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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 21, 2012

Cutrale é processada. Cadê a mídia?

Na semana passada, o Ministério Público do Trabalho (MPT) protocolou na Justiça de Araraquara, no interior de São Paulo, uma ação contra a empresa Cutrale - uma das maiores produtoras de suco de laranja do mundo - por cometer vários abusos contra os seus funcionários, desrespeitando a legislação trabalhista. Entre outros crimes, a empresa efetua descontos salariais abusivos e não garante estabilidade às gestantes.
A Procuradoria do Trabalho solicitou da Cutrale o pagamento de R$ 1 milhão por danos morais coletivos. A ação teve início a partir da demissão de uma trabalhadora durante a gravidez. A Justiça do Trabalho enviou uma sentença ao MPT sobre o caso. Na decisão, o juiz considerou que houve discriminação da funcionária gestante, condenando a empresa ao pagamento de indenização por dano moral.

Mídia protege a empresa

Esta não é a primeira vez que a poderosa empresa é condenada na Justiça. Ela é conhecida por desrespeitar a legislação trabalhista, por cometer inúmeros crimes ambientais e por estrangular financeiramente os pequenos produtores de laranja. Além disso, a empresa já foi denunciada por invadir terras devolutas do Estado. Apesar deste histórico tenebroso, a mídia comercial evita dar destaque para os seus crimes. Afinal, a Cutrale gasta fortunas com publicidade nos jornalões, revistonas e emissoras de rádio e televisão.
Bem diferente é a atitude da mídia venal quando os trabalhadores lutam contra os abusos desta empresa. A recente decisão do MPT de processar a Cutrale não foi destaque em nenhuma TV. Já quando os sem-terra ocuparam uma terra grilada pela empresa no interior de São Paulo, o assunto foi manchete nos jornalões e a cena dos tratores destruindo alguns pés de laranja foi repetida dezenas de vezes pelas emissoras, principalmente pela TV Globo. Só mesmo os laranjas acreditam em neutralidade da mídia!
Altamiro Borges
*comtextolivre

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