Cooperativas do MST vendem 15 toneladas de arroz orgânico para Pão de Açúcar
Via MST
Da Agência Repórter Brasil
O
grupo Pão de Açúcar, principal rede varejista do Brasil, anunciou na
tarde desta terça-feira, 19, a compra de 15 toneladas de arroz orgânico
produzido pela Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita,
ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. A transação foi
divulgada durante o debate "Segurança e Soberania Alimentar", evento que
faz parte das atividades da Cúpula dos Povos, da Conferência das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
A
venda foi apresentada como a maior transação comercial do movimento de
camponeses com um mercado feita com o apoio do programa Brasil Sem
Miséria, que intermediou a negociação.
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"Parece
contraditório, mas sentimos a necessidade de expor e divulgar mais
sobre o movimento para a classe média, mostrar que nossa produção é
social e ambientalmente sustentável", afirmou Milton Formazieri, da
coordenação nacional do MST. O arroz produzido sem veneno no Rio Grande
do Sul será encaminhado às lojas da rede no Centro-Oeste. Na embalagens
haverá símbolos do MST. O movimento espera até o final do ano manter
transações semanais de 10 toneladas.
O Pão de
Açúcar diz ter interesse em manter negócios com cooperativas de
camponeses ligados ao movimento. "Nossa intenção é ampliar ainda mais
estas negociações. Temos a preocupação de pensar na questão ambiental e
também na social", afirmou Paulo Pompilio, das Relações Institucionais,
que diz que o grupo tem inteção de ampliar as negociações com movimentos
sociais e valorizar a produção sem agrotóxicos ou defensivos.
O
anúncio foi feito na abertura do evento e foi discutido no debate sobre
segurança e soberania alimentar, mediado pelo jornalista Leonardo
Sakamoto, diretor da Repórter Brasil.
O
representante do Governo Federal, Pepe Vargas, Ministro do
Desenvolvimento Agrário, citou a transação como um exemplo da
importância de se considerar segurança e soberania alimentar como
conceitos que vão além da alimentação pura e simples. "É preciso
considerar a dimensão da saúde, ambiental, cultura e social do processo
de alimentação. São conceitos importantes e precisamos pensar políticas
públicas e segurança alimentar", afirmou. Ele listou o Programa Nacional
de Alimentação Escolar como um exemplo de programa estatal semelhante.
O
ministro foi questionado sobre o uso maciço de agrotóxicos pela
agricultura brasileira, expansão de sementes transgênicos, o Código
Florestal e reforma agrária por internautas e participantes, que
enviaram perguntas por redes sociais. Admitiu que existem problemas a
serem superados, mas defendeu que é preciso ter paciência para avanços.
"O neoliberalismo encontra-se em uma profunda crise, mas, como todo
sistema em crise, ele não muda de imediato. É um processo que às vezes é
mais longo do que a gente imagina". Alguns participantes da plateia
vaiaram quando Pepe Vargas defendeu as decisões do Governo Federal
relativas ao Código Florestal.
Comércio responsável
Para
Renato Maluf, do Centro de Referência e Segurança Alimentar da
Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Fórum Brasileiro de
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, é importante aproveitar o
momento para repensar os modelos de produção e distribuição. "É uma
crise estrutural do sistema. Temos que aproveitar para debater a maneira
como ele se organiza. A lógica comercial pura e simples não funciona
mais. Não há mais espaço para as mesmas referências que se vinha usando,
para a liberalização radical do mercado", defende. "O Brasil adquiriu
muita proeminência internacional, em parte por boas razões, em parte por
outras nem tão boas assim. Tem um Brasil que nós da sociedade civil não
gostamos. É o que surfa na onda da crise, fatura nas exportações, a
partir de um programa agrícola altamente vulnerável", afirma.
"Não
estou falando contra o comércio internacional, mas contra um tipo de
comércio e produção. Nós temos insistido muito que a gente quer que o
governo atue internacionalmente como queremos que atue aqui. E a
população tem direito à informação. Somos permanentemente bombardeados
por informações enviesadas. É importante o favelado saber o que é
soberania alimentar, não só os camponeses. É preciso repensar esse
modelo que distanciou produção do consumo e entregou nossa alimentação
na mão de três ou quatro transnacionais que, de fato, determinam o que a
gente come", afirmou.
As duas participantes
internacionais do debate, Karen H-Kuhn, diretora do programa
internacional do Instituto para Política de Agricultura e Comércio, que
participou por teleconferência, e Esther Penunia, secretária-geral da
Associação Asiática de Agricultores, destacaram a importância de se
considerar os processos produtivos ao se falar em segurança e soberania
alimentar. "Muitas vezes, se fala somente no acesso à comida, sem pensar
em como esta comida é produzida, em quem produz", afirmou Karen.
"Fazendeiros precisam de terra para produzir. Quando se fala de
alimentação, estamos falando da maneira como a gente vive", afirmou
Esther.
*GilsonSampaio