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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 24, 2012

os pesos da imanência





somos os jesuses e a academia é a cruz.

começo a fazer aquela força toda,
como se fosse mexer o globo terrestre sem a ajuda de nenhum amigo.
no 1-2-3 você ainda pensa que pode...
depois do 4-5-6 você já começa a perder a esperança.
então uma bunda passa, dura como um osso, gostosa, florida, fluida,
mas ela será dos trogloditas, 
que tem braços maiores que a minha coxa. 

O Obama reeleito, 
o primeiro negro e


ncabeçando o STF, 

os gols da rodada...

tudo acontece nas notícias da televisão enquanto você é uma formiga operária erguendo um peso de merda.
7-8-9...
a coisa começa a fritar, foder, TRUCIDAR, ESTILHAÇAR o pobre músculo,
como se enfiassem uma lâmina crua na sua carne mais crua ainda.
você sabe que as mesas de bar estão cheias de gente feliz entornando o caneco, 

chopp, jack daniels com duas de gelo, caipirinhas à beira-mar.
nos motéis os caras estão metendo e olhando a bunda das namoradas no espelho do teto.
as famílias brincam com suas crianças no tapete da sala.
e você ali, com aquele PROGRAMA DE EXERCÍCIOS,
3 séries de 10, 12, 15 repetições

um verdadeiro cardápio de autotortura consentida, 

feito por um computador filho da puta que NÃO te conhece, 

que NÃO sabe o tamanho tua preguiça, 

ou do quanto você acha LENTO aquele processo, 

do quanto você sabe que está sendo SABOTADO pela obrigação da "saúde" ou da "boa forma" 

(boa forma de trepar com as bunda-osso)
no 10-11-12, inevitavelmente se comete uma espécie de suicídio.
é um último suspiro antes da morte, 

uma dor de parto, 

um esmagador de dedo de bruxas na idade média.
a hipoglicemia e a fraqueza reclamam.

um rosto PÁLIDO no espelho que é o meu.
os livros estão todos lá, esperando por olhos.

o exercício do abstrato é dolorido, mas é como uma função já exercida.

em vidas pregressas nunca fiz academia, é alguma coisa que não sei.

então eu resolvo a questão com simplicidade: 

mando aquele peso todo pro INFERNO.
o natal está aí, o fim de ano.

vou encher o rabo de carne de porco, lentilha,

fios de ovos, aquela cereja sem vida da decoração, 

peru e e arroz à grega,

cervejas em comemoração ao papai noel.

e em janeiro, se o mundo não acabar, eu resolvo esse coma com a imanência.


*entrehermes

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