Sobre o PT e Erundina: obrigado Maria Frô
do Maria Frô
PT ‘expulsa’ Erundina pela segunda vez
Nunca
me filiei ao PT, ou melhor aos 16 anos recebi uma filiação simbólica já
que em princípio da década de 1980, antes da Constituição de 1988,
menores de 16 não podiam votar ou se filiar a partido.
Mas
o fato de não ser filiada nunca me impediu de fazer campanha desde a
fundação, de torcer para o PT, de vibrar com as vitórias de Lula e Dilma
e de me emocionar com a vitória de Luiza Erundina como a primeira
prefeita do PT em São Paulo.
Sei que o PT dia a
dia se torna cada vez mais pragmático e nos últimos dois anos chega a
assustar o nível de concessões e alianças: cede para religiosos
fundamentalistas e recua nos direitos humanos: crescimento da homofobia
sem reações concretas do governo federal; concessões e mais concessões
ao vaticano e à bancada evangélica em relação aos direitos reprodutivos
fazendo do nosso corpo uma moeda de troca política, distanciamento dos
movimentos sociais…. a lista da realpolitik é longa.
Mas
em São Paulo, parece-me que o PT é ainda mais complicado em seus
paradoxos. O pragmatismo do PT torna quem é esquerda ideológica algo
anacrônico. Hoje, chegou às raias da loucura: o PT, a chapa de Haddad e
São Paulo perderam uma candidata dos movimentos sociais, uma pessoa
íntegra, coerente e de luta e ficou com o pulha do Maluf.
Hoje
me lembrei de 15 de novembro de 1988 quando, pela primeira vez, São
Paulo elegeu uma prefeita oriunda de um partido de esquerda, esse
partido era o PT.
Me lembrei também de 1 de
janeiro de 1992. Ficamos todos em São Paulo em solidariedade a Erundina
pra não deixá-la só na hora de transferir a faixa de prefeita ao
procurado pela Interpol, Paulo Maluf, que havia derrotado Suplicy nas
eleições. Nós não nos referíamos ao evento como ‘posse do Maluf’, mas
‘transmissão de cargo’.
Estava ao lado de Lélia
Abramo quando a tropa de choque dos leões de chácara do Paulo Maluf
chegou ao estilo dos gangsters. Lélia do alto de suas inúmeras décadas
vividas nos dizia “Não aceitem provocações, desfralllllldem as suas
bandeiras.”
Não adiantou, leões de chácara
acostumados a proteger gângsters não se preocupam com bons modos e
empurraram violentamente Lélia que, ao cair, arranhou os joelhos a ponto
de sangrarem. Minha gana era a de dar umas voadoras naquele bando de
covardes. Mas perto daqueles bandidos legalizados éramos muito frágeis.
Ajudei Lélia a se levantar e prometi a mim mesma que viveria pra ver a
derrocada daquela política de coronéis.
Pouco
depois, por participar do governo de Itamar Franco, Erundina foi
expulsa do PT, numa época em que o PT era avesso a alianças.
Hoje Erundina foi ‘expulsa’ pela segunda vez, expulsa pela realpolitik da luta pela hegemonia.
Hoje, o PT endossou Paulo Maluf que diz: “Não há mais direita e esquerda, o que há são segundos de TV”.
Hoje
foi difícil não dar razão ao que diz o ‘comunista’ Paulo Maluf: “Quem
mudou foi o PT. Perto do que o PT ajudou os banqueiros, eu, o industrial
Paulo Maluf, me sinto comunista”
*Gilsonsampaio
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