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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, abril 08, 2013

TATCHER – Uma herança maldita para o Brasil

 

 

Vitima de derrame, a dama de ferro, como era conhecida Margareth Tatcher, faleceu neste dia 08 em Londres.
Seu legado político é bastante controverso. Amada e odiada, era uma liderança incontestável da direita européia e foi defensora ferrenha do neoliberalismo.
Foi premiê do Reino Unido de 1979 a 1990 e sua obra deixou males que se espalharam pelo mundo com rapidez: privação social, opressão de sindicatos, confronto com opositores de forma dura e implacável, como no episódio da Guerra das Malvinas. Em resumo, governou de modo tão conservador que seu próprio partido, o Partido Conservador!, voltou-se contra ela e a retirou do poder.
Sua forma de ver a economia era voltada exclusivamente ao protecionismo do capital. Gerou desemprego e queda da produção industrial na Inglaterra mas nunca desamparou os banqueiros. Seu processo político de privatizações e culto ao livre mercado foi determinante para que alguns países, o Brasil inclusive, adotassem medidas conservadoras drásticas e danosas.
Sobretudo no período de governo do PSDB, na figura de FHC, o Brasil experimentou o remédio mais amargo que Tatcher criou: a economia foi atirada no colo do mercado, empresas públicas tradicionais foram privatizadas depois de saneadas com dinheiro público, o desemprego aumentou na proporção do crescimento da dívida interna e externa, apesar da entrada de recursos da venda de Estatais, a taxa básica de juros crescente era mantida para atender os banqueiros e a população, ora, permanecia estagnada, pobre e sem perspectivas.
Passadas duas décadas desde a queda de Tatcher, depois que parte do mundo ocidental abusou de venerar o livre mercado, vimos Nações de joelhos implorando recursos ao FMI e tendo que, em troca, adotar medidas ainda mais drásticas na área econômica, com corte de programas sociais e elevação da taxa de juros. Os resultados foram desastrosos principalmente para os países menos desenvolvidos da América Latina.
Hoje, ao abandonar as teorias malucas do neoliberalismo, o Brasil e parte importante do mundo capitalista descobriu nova fórmula de crescimento: participação direta do Estado na economia com intervenções pontuais e injeção de capitais. É hilário ler, por exemplo, como certos veículos de comunicação resmungam sobre o déficit em conta corrente do governo, sobre aumento das despesas de custeio e de pessoal. Reclamam que o governo gasta muito ...
Mas não vemos xororô da midia fundamentalista quando o governo dos EUA coloca, mensalmente, quase 90 bilhões de dólares na economia com o objetivo de incentivar o consumo e a geração de emprego; não vemos os “analistas” dizendo que é errado o Japão expandir sua base monetária em quase 1,5 trilhão de dólares para fazer frente ao baixo crescimento.
Seria um escândalo a intervenção do governo do Brasil na economia na época FHC, ditado pelas regras de austeridade da Dama de Ferro. Ou foi um escândalo manter a pobreza e a miséria do jeito que estavam?
Felizmente, isso mudou.
E, por certo, as novas gerações de Primeiros Ministros do Reino Unido aprenderam que tudo o que Margareth Tatcher produziu foi aumentar ainda mais a diferença entre ricos e pobres. Lá e no resto do mundo neoliberal. 
Ela morreu, e tomara que morra com ela a teoria da concentração de renda.
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