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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 21, 2012

Cutrale é processada. Cadê a mídia?

Na semana passada, o Ministério Público do Trabalho (MPT) protocolou na Justiça de Araraquara, no interior de São Paulo, uma ação contra a empresa Cutrale - uma das maiores produtoras de suco de laranja do mundo - por cometer vários abusos contra os seus funcionários, desrespeitando a legislação trabalhista. Entre outros crimes, a empresa efetua descontos salariais abusivos e não garante estabilidade às gestantes.
A Procuradoria do Trabalho solicitou da Cutrale o pagamento de R$ 1 milhão por danos morais coletivos. A ação teve início a partir da demissão de uma trabalhadora durante a gravidez. A Justiça do Trabalho enviou uma sentença ao MPT sobre o caso. Na decisão, o juiz considerou que houve discriminação da funcionária gestante, condenando a empresa ao pagamento de indenização por dano moral.

Mídia protege a empresa

Esta não é a primeira vez que a poderosa empresa é condenada na Justiça. Ela é conhecida por desrespeitar a legislação trabalhista, por cometer inúmeros crimes ambientais e por estrangular financeiramente os pequenos produtores de laranja. Além disso, a empresa já foi denunciada por invadir terras devolutas do Estado. Apesar deste histórico tenebroso, a mídia comercial evita dar destaque para os seus crimes. Afinal, a Cutrale gasta fortunas com publicidade nos jornalões, revistonas e emissoras de rádio e televisão.
Bem diferente é a atitude da mídia venal quando os trabalhadores lutam contra os abusos desta empresa. A recente decisão do MPT de processar a Cutrale não foi destaque em nenhuma TV. Já quando os sem-terra ocuparam uma terra grilada pela empresa no interior de São Paulo, o assunto foi manchete nos jornalões e a cena dos tratores destruindo alguns pés de laranja foi repetida dezenas de vezes pelas emissoras, principalmente pela TV Globo. Só mesmo os laranjas acreditam em neutralidade da mídia!
Altamiro Borges
*comtextolivre

Record expõe o desespero da 'Veja'

A matrix paulistana:
a Chuíça (*) nua e crua

O Conversa Afiada reproduz comentário da amiga navegante Maria Joaquina Perez:

A matrix paulistana


Os paulistas conseguiram o que eles sempre quiseram. Tornaram-se os legítimos europeus, ou seja, um povo mitomaníaco:


Mito – 1: São Paulo é a locomotiva do país que carrega 23 vagões vazios.


A Realidade:


A locomotiva virou Maria Fumaça. Na década de 70, a participação de São Paulo no PIB nacional correspondia a 40%. Caiu para 36% na década de 80, e 33% em 2007. Confirmado-se as tendências e prognósticos, a perspectiva é de que a participação paulista esteja abaixo dos 30% já em 2014.


Mito – 2: A USP é uma das universidades mais importantes do mundo!


A realidade:


A USP já foi uma grande universidade, nos tempos de Lévy-Strauss e outros, mas esse DNA já se tornou “viciado” há muito tempo, porque professor da USP fez graduação na USP, mestrado na USP, doutorado na USP. A USP é a universidade mais endógena e de importância inflada que se conhece.


Nos últimos 40 anos, que estudo da USP revolucionou alguma área do conhecimento científico? Nenhum.


A USP (tal como as Federais de outros estados) não é vanguarda em nenhuma área científica importante, apenas acompanha o desenvolvimento científico e tecnológico do primeiro-mundo. Tanto as estaduais paulistas, quanto as federais, apenas procuram reproduzir estudos estrangeiros.


A ficha só cai quando a USP é comparada a instituições de outros países. Nesse caso o resultado é humilhante: “A USP, a universidade da 3ª maior cidade do mundo é apenas a 232ª universidade, se comparada com o resto do mundo”.


Mito – 3: Paulistas são ricos, têm dinheiro e o restante dos brasileiros são pobres e burros.


A Realidade:


Abaixo a lista dos 8 maiores bilionários do país


1º Eike Batista – mineiro (mora no Rio desde os 4 anos de idade)


2º Jorge Paulo Lemann – carioca


3º Joseph Safra – libanês


4º Marcel Telles – carioca


5º Benjamin Steinbruch – carioca


6º Carlos Alberto Sicupira – carioca


7º Antônio Ermírio de Moraes – paulista (origem nordestina)


8º Aloysio Faria – mineiro


Onde estão os bilionários paulistas?

No programa “Mulheres Ricas” da Rede Bandeirantes?


Mito – 4: Todo paulista tem a CRENÇA de que italianos industrializaram São Paulo e que eles foram os responsáveis pelo o que o estado é hoje.


A realidade:


Construiu-se toda uma mitomania em torno do empreendedorismo italiano que não se sustenta. Procuram-se hoje os reflexos dessa herança e não se acha. Pior: descobre-se que são até inexistentes. Ao analisarmos as 300 maiores empresas com “sede” em São Paulo listadas no volumoso encarte “Melhores e Maiores” da Revista Exame, verifica-se claramente que a esmagadora maioria trata-se de empresas de capital estrangeiro. Logo São Paulo não é “sede” de nada… “sede” é eufemismo.


São Paulo é apenas “filial”, porque as matrizes (sedes) dessas empresas estão no exterior. Suas ações são negociadas em seus países de origem. O faturamento e o lucro é todo remetido para fora. O empreendedorismo, portanto, não é paulista e sim estrangeiro.


Se pegarmos então outro ranking, mas nesse caso 100% nacional: “As ações mais negociadas da Bovespa de 2010″ e verificamos claramente a inexpressividade do empreendedorismo paulista: Os maiores conglomerados listados entre as dez ações mais negociadas não são empresas nacionais com sede em São Paulo e sim em sediadas em outros estados: Petrobras, OGX, Vale, CSN, Telemar, Usiminas, Gerdau etc. Entre as top 10 apenas uma única empresa representa o inflado empreendedorismo paulista: o Itaú/Unibanco. E é justamente a única blue chip que não é voltada para produção e sim para agiotagem financeira…


Mito – 5: São Paulo é a Nova York brasileira


A Realidade:


Todo povo de mentalidade colonizada gosta de nomear a sua cidade mais populosa como a “nova iorque” local. Assim Lagos é a “nova-iorque-nigeriana”, Mumbai é a “nova-iorque-indiana”, Jacarta é a “nova-iorque-indonésia”, Karachi é a “nova-iorque-paquistanesa” e São Paulo é a “nova-iorque-brasileira”.


Mas há também, há cidades de personalidade tão fortes que não precisam pedir empréstimo a outras para serem conhecidas. Dessa forma no mundo… Paris é “Paris”, Roma é “Roma”, Buenos Aires é “Buenos Aires” e etc…


Em resumo:


A julgar pela tradicional megalomania paulista, deduz-se que eles se pautam mais numa China superpopulosa e miserável, do que numa Suíça minúscula e rica.


Dentro deste contexto, José Chirico Serra sempre será o candidato predileto dos paulistanos, pois o paulistano não quer mudar, não quer pensar, não quer agir… ele quer apenas poder continuar vivendo em sua Matrix: a cidade de São Paulo.



Em tempo: o Conversa Afiada reproduz comentário do amigo navegante Lauro que, explica, também, como o Haddad vai derrotar o Cerra:

Lauro Puricelli


PHA,

sou de Porto Alegre e estive em São Paulo de domingo a quarta passada para um curso. Ficou muito claro pra mim que a administração da cidade não governa pra quem precisa pegar ônibus e metrôs. Andando e conversando com as pessoas, ouvi relatos de quem estava desde às 18h indo pra casa (sendo que eram 20:30 e quem ficasse mais de 6 horas por dia só pra se locomover. Sem contar que no dia de ir embora e pegar a Linha Vermelha do metrô, tive que esperar uns 10 vagões passar para entrar com alguma segurança e conforto.

Outra questão que me chamou muita atenção foi a quantidade de pessoas que vivem na rua no centro da cidade, seja no mercadão, praça da República, etc. Uma cidade rica que nem SP não precisava disso, há como resolver, mas com certeza é mais fácil liberar obra de Shopping…

Por isso que o Serra não vai passar da Livraria Cultura da Av. Paulista, embora fosse difícil encontrar um exemplar de A Privataria Tucana com um mínimo de destaque que uma obra dessa tiragem mereça.


Abraços


Clique aqui para ler
“Transporte público, como o Haddad vai vencer o Cerra”.

(*) Chuíça é o que o PiG de São Paulo quer que o resto do Brasil ache que São Paulo é: dinâmico  como a economia Chinesa e com um IDH da Suíça.

Garganta-profunda à solta no Vaticano e Santa Sé quer instauração de processos criminais

Papa e secretário vítimas de cartas furtadas e publicadas
A assessoria de imprensa da Santa Sé acaba de anunciar que acionará a Justiça para processar criminalmente, por furto, receptação e divulgação de documentos reservados, o jornalista Gianluigi Nuzzi, autor do livro intitulado “Sua Santidade”.
Nesse livro, – que é um lançamento da editora Chiarelettere –, estão publicados documentos classificados como sigilosos pela Santa Sé e, também, cartas recebidas pelo papa Bento XVI e o seu jovem secretário particular e grande tenista, monsenhor Georg Gaenswein.
Diante de recentes fugas de notícias, — incluída a informação de um alto prelado de que Ratzinger seria em breve assassinado –, o papa resolveu constituir uma comissão de investigação e designou o cardeal Julian Herranz para a sua presidência.
Essa Comissão dirigida por Herranz, pelo que se verifica dos documentos e cartas publicadas no livro de Gianluigi Nuzzi, está longe de descobrir o “Deep Troat” do Vaticano, ou seja, o “Garganta Profunda” que, na década de 1970, repassava inforções da Casa Branca, no caso Watergate. Também não inibiu as fugas de noticiais que circulam, secretamente, pelos gabinetes vaticanos.
Uma das cartas do livro diz respeito ao chamado “escândalo Buffo”, diretor da publicação denominada Avvenir, pertencente à Confederação dos Bispos de Roma.
Dino Boffo, jornalista e católico, era o diretor-responsável do diário Avvenire. Uma carta, vazada do Vaticano e publicada no jornal do então premier Berlusconi (à época sob ataque do Avvenire por suas orgias), apontava Boffo como homossexual envolvido com um homem casado e com protestos da esposa.
O Il Giornale, – do irmão-laranja de Berlusconi –, quis mostrar, com a publicação do “escândalo Boffo”, que a Igreja, pelo diretor do Avvenire, também tinha “teto de vidro” com relação a escândalos sexuais.
Boffo afirmou que se tratava de fato falso, demitiu-se da direção do Avvenire. A Conferência dos Bispos, pelo cardeal Bagnasco, aceitou a demissão com nota de confiar em Boffo e de sentir muito essa sua decisão pessoal e irrevogável  de deixar a direção do Avvenire.
O livro “Sua Santidade” já é um recordista de vendas e estão sendo preparadas edições em várias línguas.
A Santa Sé e o papa Ratzinger imaginavam um período de tranquilidade na mídia. Isso depois da exumação e remoção, da Basílica de  Santo Apolinário, do corpo de um dos “capi” da organização criminosa romana denominada Banda da Magliana ( a imprensa brasileira, erradamente, noticiou que se tratava de um mafioso).
O papa Ratzinger e a Santa Sé não esperavam o livro de Gianluigi Nuzzi, anunciado, com destaque especial, pelo jornal Corriere della Sera. Assim, a Santa Sé se viu obrigada, pela assessoria de imprensa, a contra-atacar e a; falar de furtos de documentos, receptações e quejandos.
Pano rápido. Que o Senhor se apiede de certas almas. E também das nossas, caro leitor.
Wálter Fanganiello Maierovitch
No Terra Magazine
*comtextolivre

Charge do Dia

Repórter da Globo chama Herrera de babaca

 

O repórter Marco Aurélio Souza, da Sportv/Globo, chamou de “babaca” o argentino Herrera, atacante do Botafogo, pela recusa em pedir música para o Fantástico pelos três gols que fez na vitória deste domingo (20) sobre o São Paulo.
“O tolerante”
O jornalista expressou sua “opinião” sobre o jogador através da sua conta no Twitter.
A “normalidade” e o “humor” exaltados pelo profissional não o fizeram ter tolerância suficiente para se abster de xingar o atleta.
Cada um pode julgar como quiser a atitude do Herrera. Eu achei um gesto sensacional, pelo simbolismo que representa, o que expliquei aqui.
A assoberbada emissora do Jardim Botânico não costuma ouvir não como resposta a qualquer pedido. Quando ocorre, muita gente por lá fica descontente, para dizer o mínimo. A primeira manifestação do incômodo partiu do repórter.
Nem acho a história do “artilheiro musical” uma babaquice como tantas outras da Globo, tal qual o quadro “inacreditável futebol clube”, que é absolutamente ridículo.
Daí a ofender o sujeito que se recusou a participar da brincadeira… é babaquice pura!
Vinda de um profissional do jornalismo é pior ainda.
Imaginem se o Herrera, numa entrevista ao vivo, chama o seu entrevistador de babaca, apenas por não gostar do sujeito…
Curioso é ver tal atitude partir de alguém que, em tese, deveria promover a tolerância, sobretudo por trabalhar no esporte, ainda mais no futebol, um fenômeno social que gera tanta paixão, mas não deixa de contribuir com sua cota de tragédias sociais, especialmente quando a violência entra em jogo.
Como diria um outro cronista esportivo, “que desagradável”.
O “babaca”, segundo o global
Nessas horas é bom lembrar que a arrogância é irmã da soberba e prima da prepotência.
[Atualização: Mal cliquei no botão "publicar" aqui e fui informado que o dito cujo abaixo apagou o que escreveu. Curioso que, após xingar o jogador do Botafogo, o repórter escreveu, também no seu microblog: "No meu twitter, escrevo o que bem entender."]
No Conexão Brasília Maranhão

Um leitor, no twitter, fez o comentário certeiro: 
@adamastaquio “Essa é a Globo e seu modo truculento de agir! Imagina o q a Globo n faz com coisa séria então… Tipo eleição!” 
*comtextolivre

Pelo fim do Terror de Estado

 

Via Brasil de Fato
O denominador comum de todas essas manifestações reside no Terror de Estado implantado pelo capital desde o golpe de 64, e do qual, o novo Estado de Direito herdou e até aperfeiçoou
Alipio Freire*
A última semana foi pródiga no que diz respeito aos Direitos Humanos no Brasil. Em 7 de maio, foram expedidos mandados de prisão contra o coronel Mário Colares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira, responsáveis pelo Massacre de Eldorado do Carajás (Pará, 1996), quando 19 trabalhadores rurais sem terra (MST) foram assassinados pela PM.
Na sexta-feira (11), a presidenta Dilma Rousseff anunciou os nomes dos integrantes da Comissão Nacional da Verdade – CNV. No sábado (12), completaram-se seis anos dos Crimes de Maio, quando o consórcio PM-Crime organizado, em uma semana, assassinou cerca de 600 pessoas nos bairros populares e periferias da Grande São Paulo. Como parte da luta pelo esclarecimento dos crimes e punição dos responsáveis, o movimento Mães de Maio realizou um ato público em Santos.
Paralelamente, seguia a polêmica sobre a publicação do livro “Memórias de uma guerra suja”, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, a partir de entrevista com o hoje pastor evangélico Cláudio Guerra, ex-delegado do Deops capixaba, e “um dos policiais mais poderosos dos anos 70 e 80”, sobre crimes perpetrados por ele e outros agentes do Estado, a serviço dos sucessivos governos da ditadura do pós 64.
A semana se encerrou com escraches-esculachos, promovidos por um conjunto de coletivos de jovens que se apresentam sob a rubrica geral de Levante Popular da Juventude – por sinal, o mais adequado e conseqüente movimento surgido nos últimos meses.
O denominador comum de todas essas manifestações reside no Terror de Estado implantado pelo capital desde o golpe de 64, e do qual, o novo Estado de Direito herdou (e até aperfeiçoou) as diretrizes centrais.
Se é isto, cabe aos diversos movimentos contra a Ordem do Terror que se impõe à classe trabalhadora e ao povo, pensar uma forma conjunta de estabelecer – guardadas a independência e a autonomia de cada movimento – estratégia e políticas comuns, capazes de nos fazer avançar no aprofundamento da democracia hoje vigente.
*Alipio Freire, jornalista e escritor, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato, e faz parte da Diretoria do Núcleo de Preservação da Memória Política
*GilsonSampaio

Convergência de quatro fatores explosivos: Bancos, Bolsas, Aposentadorias e Dívidas

 

GEAB [*]

Aguardando que a Eurolândia se dote, daqui até o fim de 2012, de um projeto político, econômico e social comum de médio e longo prazos, na sequência nomeadamente da eleição do novo presidente francês François Hollande, antecipada há numerosos meses pelo LEAP/E2020, os operadores permanecerão prisioneiros dos reflexos de curto prazo ligados aos sobressaltos políticos gregos, às incertezas sobre a governança da Eurolândia e aos riscos das dívidas públicas.
Paralelamente, nos Estados Unidos, o desaparecimento da ilusão de uma retomada [1] acumulada à renovação de inquietações quanto ao estado de saúde do sector financeiro americano (de que o JPMorgan acaba de ilustrar a fragilidade) e ao grande retorno do problema do endividamento do país levam os atores econômicos e financeiros a encarar um futuro cada vez mais inquietante [2].
No Reino Unido, o retorno em recessão do país conjuga-se com o fracasso em dominar déficits e com a ascensão de uma cólera popular face a uma austeridade que não está senão nos seus princípios [3].
No Japão, a atonia econômica e o enfraquecimento das exportações num contexto de recessão mundial [4] fazem ressaltar o espectro do endividamento excessivo do país.
Neste contexto, de acordo com o LEAP/E2020, o segundo semestre de 2012 vai ser o momento privilegiado da convergência de quatro fatores explosivos para as economias ocidentais: bancos, bolsas, aposentadorias e dívidas.
Para os operadores econômicos, financeiros ou políticos assim como para as simples famílias, esta convergência vai significar riscos importantes tanto sobre o estado das suas finanças como sobre a sua aptidão para enfrentar próximos desafios.
Neste GEAB nº 65, nossa equipe desenvolve pois suas antecipações referentes a estes quatro fatores explosivos do segundo semestre de 2012 assim como as recomendações para minimizar as consequências negativas. Além disso, o LEAP/E2020 apresenta sua nova antecipação sobre as consequências da crise sistêmica global em matéria de línguas internacionais (em nível mundial e na Europa) no horizonte 2030 a fim de ajudar pais e filhos, assim como as instituições pedagógicas, a fazer boas escolhas de aprendizagem linguística a partir de hoje.
Neste comunicado público do GEAB nº 65, nossa equipe optou por apresentar o fator explosivo correspondente às dívidas públicas e privadas.

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Dívidas: dívidas públicas dificilmente domináveis e dívidas privadas destruidoras... os credores aproximam-se dolorosamente da hora das contas e os povos de uma explosão de cólera
O LEAP/E2020 anunciou desde 2008 e repetiu numerosas vezes. Havia cerca de US$30 trilhões de ativos fantasmas no sistema financeiro mundial. Restam cerca de US$15 trilhões que vão no essencial esfumar-se daqui até o fim de 2012. A boa notícia é que a partir deste momento poder-se-á encarar seriamente a reconstrução de um sistema financeiro mundial são. A má notícia, é que é no decorrer dos próximos trimestres que estes US$15 trilhões se vão esfumar. Isso implica, naturalmente, como havíamos evocado anteriormente, a falência (e/ou o salvamento pelos Estados) de 10% a 20% dos bancos ocidentais. E desta vez, ao contrário de 2008/2009, os acionistas serão as primeiras vítimas (inclusive nos Estados Unidos), qualquer que seja a hierarquia dos seus direitos [5]. Só os acionistas que possuírem um peso geopolítico importante serão tratados com respeito (fundos soberanos, Estados amigos, ...).
Em matéria de dívidas privadas, as famílias vão no essencial, nomeadamente nos Estados Unidos e no Reino Unido, ter de enfrentar por si só as consequências das altas de taxas e da insolvabilidade induzida que as vão afetar. Capturados na armadilha da austeridade e da recessão, os Estados ocidentais não têm mais os meios de prestar socorros às classes médias enquanto o crescimento não tiver retomado por pouco que seja. E, infelizmente, não será esse o caso daqui até o fim de 2012. Vê-se atualmente nos Estados Unidos que a questão da dívida dos estudantes está em vias de se transformar em “subprime bis” [6]. Alta de taxas devido ao fim da política de bonificação pelo Estado federal e à paralisia política em Washington num pano de fundo de tentativas de domínio do déficit federal que está em vias de criar uma situação desastrosa para milhões de jovens americanos e seus pais.
Na Europa, o Reino Unido já decidiu deixar sua classe média enfrentar sozinha seu endividamento recorde. Isso equivale a fazê-la cair na classe desfavorecida. Os próximos meses vão assistir a uma nova confrontação brutal entre esta classe média britânica e seus dirigentes, pertencentes quase todos à classe alta (upper-class).
No continente, através dos votos de rejeição dos dirigentes adeptos da austeridade como solução única e exclusiva para a crise do endividamento público, os povos abriram uma grande confrontação democrática com as elites estabelecidas desde há uma vintena de anos, e ao serviço dos credores. A tentativa que o novo presidente francês encarna, de abrir um caminho médio entre austeridade e relançamento keynesiano, ambas fracassadas pois são impossíveis politicamente ou pelo controle orçamentário, vai vencer (pois doravante é a única viável em termos políticos e orçamentais [7]) mas não antes do fim de 2012 [8].
Nesse intervalo de tempo, sobressaltos políticos como na Grécia e negociações complexas no seio da Eurolândia vão dominar a agenda, tornando cada vez mais nervosos os credores e a sua emanação, os mercados [9]. E este nervosismo dos mercados é agravado pela consciência da infinita fragilidade das instituições financeiras da Wall Street e da City face ao risco de não pagamento dos créditos: dívidas públicas ou privadas. Isto são quase os últimos restos do ativo do seu balanço e eles esperam poder recuperar um valor significativo.

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Desde o fim do Verão de 2012, o retorno do tema do endividamento inadministrável dos Estados Unidos, ligado às reduções orçamentais automáticas impostas em caso de não acordo do Congresso sobre a redução do endividamento, vai desencadear um “Taxmageddon” [10] nos EUA. Assistir-se-á assim ao remake da dupla detonador-bomba que as dívidas europeia e americana já jogaram no Verão de 2011, mas desta vez numa versão muito mais violenta. Com efeito, se os temores de ver o euro e a Eurolândia explodir desapareceram [11], eles serão substituídos por um perigo muito mais aterrador para os mercados: a monetização maciça e brutal da dívidas estadunidense [12]. Esta situação apresentar-se-á nos Estados Unidos com a agravante de ser dar num contexto de paralisia política completa [13], com um Congresso que será segmentado pela emergência de facções radicais tanto entre os republicanos (“Tea Party”, p.ex.) como entre os democratas (“Occupy” p. ex.) [14].
Notas de rodapé:
[1] Retomada de tal forma ilusória que provoca um retorno às práticas das “subprimes”. E mesmo o preço do leite, indicador fiável dos amortecimentos econômicos, aponta para a recessão. Fontes: CNBC, 26/04/2012; New York Times, 10/04/2012 .
[2] A este respeito, lembramos que doravante o governo dos EUA e o Fed devem criar US$2,50 de dívida para gerar US$1,00 de crescimento. É o problema com que se depara toda economia cujo endividamento se torna excessivo. Isto é o gênero de “pormenor” que os keynesianos, como Krugman, se esquecem de precisar quando clamam às tontas e loucamente que as políticas de austeridade são aberrantes. Como em toda abordagem de bom senso, que leva em conta o mundo real e não as teorias econômicas, é preciso um equilíbrio entre redução do endividamento e apoio ao crescimento. Este é igualmente o caminho que vai tomar a Eurolândia a partir deste Verão; ao passo que os Estados Unidos continuam a negar a necessidade de tratar o seu endividamento descontrolado.
[3] Fonte: WallStreetJournal , 13/05/2012
[4] Fontes: TimesofIndia, 11/05/2012; MarketWatch, 10/05/2012; ChinaDaily, 06/05/2012; ChinaDaily, 28/03/2012; Washington Post, 11/05/2012; USAToday, 13/04/2012; CNBC, 06/04/2012
[5] Fonte: MarketWatch, 10/05/2012
[6] Fonte: CERF, 21/04/2012
[7] Desde Fevereiro de 2012 e do GEAB nº 62, nossa equipe pormenorizou amplamente sua antecipação sobre a evolução 2012-2016 da Eurolândia e os acontecimentos em curso confirmam a nossa análise (se quiser ter uma apresentação "viva" das perspectivas da Eurolândia e da Europa, pode assistir o discurso de Franck Biancheri pronunciado em inglês a 2 de Maio último perante os 1000 delegados da principal rede estudantil europeia, AEGEE-EUROPE). Daqui até o Verão, após as eleições legislativas francesas de Junho de 2012, um acordo a seis sobre o equilíbrio austeridade/crescimento será encontrado (França/Alemanha/Itália/Países Baixos/Bélgica/Espanha) que será levado à Eurolândia + (Eurolândia mais os outros países participantes do MEE).
[8] Na Alemanha também se tornam cada vez mais numerosas e fortes as vozes que exigem um caminho mais equilibrado pois o custo social do êxito económico alemão começa a ser pesadamente ressentido por uma parte crescente da população. Fonte: Spiegel, 04/05/2012
[9] Por exemplo: o fundo soberano norueguês decidiu desembaraçar-se dos seus activos em dívida soberana dos países frágeis da Eurolândia. Entretanto, o LEAP/E2020 lembra que no que se refere ao euro, não há inquietações a ter e, ao contrário, daqui até o fim de 2012 é o US dólar que experimentará o choque baixista. Fontes: Le Figaro, 05/05/2012; MarketWatch, 09/05/2012
[10] Neologismo criado a partir das palavras “Tax” e “Armageddon”. Designa o caos fiscal que vai reinar no fim de 2012 no momento em que se irão impor opções de cortes orçamentais maciços no orçamento federal dos EUA. Desde há aproximadamente um ano, os Estados Unidos e a imprensa financeira internacional optou por ignorar cuidadosamente este enorme problema. Será ainda mais difícil administrá-lo quando se impuser novamente na paisagem.
[11] Como sublinhávamos em janeiro último, é uma das grandes diferenças entre a crise grega atual e a histeria anti-euro de 2010/2011. Se é teoricamente possível encarar hoje uma saída da Grécia para fora da Eurolândia sem por em causa a moeda única, não é menos verdadeiro que na realidade esta saída é impossível. Este é igualmente um dos problemas com que se acham confrontados os dirigentes gregos. Sublinhamos este ponto para lembrar que acerca deste assunto os economistas, que vivem em mundos teóricos em geral sem relação com a realidade, há meses que se enganam sem cessar. Os cantores do fim do euro, de Krugman a Roubini, têm neste assunto tanta credibilidade quanto os sacerdotes romanos que liam o futuro nas entranhas dos animais. Para retornar à Grécia, o LEAP/E2020 considera que na media em que os dirigentes dos dois principais partidos de governo (PASOK e ND) pertencem às gerações que conduziram o país a esta crise histórica, não haverá saída política viável sem confiança popular... Cabe portanto aos dirigentes da Eurolândia, e em particular a Angela Merkel através do PPE e François Hollande através do PSE, fazerem pressão sobre os seus "partidos-irmãos" respectivos para que daqui a Setembro de 2012 e às próximas eleições, o conjunto dos dirigentes destas duas formações seja renovado em proveito de responsáveis com menos de 45 anos. O êxito atual do partido de extrema-esquerda Syrisa deve-se tanto às suas ideias como à idade do seu chefe: 38 anos. Um processo deste tipo foi bem utilizado para fazer com que deixasse o poder um Silvio Berlusconi em fim de carreira. Os meios existem portanto. E neste assunto, trata-se de permitir ao povo grego reencontrar confiança em dirigentes novos, de direita ou de esquerda, sem exclusão. Para bem entender porque uma saída da Grécia para fora da zona euro é na prática impraticável, basta um só exemplo: se fosse grego e se se propusesse trocar vossos euros por novos dracmas, o que faria? No comment!
[12] Mesmo Robert Rubin, o antigo secretário do Tesouro dos EUA, doravante junta a sua voz àqueles que advertem deste grave risco a curto prazo. Fonte: Reuters , 10/05/2012.
[13] Quer seja Barack Obama ou Mitt Romney que ganhem a eleição presidencial.
[14] Ver GEAB n°60
15/Maio/2012
[*] GEAB - Global Europe Anticipation Bulletin
Communiqué public GEAB N°65 (15 mai 2012)
Esta tradução foi extraída de Resistir e adaptada ao português do Brasil pela redecastorphoto
*GilsonSampaio

 
 

Anel de fogo: veja fotos do raro eclipse anular pelo mundo
21 de maio de 2012 • 00h29  atualizado em 21 de maio de 2012 às 00h29Reduzir

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