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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 03, 2013

Índios no museu, só embalsamados 

 

Via Diario Liberdade

“O que não faltam são declarações oficiais reconhecendo que os índios formam o povo original das terras americanas. Mas isso não leva a qualquer respeito por suas terras e tradições. Os grandes empreendimentos capitalistas e os governos governados por eles só aceitam os indígenas como peça de antiguidade. Nos museus, sim, mas embalsamados.”
Sergio Domingues

Em 22/03, muita gente acompanhou ao vivo e em cores a violência com que foi tratado um grupo de indígenas na Aldeia Maracanã, na capital carioca.

O Batalhão de Choque invadiu o antigo Museu do Índio com a orientação de sempre: se o problema é povo revoltado, pode baixar a porrada.

As cenas são de uma covardia óbvia. Mas a grande imprensa teimou em culpar a intransigência dos índios pelo episódio vergonhoso. Só admitiu "ouvir o outro lado" quando seus profissionais também passaram a ser agredidos. Mesmo assim, timidamente.

O que aconteceu no Maracanã trouxe para o meio de uma cidade grande aquilo que acontece com muito mais frequência e silêncio nos sertões do País: o uso das forças de segurança para assegurar os negócios de empresários bilionários. E a cumplicidade das autoridades diante dos massacres cometidos por jagunços.

Os indígenas sofrem um racismo diferente. Os negros devem se comportar como brancos porque ficou estabelecido que não há discriminação de cor no País. Já os indígenas, precisam reafirmar sua condição o tempo todo. Devem parecer típicos, pitorescos, diferentes. Ficar longe da tecnologia e dos costumes de origem branco-europeia.

O que não faltam são declarações oficiais reconhecendo que os índios formam o povo original das terras americanas. Mas isso não leva a qualquer respeito por suas terras e tradições. Os grandes empreendimentos capitalistas e os governos governados por eles só aceitam os indígenas como peça de antiguidade. Nos museus, sim, mas embalsamados.
*GilsonSampaio

Um comentário:

  1. O que aconteceu no Maracanã teve pouco a ver com índios de verdade. Os índios que de fato eram índios presentes no local foram trazidos da região centro-oeste por partido emergente e suas ongs. A ocupação, que só começou quando foi anunciada a Copa do mundo no Brasil, tendo o RJ como uma das sedes, tinha a única finalidade de criar um evento politico com o objetivo de divulgar partido, desgastar governo e criar oposição à Copa. O Museu já não era museu há 35 anos, só havia um prédio que não era tombado em estado de degradação, depois que a secretaria de abastecimento se mudou de lá. A idéia era ampliar o movimento até que não houvesse um modo de retirar ninguém de lá. Como se sabe, bens públicos não estão sujeitos a usucapião (embora tenham vivido moradores de rua ali durante alguns anos). Conseguiram que o prédio não seja demolido, mas não conseguiram tomá-lo na marra, que era o que de fato davam a impressão de querer. A força policial levou um dia inteiro, depois de uma longa batalha com o MPE/RJ atuando como correia de transmissão do partido, para conseguir remover, mesmo com um mandado e ordem judicial. Só lamento, porque nada disso era necessário. Os que trouxeram os índios de longe sequer se ocuparam de sua manutenção: após sua retirada do museu (eram a minoria, no grupo), não lhes garantiram casa e comida, ou retorno imediato a sua região. O mesmo se deu na Rio + 20, quando a ong ligada ao mesmo partido emergente serviu comida estragada aos índios que trouxe de regiões centrais do país. Acho errado usurparem a identidade de um povo, como fazem. Não sou fã do Cabral, mas sinto-me no dever de trazer um pouco de esclarecimento a essa questão. Morei no Maracanã e lá não havia índios. Minha irmã ainda mora lá, visito-a frequentemente. Minha avó deu aulas no antigo museu, antes que ele fosse transferido para Botafogo.

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