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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 03, 2013

Regulamentação da mídia: o PT quer, a Dilma quer. Quando na política real a vontade política não basta


por Paulo Jonas de Lima Piva


Não é fácil governar. Criticar quem governa, por ouro lado, é muito, mas muito fácil. A esquerda sabe disso. Criticar é seu oficio. Aliás, qualquer um é capaz de criticar. Uns com mais inteligência, outros com menos. E nem sempre quem critica com mais inteligência é o mais lúcido e sensato em suas críticas. Qualquer um tem solução para todos os problemas políticos, econômicos e sociais. Acham que vencer uma eleição, chegar a um prefeitura ou a uma presidência da república é sinônimo de adquirir poderes absolutos. É prefeito, pode tudo. Se não faz é porque não quer. Simples assim.
Muitos partidos que se dizem de esquerda, mesmo na prática funcionando como cabos eleitorais da pior direita, nunca foram governo de fato, nunca pegaram um rojão de um executivo na mão. Por isso deliram como deliram, esbravejavam como esbravejam, arrogam como arrogam, teorizam como teorizam, pois o compromisso desses partidos não é com o real e com o simulacro, mas sim com o conceito, com o ideal, com a teoria, a fábula da utopia, enfim, com o paradigma .

Nossa visão de poder e de política é muito livresca, muito idealista, muito teórica, muito classe média universitária, muito alienada, a priori e moralista. Há um intelectualismo deslumbrado, embevecido e neopetencostal, que se crê onipotente, que se diz "dialético"(?!), mas que só sabe negar, dizer que tudo está uma bosta, que nada avançou, e fugir por meio de uma lógica formal para o mundo confortável das teorias e dos discursos de teletubies. Por isso acaba no sectarismo, como piada.

O PT quer sim a regulamentação da mídia. A militante de esquerda Dilma quer isso mais do que ninguém. Ninguém sofre mais com o jogo sujo do oligopólio das comunicações do que o seu governo. A democratização da mídia por meio da sua regulamentação é uma necessidade explícita, porém, para satisfazê-la, é preciso força política, muita força política, não só para enfrentar os setores poderosos que não a querem, mas para vencê-los. O fato é que, apesar de toda vontade política do PT e da presidenta, a regulamentação da mídia como projeto aprovado no Congresso é uma briga que o governo Dilma não tem munição para encarar. A bancada dos meios de comunicação é enorme, dá sustentação ao governo e brigar com ela pode representar uma crise na base governista, pois o que não falta é disposição dessa máfia para fazer dos seus noticiários campos de linchamento contra o PT e o governo federal caso seus interesses sejam feridos.

A Carta Capital e a blogosfera de esquerda estão fazendo o seu papel de pressionar o governo e o ministro Paulo Bernardo para declarar guerra à máfia midiática brasileira. Acontece que se o PT e  a esquerda tivessem uma bancada forte no Congresso, ou se as grandes massas organizadas das quais tanto fala a extrema esquerda estivessem lotando as ruas, a regulamentação, a essa altura, já estaria aprovada. Infelizmente, essa realidade ainda não existe. Confrontar, declarar guerra sem ter a capacidade de ganhá-la, é fanfarronice suicida. Em outras palavras, na política real, na política que acontece fora dos livros encantados e encantadores da Boitempo, não basta vontade política.

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