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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 08, 2010

BRICS e Europa se unem contra EUA, e + 43 milhões na terra da estátua da liberdade vivem do bolsa família via Wall Street

Brics e Europa se unem contra os EUA




Em recado a americanos, países preparam documento para exigir que sejam abandonadas medidas que prejudicam a economia mundial

Jamil Chade CORRESPONDENTE / BASILEIA – O Estado de S.Paulo

Os Brics e a Europa se unem para exigir que a declaração final da cúpula do G-20 nesta semana inclua um chamado político para que países abandonem a adoção de medidas que acabem colocando em risco as demais economias. O chamado que será proposto será um recado direto ao governo dos Estados Unidos, depois que o Fed anunciou a injeção de US$ 600 bilhões em sua economia.
A medida gerou críticas de emergentes e europeus. Neste fim de semana, porém, o presidente do Fed, Ben Bernanke, defendeu a decisão de injetar liquidez no mercado.
A partir de hoje, na Coreia do Sul, começa a fase final da negociação do texto da declaração final da cúpula. Ontem, ativistas coreanos tomaram as ruas e a polícia de Seul foi obrigada a usar força e até gás de pimenta para dispersar os manifestantes.
Fontes próximas à negociação confirmaram que o apelo para um reforço da mensagem contra atitudes como a dos Estados Unidos será um dos principais pontos de atuação das diplomacias da Europa, China, Rússia, Índia e Brasil. A ofensiva tem como meta a de tentar obrigar governos a coordenar suas políticas, além de forçar muitos a desenvolver estratégias de recuperação que considerem a situação dos demais países.
Negociadores mais irônicos chegam a afirmar que finalmente os Brics e a Europa começaram a se entender dentro do G-20, ainda que seja para atacar de forma unânime os Estados Unidos. “Isso está parecendo mais um G-19 contra 1 que o G-20 harmonioso e confiante que víamos há dois anos”, disse uma fonte próxima à negociação. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), uma ação coordenada do G-20 para salvar a economia mundial poderia gerar 52 milhões de empregos no médio prazo. Mas a constatação é de que a lua de mel no G-20 é coisa do passado.
De fato, a pressão sobre os americanos começou no fim de semana. Bancos centrais de todo o mundo pedem do Fed uma explicação sobre sua decisão. A medida, para muitos, ameaça fortalecer o risco de uma bolha de ativos nos mercados emergentes, já que a experiência nos últimos dois anos revelou que a injeção de liquidez na economia americana não está sendo absorvida e os recursos acabam aquecendo o fluxo de capital especulativo nos mercados emergentes.
Desde ontem, os xerifes das finanças internacionais estão reunidos na Basileia, num encontro que promete ser um ensaio para a tensão na cúpula do G-20, na quinta-feira, em Seul. “O que foi feito precisa ser explicado”, cobrou um alto funcionário do BC argentino. “Há muitos países irritados e o clima não é bom”, admitiu. Henrique Meirelles, presidente do BC, é o representante brasileiro na reunião.
Traição. Do lado europeu, banqueiros ressaltam não entender como é que os Estados Unidos tomaram tal rumo, poucas semanas depois de assinar uma declaração entre ministros de Finanças em que ficava claro que governos serão “vigilantes” em relação ao impacto de suas medidas nos demais parceiros. O comportamento americano chega a ser classificado de “traição”. Agora, Berlim e Paris insistem que precisam de garantias políticas de que tais práticas não vão se repetir. “A pressão será forte sobre os Estados Unidos no G-20″, admitiu um dos presidentes de BC de um país escandinavo.
Do ponto de vista americano, seus representantes também negam que tenham violado o espírito da declaração dos ministros. Washington não acredita que o impacto de suas medidas seja profundo no fluxo de capitais aos emergentes e insiste que é do interesse de todos ver a maior economia do mundo crescer.
“Não estamos tentando criar inflação. Nosso objetivo é o de dar estímulo adicional para ajudar a economia a se recuperar e evitar a desinflação potencial”, explicou Bernanke. “Acho que todos concordam que isso seria o pior resultado.” Ele alertou que a economia americana sofreu uma “desinflação significativa” desde o começo da crise.
Alguns BCs concordam com Bernanke. “Precisamos da economia americana forte e com sinais de recuperação”, admitiu Mohamed Al Jasser, governador do BC da Arábia Saudita. “Entendo que Brasil e outros mercados estejam preocupados. Mas temos de pensar qual outra medida os americanos têm hoje para relançar sua economia”, afirma.
Mas a tese não tranquilizou os emergentes nem a Europa. Há alguns dias, o governo alemão de Angela Merkel já havia alertado que a atitude do Fed “apenas criava problemas extras ao mundo”. Merkel deve ser uma das vozes mais duras contra os Estados Unidos.
Superávit. Alemanha, Brasil e China ainda vão voltar a rejeitar os planos americanos de criar um teto para superávits de países. A proposta do Fed era de que esse teto seria de 4% dos PIBs nacionais, num esforço para equilibrar as contas do planeta. Negociadores, porém, garantem que Brasil, os demais países do Bric e Europa bloquearão qualquer tentativa dos americanos de recolocar o tema na agenda.
Pequim, Berlim e Brasília defenderão a tese da redução dos déficits públicos como maneira de equilibrar as contas, algo que já havia sido fechado na cúpula do G-20, em Toronto.
Luis Favre




In U.S., 14% Rely on Food Stamps

By Sara Murray, do Wall Street Journal
Um grande número de domicílios americanos ainda depende da assistência do governo para comprar comida, no momento em que a recessão continua a castigar famílias.
O número dos que recebem o cupom de comida [food stamps, a versão americana do Bolsa Família] cresceu em agosto, as crianças tiveram acesso a milhões de almoços gratuitos e quase cinco milhões de mães de baixa renda pediram ajuda ao programa de nutrição governamental para mulheres e crianças.
Foram 42.389.619 os americanos que receberam food stamps em agosto, um aumento de 17% em relação a um ano atrás, de acordo com o Departamento de Agricultura, que acompanha as estatísticas. O número cresceu 58,5% desde agosto de 2007, antes do início da recessão.
Em números proporcionais, Washington DC [a capital dos Estados Unidos] tem o maior número de residentes recebendo food stamps: mais de um quinto, 21,1%, coletaram assistência em agosto. Washington foi seguida pelo Mississipi, onde 20,1% dos moradores receberam food stamps, e pelo Tennessee, onde 20% dos residentes buscaram ajuda do programa de nutrição.
Idaho teve o maior aumento no número de recipientes no ano passado. O número de pessoas que receberam food stamps no estado subiu 38,8%, mas o número absoluto ainda é pequeno. Apenas 211.883 residentes de Idaho coletaram os cupons em agosto.
O benefício nacional médio por pessoa foi de 133 dólares e 90 centavos em agosto. Por domicílio, foi de 287 dólares e 82 centavos.
Os cupons se tornaram um refúgio para os trabalhadores que perderam emprego, particularmente entre os estadunidenses que já exauriram os benefícios do seguro-desemprego. Filas nos supermercados à meia-noite do primeiro dia do mês demonstram que, em muitos casos, o benefício não está cobrindo a necessidade das famílias e elas correm antes da chegada do próximo cheque.
Mesmo durante as férias de verão as crianças retornaram às escolas para tirar proveito da merenda, onde ela estava disponível. Cerca de 195 milhões de almoços foram servidos em agosto e 58,9% deles foram de graça. Outros 8,4% foram a preço reduzido. Este número vai aumentar quando os dados do outono forem divulgados já que as crianças estarão de volta às escolas. Em setembro passado, por exemplo, mais de 590 milhões de almoços foram servidos, quase 64% de graça ou com preço reduzido.
Crianças cujas famílias tem renda igual ou até 130% acima da linha da pobreza — 28 mil e 665 dólares por ano para uma família de quatro pessoas — podem ter acesso a almoços gratuitos. As famílias que tem renda entre 130% a 185% acima da linha da pobreza — 40 mil e 793 dólares para uma família de quatro — podem receber refeições a preço reduzido, não mais que 40 centavos de dólar de desconto.
Ps do Viomundo: Texto dedicado àqueles que acham chique os programas sociais na França, na Alemanha e nos Estados Unidos, mas tem “horror!” dos programas sociais brasileiros.

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