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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 22, 2012

Discurso de Raúl Castro na Rio+20

 DISCURSO PROFERIDO PELO PRESIDENTE DOS CONSELHOS DE ESTADO E DE MINISTROS DA REPÚBLICA DE CUBA RAÚL CASTRO RUZ NA CÚPULA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Sra. Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff:
Sr. Secretário Geral das Naçoes Unidas, Ban-Ki Moon:
Excelências:
Há 20 anos, a 12 de junho de 1992, neste mesmo local, o líder histórico da Revolução cubana Fidel Castro Ruz expressou e cito: “Uma importante espécie biológica está em risco de desaparecer pelo rápido e progressivo acabamento das suas condições naturais de vida: o homem”. Fim da citação.
O que pôde ter sido considerado como alarmista, hoje é uma realidade irrefutável. A incapacidade de transformar modelos de produção e consumo insustentáveis atenta contra os equilibrios e a regeneração dos mecanismos naturais que sustentam as formas de vida no planeta.
Os efeitos não podem ser ocultados. As espécies desaparecem a uma velocidade cem vezes mais rápida do que as indicadas nos registos fósseis; mais de cinco milhões de hectares de florestas perdem-se cada ano e cerca de 60 por cento dos ecossistemas estão degradados.
A pesar do que representou a Convenção da Nações Unidas sobre a Mudança Climática, as emissões de dióxido de carbono aumentaram 38 por cento entre 1990 e 2009. Agora vamos para um aumento da temperatura global que vai por em reisco, em primeiro lugar, a integridade e a existência física de numerosos Estados insulares em desenvolvimento e producirá graves conseqüências em Países da África, Ásia e América Latina.
Um profundo e detalhado estudo realizado nos últimos anos por nossas instituições científicas, coincide no fundamental com os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática e confirma que no presente século, de se manter as atuais tendencias, producir-se-á uma paulatina e considerável elevação do nível médio do mar no arquipélago cubano. A referida previsão inclui a intensificação dos eventos meteorológicos extremos, como os ciclones tropicais e o aumento da salinização das águas subterráneas. Todo isto terá sérias conseqüencias especialmente nas nossas costas, pelo que já iniciamos a adopção das medidas correspondentes.
Este fenómeno teria, igualmente, fortes implicações geográficas, demográficas e económicas para as ilhas do Caribe, que também devem encarar as iniqüidades dum sistema económico internacional que exclui aos pequenos e mais vulneráveis.
A paralisação das negociações e a falta de um acordo que permita parar a mudança climática global são um nítido reflexo da falta de vontade política e a incapacidade dos países desenvolvidos para atuarem conforme as obligações derivadas da sua responsabilidade histórica e sua posição atual.
Aumenta a pobreza, cresce a fome e a desnutrição e aumenta a desigualdade, agravada nas últimas décadas como conseqüência do neoliberalismo.
Durante estes vinte anos lançaram-se guerras de novo tipo,concentradas na conquista de fontes energéticas como a acontecida no 2003 com o pretexto das armas de exterminação maciça que nunca existiram, e a que recentemente se produziu no norte da África. Às agressões que agora se vislumbram continuar contra países do Oriente Médio somar-se-ão outras, com o objetivo de controlar o acesso à água e a outros recursos em vías de esgotamento.Deve se denunciar que tentar uma nova partilha do mundo, vai desencadear uma espiral de conflitos de incalculáveis conseqüências para um planeta já gravemente inseguro.
A despesa militar cresceu nestas duas décadas à astronómica cifra de 1,74 milhões de dólares, quase o dobro que em 1992, o que arrasta à corrida aos armamentos a outros estados que se sentem ameaçados. A dois decênios do fim da Guerra Fria, contra quem usarão estas armas?.
Deixemos as justificações e egoísmos e busquemos soluções .Esta vez, todos, absolutamente todos, pagaremos as conseqüências da mudança climática. Os governos dos países industrializados que atuam desta forma não deveriam cometer o grave erro de achar que poderão sobreviver um pouco mais às custas de nós. Seriam imparáveis as vagas de milhões de pessoas famintas e desesperadas do Sul para o Norte bem como a revolta dos povos perante tanta indolência e injustiça.
Nenhum hegemonismo então será possível. Que pare a pilhagem, que pare a guerra, avancemos para o desarmamento e destruamos os arsenais nucleares.
Temos a urgência duma mudança transcendental. A única alternativa é construir sociedades mais justas, establecer uma orden internacional mais eqüitativa, baseada no respeito ao direito a todos; garantir o desenvolvimento sustentável às nações, especialmente do Sul, e colocar os avanços da ciencia e a tecnologia ao serviço da salvação do planeta e da dignidade humana.
Cuba aspira a que se imponham a sensatez e a inteligencia humana sobre a irracionalidade e a barbárie.
Muito Obrigado
*GilsonSampaio

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