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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, março 04, 2012

Os juízes condenam as vítimas

Gravura do Livro dos Abraços
O Sistema 1
Eduardo Galeano, Livro dos Abraços
Os funcionários não funcionam
Os políticos falam mas não dizem
Os votantes votam mas não escolhem
Os meios de informação desinformam
Os centros de ensino ensinam a ignorar
Os juízes condenam as vítimas
Os militares estão em guerra contra seus compatriotas
Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os
As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados
O dinheiro é mais livre que as pessoas
As pessoas estão a serviço das coisas.

*Gerivaldo Neiva - Juiz de Direito

E AÍ, SÃO PAULO AINDA SERVE PARA VOCÊ?!


Para certos setores da classe média paulistana, toda tragédia é localizada, pontual e, em geral, a culpa é da vítima.

Morreu mais uma ciclista na Avenida Paulista. E, novamente, a reação das "pessoas de bem" está marcada por platitudes e hipocrisias, especialmente nos comentários do sites dos portais jornalísticos.

Quem se incomoda com incoerências e traquinagens políticas, lembra-se de um argumento folclórico de Sonia Francine para aderir ao neoconservadorismo fisiológico de Serra-Kassab.

Segundo ela, os dois iam criar em São Paulo uma super malha de ciclovias e humanizar o trânsito paulistano.

Obviamente, não ocorreu nada disso, exceto o benefício pessoal esperado pela veterana princesinha do oba-oba midiático.

O trânsito de São Paulo enrola-se cada vez mais. Os semáforos inteligentes são ainda raros, ao passo que as lombadas eletrônicas (instrumento caça-níqueis da máfia privada-pública) se multiplicam pela cidade, onde, agora, os carros se arrastam a 60 km até mesmo nas grandes avenidas.

Nessa lerdeza criminosa, pessoas perdem seus compromissos, pessoas perdem a lucidez e pessoas perdem a vida, a bordo de ambulâncias imobilizadas.

São Paulo é cada vez mais uma cidade pré-modernista, reprise da ignorância bandeirante e da ganância do baronato agro-industrial. É cada vez mais estúpida, azeda e intolerante.

Exibe cada vez mais a cara macilenta do (ex?) agente do CCC Boris Casoy e dos intelectuais de aluguel que, na grande mídia, são utilizados como soldados do retrocesso, inimigos da diversidade e da universalização de direitos.

São Paulo já não serve a quem pretende reproduzir a virtude antropofágica e tropicalista. Mas serve a quem pretende atropelar tudo e todos com SUVs de alta potência.

São Paulo já não serve aos artistas de rua, perseguidos e humilhados pela doutrina de higienização social tucano-demista. Mas serve aos esquadrões de jovens de "boa família" que agridem sem-teto nas praças e viadutos.

São Paulo já não serve à experiência de participação política em sua principal universidade, pois qualquer divergência é classificada como narco-insurreição. Mas serve a exercícios de guerra de uma polícia cada vez mais intolerante, agressiva e incapaz de compreender o rito civilizatório.

São Paulo já não serve mais ao altruísmo, considerado artifício político de vermelhos interessados em estimular a vagabundagem. Mas serve à construção de guetos suprematistas, de gente que odeia metrô ou que não admite nordestinos emergentes em seus supermercados.

São Paulo já não serve à inclusão, porque ela é carimbada como intromissão. Para a elite bandeirante, o emergente é um invasor, alguém que lhe subtrai privilégios. Para a "reação" paulistana, melhor é apartar, enviar essa gente para o outro lado do Tamanduateí, e que cruzem o rio somente quando vierem limpar pias e latrinas no reduto dos diferenciados.

São Paulo já não serve à miscigenação e ao ingresso do estrangeiro latinoamericano. Porque o cidadão "de bem" bandeirante, sempre bufando, sempre rabugento, tem receio de que descubram em sua árvore genealógica o avô imigrante miserável e a avó que torrava ao sol na colheita de café.

São Paulo resiste à alegria da Vila Madalena, à diversidade do Bom Retiro e à inclusão de Itaquera. Porque o cidadão de "bem" bandeirante não gosta de ver o júbilo alheio, não admite a comunhão da glória, tampouco a glória da comunhão.

São Paulo vem sendo condicionada a desejar mais do mesmo, de forma masoquista e, certamente, suicida. Quer mais escolas incapazes de ensinar, mais companhias de trânsito a travar-lhe a vida, mais máfias a explorar camelôs, mais indignações seletivas, mais controles arbitrários, mais rancor, mais dedos apontados para o nariz do outro, mais do mesmo.

Inimiga da dialética, São Paulo recusa-se a ver causas sistêmicas, mas compraz-se em desqualificar e criminalizar o outro. O paulistano de "bem" mostra-se sempre indignado, mas nunca se julga responsável.

São Paulo, a de cima, é pesada, gordurosa, velha e cheira mal. É ela que oprime a outra São Paulo, nossa, a que hoje nasce no subterrâneo, esta leve, limpa, re-modernista e perfumada.

Morreu uma ciclista, mais uma. Mas qual a culpa que você, paulistano, vai assumir em mais esta tragédia?


http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/03/02/ciclista-morta-na-avenida-paulista-era-biologa-e-trabalhava-no-hospital-sirio-libanes.htm
*GrupoBeatrice

R.R Soares salvará a RedeTV!?

Por Altamiro Borges

A tevê brasileira virou uma zorra total. Sem qualquer regulação, as emissoras cedem espaços nas concessões públicas para cultos religiosos e empresas de vendas. A última novidade neste terreno bichado foi anunciada nesta semana. O pastor R.R Soares, da Igreja Internacional da Graça, acaba de “comprar” uma hora na faixa nobre da RedeTV! – das 21h30 às 22h30.

Charge do Dia

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrxpYU8LfSOOJzgp1Op6ohi_KVRnO-bOru2MB0s2ZO3yJpzATliAKlGVa3oiUsTmx24zsksilQsReiJtA2SIMYYlJq_z8Da8TzxAXaLJccAFnWyluv6psA5ryi2sN1loSqmxVJBm1dVXqo/s1600/serra+mico+estados+unidos77.jpghttp://correiodobrasil.com.br/wp-content/uploads/2012/03/charge-privataria.jpghttp://1.bp.blogspot.com/-QykTlTIUOyk/T1LMa0cPypI/AAAAAAAAIwc/nLGEMznClzA/s1600/IranThreatsTheWorld.jpghttp://3.bp.blogspot.com/-1Oidaru0uRo/T1LS7JacLQI/AAAAAAAAIwk/mMN-r4Hvc18/s1600/utopolis_titanic_rgb.jpghttp://2.bp.blogspot.com/-_kgEBEJg5zE/T1JqRJUxxVI/AAAAAAAAIwU/hYUEkLF3d8o/s1600/malcolm_x.gifhttp://3.bp.blogspot.com/-lYUsflzms3s/T1JpY2w3RII/AAAAAAAAIwM/V8T0lPVo6aU/s1600/Charge+de+Jorge+Braga+para+O+Popular.jpghttps://fbcdn-sphotos-a.akamaihd.net/hphotos-ak-snc7/64097_3474574184275_1268793268_33516470_476751627_n.jpg

Crise não chega à indústria da morte

 

 

Do The Week
















A crise não atinge os fabricantes e vendedores de armas. Os negócios do sector atingiram em 2010 os 411 100 milhões de dólares, em alta um por cento em relação ao ano anterior, anuncia o SIPRI de Estocolmo.

No seu 29º relatório anual consecutivo, o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) conclui que a chamada "indústria da morte" continua a ser das mais florescentes e está imune às crises económicas mesmo em países onde os problemas económicos e financeiros se têm feito sentir, como é o caso das duas maiores potências do sector, Estados Unidos e Reino Unido.

No relatório que elabora anualmente desde 1989, o SIPRI publica o TOP 100 das empresas de armamento e em 2010 apurou que o volume de negócios anual necessário para entrar nesse clube de elite é agora de 640 milhões de dólares, quase triplicando a plataforma de 2002 – 280 milhões.

Estados Unidos e Europa Ocidental dominam o mercado das armas e também dos serviços militares, sector em alta. O SIPRI conclui que nos últimos anos a aquisição de empresas de serviços militares – formação, logística, apoio e manutenção - tem contribuído para o reforço do poder económico das empresas de armamento. O estudo do instituto de Estocolmo não inclui dados sobre empresas chinesas.

O relatório revela que as 44 empresas norte-americanas presentes no TOP 100 são responsáveis por 60 por cento do negócio total; as 30 da Europa Ocidental representam 29 por cento. O TOP 10 equivale a 56 por cento do volume de negócios global, cerca de 230 mil milhões de dólares.

O negócio das armas cresce a grande velocidade, de acordo com os números do SIPRI. O volume de negócios global dos membros do clube do TOP 100 cresceu 60 por cento entre 2002 e 2010.

A Lockeed Martin continua a ser a número 1 do ranking, com um volume de negócios em armas de 35 700 milhões de dólares em 2010, cerca de dois mil milhões em alta em relação a 2009, o que representa 78 por cento das vendas globais da empresa.

Não sendo número um – aparece em segundo lugar – a vedeta da lista é a britânica BEA Systems, que resultou em 1999 da compra da Britsh Aerospace pela Marconi Electronics. O ramo britânico do grupo é o segundo e o seu ramo norte-americano surge na zona do 6º/7º classificados. Somando os dois ramos, o grupo vendeu em 2010 aproximadamente 51 mil milhões de dólares de armamento, o que representa quase 100 por cento do volume de negócios global. Trata-se, em exclusivo, de um grupo de fabrico e comércio de armamento.

A primeira empresa do TOP 100 com bandeira da União Europeia é a European Aeronautic Defence and Space Company (EADS), que surge em sétimo lugar com vendas de armas no valor de 16360 milhões de dólares em 2010, mais 400 milhões que em 2009. O sector de armas representa 27 por cento do volume total de negócios da empresa.

O TOP 5 do SIPRI é constituído pela Lockheed, BEA Systems (britânica), Boeing, Northtrope e General Dynamics, norte-americanas excepto a segunda. Estas empresas venderam em conjunto, em 2010, armas no valor de 152 060 milhões de dólares, cerca de 3 500 milhões de dólares mais do que em 2009.
*Tecedora

A farsa na morte de Marighella

"Eu vi os policiais colocando o corpo no banco de trás do carro", revela o fotógrafo que registrou a imagem do guerrilheiro executado. Essa testemunha desmancha a versão dos militares para esconder como foi abatido o inimigo número 1 da ditadura
Alan Rodrigues, na IstoÉ
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MENTIRA E VERDADE
A primeira foto é a da versão oficial que o fotógrafo Sérgio Jorge foi obrigado a registrar. A segunda é uma nova reprodução feita por ele: um modelo foi usado para mostrar como estava Marighella antes da encenação policial
A primeira foto acima, à esquerda, correu o mundo depois da noite de 4 de novembro de 1969. Ela era vista como prova da iminente vitória do governo contra a oposição armada à ditadura militar brasileira. Carlos Marighella, 58 anos, o terrorista mais caçado do País, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização responsável por dezenas de assaltos a bancos e explosões de bombas, estava morto. Amigo de Fidel Castro, celebrado pela Europa como principal comandante da guerra revolucionária na América do Sul, Marighella tinha levado quatro tiros numa emboscada policial na alameda Casa Branca, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Segundo a versão dos militares, o guerrilheiro fora atraído para um “ponto” com religiosos dominicanos simpatizantes da ALN e trocara tiros com os agentes que varejavam o local do encontro. Um conceituado fotógrafo da revista “Manchete”, Sérgio Vital Tafner Jorge, então com 33 anos, fez o clique da câmara rolleiflex que registrou Marighella estirado no banco traseiro do fusca dos dominicanos. Barriga à mostra, calça aberta, dois filetes de sangue escorrendo pelo rosto.
“Foi tudo uma farsa”, revela agora à ISTOÉ Sérgio Jorge, que está com 75 anos. “Eu vi os policiais colocando o Marighella no banco de trás do carro”. Naquela noite, Jorge estava no Estádio do Pacaembu à espera dos melhores ângulos de um Corinthians x Santos quando ficou sabendo da morte do guerrilheiro. Ele abandonou o estádio antes mesmo de a notícia ser confirmada pelos alto-falantes do Pacaembu e recebida com um urro de comemoração pela torcida. Acompanhado de outros quatro fotógrafos, Jorge chegou à alameda Casa Branca pouco depois das 20 horas. O que ele viu ali – e foi proibido de documentar – era diferente do que aparece na famosa foto estampada depois nas páginas da “Manchete” e em dezenas de outras publicações. Jorge está decidido a contar para a Comissão da Verdade, que o governo federal vai instalar no próximo mês, a armação que testemunhou. Já foi pensando nisso que, no mês passado, com a ajuda de um amigo que serviu de modelo e um fusquinha emprestado, Jorge procurou reproduzir numa nova foto exatamente o que presenciou no dia 4 de novembro de 1969. O resultado é a segunda cena da página anteior, à direita: o amigo de Jorge, representando Marighella, ocupa o banco da frente do carro, numa posição distinta daquela que a polícia fez questão de espalhar. Eram os anos de chumbo e havia muita coisa para ser escondida.
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NO MESMO CENÁRIO
O fotógrafo Sérgio Jorge volta ao mesmo ponto da alameda Casa Branca para contar a armação que testemunhou
Os mais famosos retratos da ditadura começam a contar suas verdadeiras histórias. Sérgio Jorge ganhou coragem de revelar a farsa da morte de Marighella depois que o fotógrafo-perito Silvaldo Leung Vieira contou, no dia 5 de janeiro, ao jornal “Folha de S. Paulo” que sua foto do jornalista Vladimir Herzog morto nas dependências do DOI-Codi, em 1975, era – como já se sabia – uma encenação criada pelos militares. Vieira está atrás de uma indenização do Estado brasileiro, pois julga que teve prejudicada sua carreira de funcionário público. Já Sérgio Jorge quer apenas acertar contas com o passado. “Vi que tinha chegado a hora de contar. O Brasil mudou”, diz ele. Durante mais de 40 anos, Jorge remoeu os fatos daquela noite, que é capaz de reconstituir em detalhes. Ele e os outros fotógrafos, logo que chegaram à alameda Casa Branca, foram recebidos aos gritos pelo temido delegado do Dops, Sérgio Paranhos Fleury, o homem que comandou o cerco a Marighella. “Não quero ouvir um clique! Todos encostados no muro, com as máquinas no chão!”, ordenou Fleury. Ninguém ousou desobedecer. “Era uma loucura, ficamos vendo tudo aquilo acontecer sem poder registrar nada”, diz Jorge. Marighella estava no banco da frente, com uma perna para dentro do carro e outra para fora, os dois braços caídos e quase nada de sangue na roupa. Três policiais retiraram o corpo do fusca (veja reconstituição acima) e o deitaram na calçada. Abriram a calça de Marighella e revistaram seus bolsos. Tentaram, então, recolocá-lo no banco de trás. “Mas não conseguiam e foi preciso que um dos policiais desse a volta no automóvel e puxasse o corpo para dentro.” A ação durou cerca de 40 minutos até que os fotógrafos foram autorizados a fotografar. Chegando perto do carro, Sérgio Jorge pôde ver que havia uma pasta atrás do banco dianteiro e, sobre o assento de trás, uma peruca e uma capa.
Na presença de Sérgio Jorge e dos demais fotógrafos, os policiais, sem nenhum constrangimento, encenavam um número que viria a se tornar corriqueiro naqueles tempos: o teatro do confronto entre guerrilheiros urbanos e as forças da repressão. A ditadura no Brasil deixou um saldo macabro de 475 adversários mortos, 163 deles ainda desaparecidos. Foi a partir de 1969, o ano da morte de Marighella, que o regime militar ingressou em seu período mais duro e a eliminação de inimigos passou a ser regra. As execuções de militantes de esquerda, sem chance de prisão, tornaram-se tão comuns quanto os laudos fantasiosos de inquéritos policiais destinados apenas a escamotear uma política oficial de extermínio. No caso de Carlos Marighella, o esclarecimento de sua morte é especialmente problemático, pois existem pelo menos três versões conflitantes para ela. Primeiro há a versão dos militares, segundo a qual ele foi varado por uma rajada de metralhadora quando, do banco de trás do fusca dos dominicanos, reagiu a tiros a uma ordem de prisão do delegado Fleury. A perícia, entretanto, acabou concluindo que não saíra um tiro sequer da arma de Marighella. Desse modo, a tese da polícia parece não ser mais que um esforço para esconder a provável execução sumária do guerrilheiro, além de uma tentativa de driblar uma complicação extra do episódio: a suspeita de que, naquela noite, foi o fogo amigo que matou também uma jovem policial e um dentista alemão que casualmente passava pelo local no momento do tiroteio (outro delegado, um desafeto de Fleury, acabou baleado na virilha). A segunda versão é a dos dois frades dominicanos que a polícia usou como isca para Marighella. Em seu julgamento, os religiosos sustentaram que o guerrilheiro foi executado no meio da rua, longe do fusca em que eles estavam. Por fim, o Grupo Tortura Nunca Mais, em 1996, adotou as conclusões de um laudo em que legistas garantem que Marighella foi morto com um tiro no peito à queima-roupa, que seccionou-lhe a aorta, e alvejado ainda por outros três disparos.
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O CASO VLADO
O fotógrafo-perito que registrou a encenação do suposto suicídio de Vladimir Herzog também reconheceu a montagem
Carlos Marighella era autor do “Manual do Guerrilheiro Urbano”, um confuso texto de 50 páginas que jovens esquerdistas de todo o mundo liam como uma bíblia. Figura principal dos cartazes amarelos que a ditadura espalhava com retratos de terroristas, vinha sendo caçado pelo Dops e monitorado pela máquina de informações dos Estados Unidos. Um ano antes de sua morte, o consulado americano em São Paulo já informara seu governo sobre as relações de Marighella com os dominicanos. Agora, o depoimento exclusivo de Sérgio Jorge à ISTOÉ – e que ele se dispõe a prestar também à Comissão da Verdade, instituída pelo governo para esclarecer as mortes ocorridas durante a ditadura – poderá jogar uma nova luz sobre os fatos, embora ainda seja difícil fazer conjecturas sobre as intenções específicas dos policiais que transferiram o corpo de Marighella para o banco de trás do carro.
Sérgio Jorge foi o primeiro fotógrafo do País a ganhar o Prêmio Esso de Jornalismo. Ele conta que, quando chegou à redação da “Manchete” com a foto do cadáver de Marighella, teve o cuidado de relatar a seu chefe a armação que tinha visto. Ouviu como resposta que a versão de Fleury seria a definitiva e, sempre avesso à política, resolveu se calar. “Todo mundo me dizia para não me meter com essas coisas que era muito perigoso”, diz ele. O caso só voltou a perturbá-lo cinco anos atrás, no momento em que começou a selecionar fotografias para um livro em seu arquivo pessoal, com mais de 60 mil imagens. As fotos de Marighella não estão com ele: foram parar num arquivo da revista “Manchete”, recentemente leiloado. “Dos fotógrafos que estavam comigo naquele dia, só eu estou vivo. Cheguei à conclusão de que não posso levar para o túmulo a história verdadeira”, diz Sérgio Jorge. “Sempre tive muito medo, mas com a Comissão da Verdade acho que chegou a hora.”
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COMBATE
Há mais de quatro décadas, Simas denunciou a farsa
Nilmário Miranda, um dos representantes da comissão do Ministério da Justiça que, em 1996, responsabilizou o Estado brasileiro pela morte de Marighella, considera importante o depoimento de Sérgio Jorge. “Isso vai ajudar a Comissão da Verdade a regatar os fatos históricos”, diz ele. “Ao invés de suicídios, assassinatos cruéis. Ao invés de fugas da prisão, desaparecimentos forçados. Ao invés de tiroteios simulados, execuções à queima-roupa.” O advogado de presos políticos Mário Simas, que foi a primeira voz a afrontar a versão oficial da morte de Marighella, quando fazia a defesa dos frades dominicanos, espera que o depoimento de Jorge possa, finalmente, contribuir para o esclarecimento do caso. “No processo, lancei dez dúvidas sobre a versão oficial que nunca foram respondidas pelo Estado”, diz ele. Simas, que presidiu a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, não tem dúvidas sobre o modo de ação da polícia: “O delegado Fleury era um caçador sem escrúpulos, que não respeitava nada para chegar a seus objetivos.”
Aos 86 anos, a mulher de Marighella, Clara Charf, se espanta ao saber das revelações de Sérgio Jorge. Ela estranha que seu marido, que não sabia dirigir, estivesse ocupando o banco do motorista do fusca. Mas acredita que este depoimento possa enterrar de vez a versão “mentirosa” da polícia. “É um impulso muito grande para a revisão da história”, diz ela. É uma expectativa idêntica à do ex-militante Otávio Ângelo, certamente um dos últimos companheiros que viram Marighella vivo. Membro do Grupo Tático Armado da ALN, Otávio Ângelo estava no derradeiro “ponto” que Marighella cumpriu no fim da tarde do dia 4 de novembro de 1969, antes de ir para a alameda Casa Branca. Eles se encontraram no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo e, segundo Otávio Ângelo, Marighella se mostrava muito preocupado com a segurança da organização por causa da prisão de vários militantes. “Ele parecia nervoso, apreensivo”, relembra. “Falava que estávamos no cerco e que, se não conseguíssemos sair desse cerco, não sobreviveríamos.” A previsão de Marighella, como se vê, acabaria cumprida em poucas horas.
img4.jpg*GilsonSampaio

sábado, março 03, 2012

Deleite Milton / Eng do Hawai



EUA: responderemos a qualquer ameaça do Irã na América Latina

A situação está ficando cada vez mais crítica é o que se pode deduzir das diveras notícias que podemos ver todos os dias nos diversos meios de informação, ao que parece a "Agenda" está a andar a passos largos, só espero que nós latino-americanos não fiquemos feito o marisco, entre o rochedo e o mar. Os "cowboys" além de pretenciosos são muito arrogantes.

Tibiriçá



A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, reconheceu nesta quarta-feira sua "preocupação" pelos relatórios sobre avanços militares do Irã e do grupo libanês Hezbollah na América Latina, e garantiu que Washington responderá a qualquer ameaça que apresentem na região. "Tomaremos ações apropriadas para resistir a qualquer ameaça que possa surgir das atividades do Irã e do Hezbollah no hemisfério", afirmou Hillary em uma audiência perante o Comitê de Relações Exteriores da Câmara de Representantes dos Estados Unidos.

A secretária de Estado se mostrou preocupada pelos informes que algumas organizações de tráfico de droga na América Latina "estão vinculadas ao Hezbollah e ao Irã", mas ressaltou que os EUA "não encontraram informação que comprove muitas dessas acusações". "Porém, certamente, o recente incidente relacionado com a tentativa de assassinato do embaixador saudita é uma chamada de atenção que cria uma dúvida muito grande", destacou.

Hillary Clinton se referia ao suposto complô descoberto em outubro para assassinar o embaixador da Arábia Saudita em Washington, Adel al Jubeir, que os EUA atribuíram ao Irã e que seria executado por um cartel do narcotráfico no México. "Continuamos buscando laços diretos com o Irã e mantemos um contato muito intenso com nossos aliados no hemisfério, tanto para educá-los sobre os perigos que representam o Irã e o Hezbollah como para trabalhar com eles para melhorar nossa cooperação de inteligência", declarou.

A secretária de Estado lembrou que o governo de Barack Obama estendeu no ano passado as ações impostas em 2008 à Companhia Anônima Venezuelana de Indústrias Militares (CAVIM) "por violar uma proibição sobre o uso de toda tecnologia que pudesse ajudar o Irã no desenvolvimento de armas (nucleares)". "Portanto, se encontramos informação que possamos verificar, estamos comprometidos a atuar", acrescentou Hillary.

"Mas o que estamos vendo, por outro lado, é que nossos aliados na América Latina estão entendendo de verdade os desafios, e isso nos encoraja", continuou. Hillary deu como exemplos a assinatura por parte de Brasil, México, Chile e Argentina de uma resolução sobre o Irã na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e o voto desses três primeiros países para criar a figura de um relator especial da ONU sobre os direitos humanos na República Islâmica.

"Estamos vigiando esta situação de perto e estamos construindo uma coalizão internacional e hemisférica muito forte contra qualquer esforço do Irã e do Hezbollah em nossa área", ressaltou a secretária de Estado. O testemunho de Hillary aconteceu em resposta às perguntas da congressista republicana Ileana Ros-Lehtinen, que mostrou sua preocupação com os informes que Teerã começou a enviar membros de suas forças de elite a suas embaixadas na América Latina.

Ileana também se referiu à viagem que o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, fez em janeiro à Venezuela, Nicarágua, Cuba e Equador, e que a secretária de Estado definiu como "uma tentativa desesperada de buscar amigos".

Fonte: http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/4964/EUA--responderemos-a-qualquer-ameaca-do-Ira-na-America-Latina

Copyright é Racismo, DIGA NÃO!




Seja educado, ande arrumado, saiba falar. Respeite a polícia, vote nos líderes e faça silêncio na igreja. Pague os impostos e depois faça uma doação. Obedecemos as leis de uma escola invisível na qual nunca pedimos para ser matriculados. E o que você ganha em troca? De fato, a primeira lição que você deve ter aprendido na vida é que aquilo que o mundo te pede, não é o que o mundo te dá.
 
Estas regras existem porque a sociedade tem como função básica proteger o interesse dos indivíduos que a formam, ou seja, proteger a si mesma. Isso faz com que toda sociedade seja por definição reacionária e toda mudança sofrível.

Lembre-se que na antiguidade era considerado crime ser estrangeiro. Durante o feudalismo era considerado crime estar endividado. Na idade média era crime desobedecer a igreja romana. Na guerra fria era crime ser comunista nos EUA e não ser comunista na Russia. No século XVI era crime ser homossexual (em alguns lugares ainda é. MashaAllah!). E há menos de 200 anos libertar escravos era crime também!

Este último exemplo é importante. Se você possui um ancestral que lutou pela liberdade no movimento abolicionista ele foi, por muitos anos, considerado um fora da lei. E recentemente nos EUA vários sites dedicados a compartilhamento de informação foram fechados! Por que? Porque hoje em dia é crime compartilhar conhecimento de graça.

Breve cronologia do abuso


Napster - Processado e obrigado a sair do ar em 2000.
TorrentSpy - fechado e multado em 110 mil dólares em 2003.
ShareReactor - obrigado pela polícia suiça a fechar em 2004.
Jammie Thomas - cidadão americado é multado em 222 mil dólares por baixar 24 músicas na internet em 2007.
TorrentSpy - fechado e multado em 110 milhões pelo governo americano em 2008.
BtChina - fechado pelo governo chinês junto com mais 530 outros sites em 2009.
PirateBay - fechado pela justiça sueca em 2010.
Wikileaks.org - tirado do ar em 2011 e seu editor chefe preso.

             Em 2012 houve uma aceleração no processo:

Megaupload - Fechado e os donos e empregados foram presos.
FileServe – Fechando e não vende mais contas premium.
UploadStation – Bloqueado nos EUA.
FileSonic – encontra-se atualmente sob investigação do FBI.
FilePost – apagando todo o material, com exceção de executáveis, .PDFs e .TXTs).
VideoZer – fechando e bloqueado nos países afiliados aos EUA.
4shared – excluindo arquivos com copyright e aguarda na fila do FBI.
MediaFire – convocado a depor nos próximos 90 dias e terá de abrir as portas ao FBI.
Rapidshare – só com conta premium e termo de responsabilidade atreladas ao seu CNPJ para upar arquivos superiores a 100 Mb (ou seja quem se lasca com o FBI é você).
Uploaded – banido dos EUA e o FBI vai atrás dos donos, que sumiram.
MediaFire – Convocado a depor nos próximos 90 dias e terá de abrir as portas para o FBI.

A situação é global. A União Européia já entregou os nomes de hosters de toda zona do euro para o FBI ir atrás dos responsáveis. A China tem suas próprias dimensões de censura e controle cultural. O governo brasileiro, como sempre, ainda não tem uma posição oficial sobre o assunto.

E por que isso é do seu interesse?

Por mais que a sociedade tenha como função básica proteger o interesse dos indivíduos que a formam, na prática o resultado é outro. Na prática a condição do indivíduo é colocada em segundo plano em relação à manutenção do Status Quo, ou seja, manter as pessoas na exata situação que se encontram. Dizer que isso significa apenas manter os ricos mais ricos e os pobres mais pobres é uma simplificação grosseira e ignorante. Isso significa manter as pessoas dóceis e eternamente satisfeitas com o mesmo de sempre. Isso significa deixar a cultura e a criatividade apenas nas mãos de quem pode pagar por isso.

Copio aqui um post do burgos4patas que tem tudo a ver com o assunto acima, penso eu, como pode alguns "selvagens" serem solidários e dividirem um presente ao invés de disputá-lo? Essa analogia é bem interessante e assim também deveria se proceder para compartilhar o conhecimento.

Tibiriçá

Umuntu ngumuntu nagabantu

 

A jornalista e filósofa Lia Diskin no Festival Mundial da Paz em Floripa (2006) nos presenteou com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu.
Ela contou que:

Um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo então, propôs uma brincadeira pras crianças que achou ser inofensiva.

Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e tudo e colocou debaixo de uma árvore. Aí ele chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse “já!”, elas deveriam sair correndo até o cesto e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.

As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado.

Quando ele disse “Já!” instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto.
Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.

O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.
Elas simplesmente responderam:

"Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?"

Fonte: http://www.mortesubita.org/blog/copyright-racismo-diga-nao e
http://burgos4patas.blogspot.com/2012/02/umuntu-ngumuntu-nagabantu.html