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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 20, 2012

Sobre o PT e Erundina: obrigado Maria Frô

 

 do Maria Frô
PT ‘expulsa’ Erundina pela segunda vez

Nunca me filiei ao PT, ou melhor aos 16 anos recebi uma filiação simbólica já que em princípio da década de 1980, antes da Constituição de 1988, menores de 16 não podiam votar ou se filiar a partido.
Mas o fato de não ser filiada nunca me impediu de fazer campanha desde a fundação, de torcer para o PT, de vibrar com as vitórias de Lula e Dilma e de me emocionar com a vitória de Luiza Erundina como a primeira prefeita do PT em São Paulo.
Sei que o PT dia a dia se torna cada vez mais pragmático e nos últimos dois anos chega a assustar o nível de concessões e alianças: cede para religiosos fundamentalistas e recua  nos direitos humanos: crescimento da homofobia sem reações concretas do governo federal; concessões e mais concessões ao vaticano e à bancada evangélica em relação aos direitos reprodutivos fazendo do nosso corpo uma moeda de troca política, distanciamento dos movimentos sociais…. a lista da realpolitik é longa.
Mas em São Paulo, parece-me que o PT é ainda mais complicado em seus paradoxos. O pragmatismo do PT torna quem é esquerda ideológica algo anacrônico. Hoje, chegou às raias da loucura: o PT, a chapa de Haddad e São Paulo perderam uma candidata dos movimentos sociais, uma pessoa íntegra, coerente e de luta e ficou com o pulha do Maluf.
Hoje me lembrei de 15 de novembro de 1988 quando, pela primeira vez, São Paulo elegeu uma prefeita oriunda de um partido de esquerda, esse partido era o PT.
Me lembrei também de 1 de janeiro de 1992. Ficamos todos em São Paulo em solidariedade a Erundina pra não deixá-la só na hora de transferir a faixa de prefeita ao procurado pela Interpol, Paulo Maluf, que havia derrotado Suplicy nas eleições. Nós não nos referíamos ao evento como ‘posse do Maluf’, mas ‘transmissão de cargo’.
Estava ao lado de Lélia Abramo quando a tropa de choque dos leões de chácara do Paulo Maluf chegou ao estilo dos gangsters. Lélia do alto de suas inúmeras décadas vividas nos dizia “Não aceitem provocações, desfralllllldem as suas bandeiras.”
Não adiantou, leões de chácara acostumados a  proteger gângsters não se preocupam com bons modos e empurraram violentamente Lélia que, ao cair, arranhou os joelhos a ponto de sangrarem. Minha gana era a de dar umas voadoras naquele bando de covardes. Mas perto daqueles bandidos legalizados éramos muito frágeis. Ajudei Lélia a se levantar e prometi a mim mesma que viveria pra ver a derrocada daquela política de coronéis.
Pouco depois,  por participar do governo de Itamar Franco, Erundina foi expulsa do PT, numa época em que o PT era avesso a alianças.
Hoje Erundina foi ‘expulsa’ pela segunda vez, expulsa pela realpolitik da luta pela hegemonia.
Hoje, o PT endossou Paulo Maluf que diz: “Não há mais direita e esquerda, o que há são segundos de TV”.
Hoje foi difícil não dar razão ao que diz o ‘comunista’ Paulo Maluf: “Quem mudou foi o PT. Perto do que o PT ajudou os banqueiros, eu, o industrial Paulo Maluf, me sinto comunista”
*Gilsonsampaio

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