Inglaterra investiga crimes de imprensa; no Brasil, não pode:
por Rodrigo Vianna
O escândalo percorre as páginas de jornais, revistas e sites ligados à velha mídia brasileira: o
relator (um deputado petista) da CPI do Cachoeira teve o desplante de
pedir indiciamento de jornalistas que teriam ligação com o bicheiro;
entre eles, Policarpo Jr, da revista “Veja”.
O
país, as liberdades, a democracia estão em risco! Isso é coisa dos
“radicais” do PT (e, por acaso, ainda os há?), inimigos da imprensa
“independente”.
Sim,
sim… É preciso explicar melhor a público tão dileto: colunistas,
editorialistas, comentaristas de rádio e TV dizem que se trata de
“revanchismo” do PT.
Hoje
mesmo, pela manhã, ouvi numa rádio paulistana um veterano jornalista
estrebuchando de raiva: “nesses partidos de esquerda há muita gente
revanchista”. Ele não quer um colega investigado… Aliás, no mesmo
comentário apoplético, berrava também o veterano contra “esse
blá-blá-blá” de lembrar a superação do racismo no Brasil, toda vez que
se fala em Joaquim Barbosa. Menos mal que tenha sido prontamente
apartado por outro comentarista, bem mais jovem: “há racismo, sim, basta
olhar em volta, existem quantos negros trabalhando com você?”; e disse,
ainda, o jovem comentarista - ”tem muito revanchista de direita
também”.
Hum…
Onde estão os revanchistas? Aqueles que perderam 3 eleições
presidenciais, perderam a batalha das quotas raciais, e não conseguiram
convencer o país que Bolsa-Família era “bolsa esmola”? Esses seriam os
revanchistas? Usam a velha mídia e a tribuna do Judiciário para a
revanche? É o que lhes resta, diria dona Judith Brito (dirigente da
ANJ, Associação Nacional de Jornais), ao lembrar já em 2010 que, dada a
fragilidade dos partidos de oposição, a imprensa
se transformava oficialmente em oposição (esquecendo-se, ela, do papel
que o Judiciário também poderia gostosamente encenar, como vemos agora).
Curiosa guerra de palavras. Não tínhamos ingressado numa “nova fase” do país, depois do julgamento do “Mensalão”? Agora, não haveria mais lugar para proteger poderosos! Agora, as instituições mostravam força para punir “poderosos”! Certo?
Mais ou menos. Jornalistas não podem ser, sequer, investigados.
Banqueiros não podem ser algemados (lembram? era “Estado policial”?), e
tucano não deve ser investigado de forma muito enfática (seria de mau
gosto…). O Procurador-geral que sentou em cima da investigação do caso
Cachoeira também não pode ser fustigado. Não! Tudo isso seria
”revanchismo”, bradam os colunistas e comentaristas.
Vamos combinar, então, as regras nesse novo país, refundado após o “Mensalão”:
- investigar e punir petistas, sindicalistas, partidos de esquerda em geral = Combate à impunidade
- investigar e punir tucanos, jornalistas e procuradores/juízes = Revanchismo.
Quanto a
empresários e banqueiros, analisemos caso a caso. Dependendo de quem
estiver ao lado deles em ações judiciais ou investigações, pode se
tratar de “Revanchismo” ou “Combate à impunidade”. Separemos o joio do
trigo. Com rigor.
Só assim, conseguiremos fazer do velho Brasil um novo país!
Na
caquética Inglaterra (como se sabe, um país dominado por bolivarianos
revanchistas), jornalista e imprensa podem – sim!!!! – ser investigados.
Mais que isso, na Inglaterra (país dominado por petistas mensaleiros e
inimigos da imprensa livre), ninguém acha estranho que a imprensa seja
regulamentada. Sim. É o que se discute, lá, depois do escândalo
estrelado por Robert Murdoch.
*Mariadapenhaneles
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