo de abastecimento das refeições, por que esconder as câmeras atrás das telas? E se não havia realmente nenhuma outra intenção, como fichar os alunos, por que elas foram removidas tão logo a denúncia veio a público?

*cappacete

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