Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 21, 2012

Pelo fim do Terror de Estado

 

Via Brasil de Fato
O denominador comum de todas essas manifestações reside no Terror de Estado implantado pelo capital desde o golpe de 64, e do qual, o novo Estado de Direito herdou e até aperfeiçoou
Alipio Freire*
A última semana foi pródiga no que diz respeito aos Direitos Humanos no Brasil. Em 7 de maio, foram expedidos mandados de prisão contra o coronel Mário Colares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira, responsáveis pelo Massacre de Eldorado do Carajás (Pará, 1996), quando 19 trabalhadores rurais sem terra (MST) foram assassinados pela PM.
Na sexta-feira (11), a presidenta Dilma Rousseff anunciou os nomes dos integrantes da Comissão Nacional da Verdade – CNV. No sábado (12), completaram-se seis anos dos Crimes de Maio, quando o consórcio PM-Crime organizado, em uma semana, assassinou cerca de 600 pessoas nos bairros populares e periferias da Grande São Paulo. Como parte da luta pelo esclarecimento dos crimes e punição dos responsáveis, o movimento Mães de Maio realizou um ato público em Santos.
Paralelamente, seguia a polêmica sobre a publicação do livro “Memórias de uma guerra suja”, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, a partir de entrevista com o hoje pastor evangélico Cláudio Guerra, ex-delegado do Deops capixaba, e “um dos policiais mais poderosos dos anos 70 e 80”, sobre crimes perpetrados por ele e outros agentes do Estado, a serviço dos sucessivos governos da ditadura do pós 64.
A semana se encerrou com escraches-esculachos, promovidos por um conjunto de coletivos de jovens que se apresentam sob a rubrica geral de Levante Popular da Juventude – por sinal, o mais adequado e conseqüente movimento surgido nos últimos meses.
O denominador comum de todas essas manifestações reside no Terror de Estado implantado pelo capital desde o golpe de 64, e do qual, o novo Estado de Direito herdou (e até aperfeiçoou) as diretrizes centrais.
Se é isto, cabe aos diversos movimentos contra a Ordem do Terror que se impõe à classe trabalhadora e ao povo, pensar uma forma conjunta de estabelecer – guardadas a independência e a autonomia de cada movimento – estratégia e políticas comuns, capazes de nos fazer avançar no aprofundamento da democracia hoje vigente.
*Alipio Freire, jornalista e escritor, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato, e faz parte da Diretoria do Núcleo de Preservação da Memória Política
*GilsonSampaio

Nenhum comentário:

Postar um comentário