Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 03, 2013

Marcha da Maconha distribui drogas no centro de São Paulo


O movimento Marcha da Maconha distribuiu drogas legalizadas como tabaco, álcool, açúcar e energético no centro de São Paulo nesta terça-feira 2 de abril. Eles protestavam contra o projeto de uma nova lei de drogas que está pronto para votação no plenário da Câmara dos Deputados. Segundo a polícia, cerca de 120 pessoas participaram da manifestação.

Durante a manifestação, no Viaduto do Chá, região central de São Paulo, os organizadores distribuíram bebidas alcoólicas, cigarros, chás e doces. Foto: Marcelo Camargo/ABr
Durante a manifestação, no Viaduto do Chá, região central de São Paulo, os organizadores distribuíram bebidas alcoólicas, cigarros, chás e doces. Foto: Marcelo Camargo/ABr

Cigarros, trouxas de açúcar, cachaça, chimarrão, conhaque e outros produtos foram colocados no viaduto do Chá. Lá, as pessoas poderiam pegá-los gratuitamente. Substâncias ilícitas não foram distribuídas no local.

A militante e jornalista Gabriela Moncau, de 23 anos, disse que a ideia era escancarar a “hipocrisia das políticas sobre drogas”, que, segundo ela, não é baseada em critérios de saúde ou de segurança pública. “A guerra as drogas define algumas que podem e outras que não podem ser consumidas. Esse critério não tem nada a ver com saúde, tem a ver como questões políticas e econômicas,” diz Moncau.

Moncau diz que o movimento adotou um formato irônico para gerar mais curiosidade sobre o assunto.  “No momento em que distribuímos álcool, queremos chamar a discussão que ele é uma das drogas mais prejudiciais e que mais causam malefícios. Atinge muito mais pessoas, por exemplo, que o crack. No entanto, ele é estimulado, naturalizado e tem até propaganda.”

“Projeto de lei é retrocesso”

O grupo organizador da Marcha da Maconha critica o projeto de lei do deputado Osmar Terra (PMDB-RS), que está pronto para ser votado no plenário da casa. Segundo o movimento, a proposta é um retrocesso, pois “mantém a falta de critérios para diferenciar usuário e traficante, dando margem a interpretações subjetivas e preconceituosas.”
Entre os pontos criticados do projeto está a criação de um Cadastro Nacional de Usuários da Droga. Para o movimento, isso aprofundaria o preconceito já sofrido pelos usuários.

O projeto também deve aumentar o número de encarcerados no país, já que estabelece penas maiores para quem portar substâncias com “alto poder de causar dependência”.
Outro ponto criticado na lei é o aumento do investimento em equipamentos privados e religiosos. Para os militantes “trata-se da privatização da saúde e de violação do estado laico”.
*Cappacete

Nenhum comentário:

Postar um comentário