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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, dezembro 28, 2012

Um Rio Chamado Atlântico - A África no Brasil e o Brasil na África

Férias é tempo de descanso e de desligar a mente, mas também é uma ótima oportunidade para se colocar a leitura em dia.
Uma dica interessante para se aproveitar o tempo livre é o livro Um Rio Chamado Atlântico - A África no Brasil e o Brasil na África (Editora UFRJ), do diplomata, historiador e imortal Alberto da Costa e Silva, que mostra que a proximidade cultural existente entre Brasil e África é muito maior e profunda do que imaginamos.
Agora que tanto se fala em resgate histórico e valorização da cultura negra, tomar conhecimento que a relação entre os dois lados do Atlântico funcionava como uma espécie de via de mão dupla é uma questão de obrigação para nós, brasileiros, que continuamos a acreditar que somente nós recebemos influências do que vinha das margens orientais do segundo maior oceano do mundo.
Sinopse:
O livro reúne 20 ensaios sobre as relações históricas entre o Brasil e a África Atlântica. O autor desmitifica e ao mesmo tempo aprofunda a questão da vinda dos negros para o Brasil, mostrando, tanto no plano político quanto no cultural, as relações entre os dois países desde o século XVI até o século XIX. Mostra como o Brasil e África eram um mundo só. O que se passava de um lado influenciava o outro.
Na margem de lá - aspectos da arquitetura brasileira na África, história dos 19 escravos brasileiros que retornaram para África e formaram comunidades próprias. Influência do Brasil na África.
Na margem de cá - como era ser africano no Brasil. Tanto os escravos, como os negros que viveram aqui, livres. Haviam notáveis africanos que vinham para cá estudar no Brasil, não eram discriminados pois tinham dinheiro e andavam calçados. Eles próprios vinham para cá com cinco ou seis escravos, que iam vendendo a medida que precisavam de dinheiro. Muitos chefes africanos viviam no Brasil como exilados políticos.
O livro traz outra grande curiosidade, que é a importância e a presença expressiva de escravos muçulmanos no Brasil. Havia uma livreiro francês que lhes vendia o Alcorão e pequenas escolas corânicas no Brasil frequentadas por esses escravos. Esses muçulmanos se concentraram sobretudo na Bahia e no RJ.
Havia também intercâmbio de famílias que comercializavam de um lado para o outro.
É impossível entender a escravidão sem o conhecimento da história da África. Os africanos foram trazidos em decorrência de processos políticos. E muitos desses estudos do livro foram trabalhos apresentados pelo autor em colóquios de história da África nos EUA, Europa, alguns publicados em inglês. Nada é inédito, mas tudo é provocador diz o embaixador.
No Geografia e tal
*Comtextolivre

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