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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, abril 14, 2013


Por André Ortega

O líder norte-coreano Kim Jong Un conquistou uma vitória em sua luta contra os Estados Unidos no recente momento de tensão na Península Coreana. Após chocante demonstração de força, a Casa Branca recuou em sua postura agressiva temendo que isto poderia "inadvertidamente" desencadear uma crise ainda mais profunda, segundo o "The Wall Street Journal".  Retirando os aviões F-22, B-2 e os temidos B-52 (capazes de transportar armas atômicas) dos céus coreanos, os EUA voltaram atrás em seu roteiro pré-estabelecido de exercícios militares na Coreia do Sul, mostrando a eficiência da estratégia norte-coreana e sua capacidade de dissuadir a grande potência. É certo que os avisos da Coreia do Norte ecoaram em Washington e é provável que tal postura tenha sido influenciada pelos recentes encontros do Comitê Central do PTC (Partidos dos Trabalhadores da Coreia), encontros onde se deu ênfase em avançar ainda mais o projeto atômico.

Figura reverenciada pela população em geral, Kim Jong Un certamente se reafirmou como líder frente os alto dirigentes de seu país. Vítima de dúvidas no exterior devido sua pouca idade e subida ao poder aparentemente frágil, Kim Jong Un frustrou as expectativas daqueles que esperavam um líder fraco ou reformador. Invulnerável perante a pressão americana, Kim Jong Un mostrou a força da própria liderança e mostrou sua "vocação de sangue", já que seu avô, Kim Il Sung, combateu a invasão japonesa desde os 15 anos de idade, também muito jovem. Apesar da abordagem norte-coreana ter sido correta, em muitos aspectos Kim Jong Un somente emulou o gênio diplomático de seu antecessor, Kim Jong Il, que no passado forçou os EUA a mesa de negociação através de sua política nuclear. Esse acontecimento derruba o mito da "invencibilidade" e "liberdade total" da política externa norte-americana, assim como refuta as mentes simples que falaram a "loucura norte-coreana" ou que zombaram das "ameaças" de Kim Jong Un como provocações infantis. A política norte-coreana de louca não tem nada, é muito racional, responde a imperativos pragmáticos e é um movimento calculado.

As recentes tensões na península coreana vem preocupando o mundo com o fantasma de um novo embate militar. O conflito vem desde a década de 50' e se deve a ocupação militar norte-americana na Coreia do Sul, necessária para a manutenção dos interesses econômicos e geopolíticos dos EUA na região. Do outro lado, a Coreia do Norte é governada por um regime socialista que em sua fundação tomou uma série medidas de caráter popular, como a reforma agrária, a nacionalização de propriedades dos antigos invasores japoneses e a reorganização da vida política em linhas democráticas através das forças que libertaram o país e de organizações de massa como sindicatos. No entanto, o país passou por duras dificuldades por causa da guerra e sanções, com uma disciplina rígida que se mantém graças a mobilização de massas e a direção do Partido dos Trabalhadores da Coreia. Se o país fosse dividido e o povo desorganizado, sem esse sistema político e tendo que se basear exclusivamente na repressão militar, o regime provavelmente não sobreviveria a estas dificuldades.

Essa é certamente uma ótima notícia para os amantes da paz de todo o mundo e para todos aqueles que temiam a explosão de um novo conflito militar. É claro que isso não é a paz, mas se os Estados Unidos realmente querem a paz, então deveriam retirar suas tropas da península e acabar essa guera que já vem sendo travada há mais de meio século.
*centrodosocialismo

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