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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, abril 05, 2013

Mandante do assassinato do casal de extrativistas no Pará é absolvido



Da Agência Estado
O júri popular absolveu José Rodrigues Moreira, apontado pelo Ministério Público como mandante da morte do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, em maio de 2011 no assentamento Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará.
O mesmo júri condenou a 42 anos e oito meses o irmão dele, Lindonjonson Silva Rocha, por ter armado a emboscada, e Alberto Lopes Nascimento, a 45 anos, como autor do duplo homicídio. Após a sentença, lida pelo juiz Murilo Lemos Simão, a promotoria anunciou que vai recorrer da decisão.

Representantes de movimentos sociais e sindicalistas, que há dois dias montaram acampamento em frente ao fórum, protestaram contra a decisão, fechando a rodovia Transamazônica e apedrejando o fórum onde foi realizado o julgamento. A polícia reprimiu a manifestação, formando uma barreira em torno do prédio, para evitar invasão.

Os depoimentos das testemunhas de acusação, que relataram detalhes sobre as ameaças que José Cláudio e Maria vinham sofrendo, além das provas apresentadas pela perícia do Instituto Renato Chaves em uma máscara de mergulho na qual foram encontrados fios de cabelo dos dois condenados, pesaram na decisão dos jurados, apesar de a defesa deles ter tentado desmontar a tese de homicídio duplamente qualificado.

A testemunha Nilton José Ferreira de Lima contou que conversava com um amigo em uma área próxima do local onde ocorreu o crime quando apareceram dois homens em uma motocicleta que o abordaram perguntando onde ficava a saída do terreno em direção à estrada mais próxima. "Eu apontei a saída e eles foram embora", disse Lima, acrescentando ter estranhado o fato de os dois homens estarem usando capacetes, o que não é comum nos motociclistas do interior do Pará. Pouco tempo depois, disse ter tomado conhecimento da morte do casal.

O juiz perguntou se Lima seria capaz de reconhecer os ocupantes da moto e ele respondeu que sim, apontando o dedo para Lindonjonson Rocha, sentado no banco dos réus. As outras testemunhas contaram que o casal recebia ameaças de fazendeiros da região e citaram o nome de José Rodrigues como um dos envolvidos.

Os promotores de Justiça Danyllo Colares Pompeu e Bruna Rebeca Paiva de Moraes sustentaram que o crime foi motivado pelo interesse de José Rodrigues no lote de terra que ele havia adquirido de maneira irregular no assentamento Praialta-Piranheira. O lote era ocupado por uma pessoa que tinha o apoio do casal para permanecer na área. O acusado de ser o mandante do crime havia dito para várias pessoas que, se perdesse a terra, "isso iria sair muito caro para os líderes do assentamento". Os jurados, porém, entenderam que não havia provas contra José Rodrigues.

Para os advogados de defesa, a mídia e as organizações não governamentais agiram de forma tendenciosa, fazendo com que os réus parecessem culpados. E atacaram os laudos da perícia, afirmando que havia muitas contradições. Alegaram ainda que, se fosse para fazer justiça, os três acusados deveriam ser absolvidos. Eles insistiram que o casal havia gravado vídeos em que relatava ameaças de fazendeiros, madeireiros e carvoeiros da região, mas nunca citaram o nome de José Rodrigues.
*Mariadapenhaneles

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