exige-se uma retratação
Marcelo Rubens Paiva
Nesta
semana, na cerimônia de entrega de parte dos arquivos do DOPS-SP
digitalizados, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, apareceu com o
novo secretário particular, o advogado Ricardo Salles, que já disse
coisas como “felizmente tivemos uma ditadura de direita no Brasil”.
Ele já concorreu duas vezes, a deputado federal e estadual, pelo PFL e depois pelo DEM, mas não conseguiu se eleger.
Minha
colega do ESTADÃO, Júlia Duailibi, lembrou ontem no jornal: Salles é
fundador do radical Instituto Endireita Brasil, que, na rede social,
entre outras pérolas, como criticar o casamento gay e a Comissão da
Verdade, já publicou que Dilma é uma terrorista. Segundo o analista
Glauco Cortez: “Salles cuidará de toda a agenda do governador do estado
mais rico do País. Aparentemente uma função burocrática, mas o fato é
que, com essa nomeação, o político tucano instala, dentro do Palácio dos
Bandeirantes, um movimento que exala obscurantismo.”
Mas a declaração mais chocando embrulha o estômago de muitas famílias vítimas da Ditadura, como a minha.
Segundo o
assessor do governador de SP: “Não vamos ver generais e coronéis acima
dos 80 anos presos por crimes de 64, se é que esses crimes ocorreram.”
Sim, crimes ocorreram.
Nem
precisamos citar a extensa biografia à respeito, nem os testemunhos
colhidos há décadas, no projeto TORTURA NUNCA MAIS, da Igreja Católica.
Nem depoimentos de gente das fileiras do partido do governador, como FHC
e José Serra, que foram exilados pela ditadura, ou da liderança e base
tucana que foi torturada.
Sou
testemunha viva. Eu e minhas irmãs. Vimos nossa casa no Rio de Janeiro
ser invadida por militares armados com metralhadoras em 20 de janeiro de
1971.
Vimos meu pai, minha mãe e irmã Eliana serem levados.
Minha mãe ficou 13 dias presas no DOI/Codi, sem que o Exército reconheça ou tenha feito qualquer acusação.
Meu pai
entrou no quartel do II Exército e não saiu vivo de lá. Também não
sabemos o motivo da prisão, a acusação. Não entendemos as negativas
posteriores de que estivesse preso.
Abaixo, documentos que provam que, sim, crimes ocorreram.
Em nome da decência, exigimos uma retratação do secretário e um pedido de desculpas do Governo do Estado.
Que está onde está graças aos que lutaram e derramaram vida pela redemocratização do País.
DOCUMENTO DE ENTREGA À MINHA TIA RENNÉ PAIVA DO CARRO QUE MEU PAI DIRIGIU ESCOLTADO ATÉ A PRISÃO
DOCUMENTO DA ENTRADA DELE NO DOI, DESCOBERTO RECENTEMENTE EM ARQUIVO DO EX-CHEFE, CORONEL REFORMADO JOSÉ MIGUEL MOLINA
ATESTADO DE ÓBITO DE 1996, 25 ANOS DEPOIS
DO DESAPARECIMENTO, POSSÍVEL GRAÇAS À LEI DE RECONHECIMENTO DOS
DESAPARECIDOS POLÍTICOS, ENVIADA PELO PRESIDENTE FHC AO CONGRESSO
Nenhum comentário:
Postar um comentário