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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, agosto 22, 2015

Músico é agredido por segurança do metrô e passageiros se revoltam

Músico é agredido por segurança do metrô e passageiros se revoltam

Funcionário deu socos no rosto da vítima, que tocava flauta transversa na estação Botafogo, no último dia 14

DIEGO VALDEVINO
Rio - A viagem para alegrar passageiros do metrô e ganhar alguns trocados teve desfecho violento para um músico no Rio. Carlos Adriano Oliveira, de 27 anos, que tocava flauta transversa de bambu, foi agredido por um segurança do metrô, dentro da estação de Botafogo, na Zona Sul, no último dia 14.
O rapaz conta que levou socos no rosto e foi arrastado pelos pés na estação. “Fui espancado e, por pouco, não caí nos trilhos. O segurança estava transtornado. Antes da agressão, me chamou de mendigo e palhaço”, disse o músico, que também é ator.
Vídeo mostra Carlos Adriano ferido, sendo amparado por outro segurança. Passageiros hostilizaram agressor.
Foto:  Reprodução Vídeo
A atitude do agressor gerou revolta entre passageiros e, por pouco, ele não foi linchado. O segurança foi identificado como Felipe, que seria campeão estadual de judô. Carlos estava na Linha 2 e seguia para a Estação General Osório (Ipanema). O caso foi registrado na 10ª DP (Botafogo) como lesão corporal e injúria. Testemunhas foram ouvidas e o caso, encaminhado ao Juizado Especial Criminal.
Vídeo que circula nas redes sociais mostra o músico com ferimentos no rosto e passageiros discutindo com funcionários do metrô. O clima fica tenso após uma longa discussão. Alguns hostilizam seguranças: “Covarde! Deu um porradão (sic) na cara do cara”, gritou, indignado, um rapaz dentro da estação lotada. Já uma mulher reclama na escada rolante: “Que absurdo!”.
Vídeo:  Artista é agredido por segurança do Metrô em Botafogo
O também músico Igor Teilelroit, 32, disse que amigos de Carlos Adriano — que em suas páginas do Facebook compartilham o vídeo com as imagens da confusão — prometem fazer uma manifestação na próxima semana, dentro da estação. “Faremos um cortejo musical para deixar claro que não podemos ser tratados como vagabundos”.
O MetrôRio informou que o funcionário foi identificado e ‘desligado’ da empresa. A concessionária esclareceu ainda que “não são admitidos desvios de comportamento e que seus funcionários são treinados para prestar um bom atendimento aos usuários”. Ainda segundo a empresa, músicos que se apresentam dentro de estações e vagões “são convidados a se retirar do sistema sempre que algum usuário reclame” e que “esse procedimento está respaldado legalmente". 
Igor (de azul) organiza ato de apoio ao músico Carlos, ferido no metrô
Foto:  Divulgação
Registro na delegacia e processo
O dia a dia de quem ganha a vida no metrô não tem sido fácil para músicos que se apresentam em estações e vagões. Segundo eles, as abordagens às vezes são agressivas. A prática é regulamentada em países como Argentina e Inglaterra, mas é proibida no Brasil.
“Ameaçam a gente, nos intimidam. Os seguranças agem com truculência. Nos chamam de vagabundo. O dinheiro arrecadado na apresentação é dividido entre os músicos”, lembrou Igor Teilelroit, que trabalha no metrô há três anos e coleciona problemas com seguranças.
“Já levei duas gravatas em Botafogo, uma na General Osório e um chute nas costas em Triagem, em dezembro do ano passado. Fiz um registro na delegacia e entrei com um processo contra o MetrôRio”, contou o músico, indignado.
Procon autua concessionária

O Procon Estadual, ligado à Secretaria de Estado de Proteção e Defesa do Consumidor, autuou nesta sexta-feira a concessionária Metrô Rio. Na avaliação da autarquia, mesmo a conduta do músico sendo irregular, não havia justificativa para uma reação tão desproporcional e violenta.

A autuação destaca que o Artigo 6º, § 1º, da Lei 8.987/1995 estabelece que um serviço adequado é aquele que satisfaz, entre outras condições, a de cortesia na sua prestação. E, ainda que o segurança do Metrô tenha sido demitido após a agressão, o fornecedor do serviço é responsável pelos atos dos seus funcionários, de acordo com o Artigo 34 do Código de Defesa do Consumidor.
O Metrô Rio terá 15 dias úteis, contados a partir do recebimento da notificação, para apresentar a sua defesa. Caso o prazo não seja cumprido ou os argumentos não sejam aceitos pelo setor jurídico do Procon Estadual, a concessionária será multada.

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