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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 09, 2010

O lobo muda de pele...

Cambio: Estados Unidos declara guerra al mundo

EEUU ejerce su hegemonía antes de la reunión del G20
*cronicascriticasdaal 

O lobo muda de pele...

Deve aparecer muito distante, ao presidente Barack Obama, o 4 de Novembro que de dois anos atrás, quando os seus discursos salpicados com a retórica permitiram-lhe abrir uma maneira para penetrar no coração de milhões de Americanos, povo historicamente "sensíveis" (para assim dizer...) ao fascínio emanado pelos indivíduos que têm a capacidade suficiente para falar por horas e horas de "paz", "mudança", e "ecologia" e semelhantes assuntos.
Como é sabido, as eleições intercalares (Midterm Electrions) são geralmente consideradas como um teste decisivo  para perceber qual o humor do povo em relação à Administração e relativas escolhas políticas. 

De momento, parece que a queda abrupta de Obama e a especular subida da ala dura do partido republicano sejam um sinal duma reencontrada "islamofobía", despertada do próprio sono graças à sua "alfinetadas" dos recentes "ataques" (com muitas aspas)  feitos pelos diversos Al Awalaki e companhia, todos os membros da mesma  auto-intitulada "Al Qaeda".  
Desde o 11 de Setembro ao correio infectado com antraz. Hoje chegámos aos toner "explosivos" (sic!) que oriundos, assim dizem no Pentágono, do Yemen. 

O prato é servido.  

Os republicanos são o que são, como sempre, alimentado pelas poderosas lobbies da guerra e do petróleo, e tentam tudo para encontrar um casus belli, uma coisa tipo incidente do Golfo de Tonkin o que lhe permita adquirir o consenso necessário para aumentar a área do conflito no Médio Oriente. 

O Obama de hoje, com pouca credibilidade, se realmente deseja salvar a situação, não pode deixar de adaptar-se às manias republicanas, e reafirmar, em perfeita sintonia com os neocons, o sagrado "papel" dos Estados Unidos, ou seja, guardiães da (des)ordem mundial; e paciência para os muitos idiotas "radical chic", que entopem os luxuosos salões de meio mundo. 

O Irão é desde muito o alvo, e é só por causa dos gritantes fracassos no Afeganistão e no Iraque que ainda não foi efectuada qualquer acção militar contra Teerão.  

Até o conhecido colunista David Broder, do prestigiado (sic) Washington Post, afirma que ao travar uma guerra com o Irão não só seria possível eliminar a assim chamada "ameaça nuclear" número um, mas também resolveria muitos dos problemas económicos da crise de hoje (como o desemprego); em suma, atacar o Irão significaria dois pássaros com uma pedra.  

Por outro lado,  nos ambientes da "desinformação", sobre as "reconstruções oficiais" dos factos, recentemente largou o machado Wikileaks, o assim chamado "site de contra-informação", que num piscar de olho teria adquirido centenas de milhares de documentos secretos que mostram a pesada responsabilidade do Líbano , da Síria e, cereja no topo do bolo, do Irão no crescimento da guerrilha xiita no Iraque, a ser considerada, é claro, a única responsável pelos massacres sangrentos contra a inerme população sunita. 

E se a afirmação for de Wikileaks, como sugerido por quase toda a imprensa ocidental, não se pode (ou talvez não se deve) não acreditar.  

O tempo está a esgotar-se, o "inimigo" foi identificado e o terreno preparado para o ataque com os meios usuais, o que significa que somos confrontados com a confirmação do facto que a tanto publicitada passagem de testemunha de Bush para Obama, não só não trouxe aquela "mudança" sobre a qual tantos "esquerdos" europeus teriam apostado uma fortuna, mas foi apenas um recuo tático, que não afectou minimamente a linha estratégica fundamental do imperialismo dos EUA.

*Informação Incorrecta 



O mundo sobre os ombros de um homem pequeno


A crise se agiganta, Obama se apequena...
Saul Leblon da Carta Maior:
A tentativa do governo americano de purgar a crise interna com expansão da liquidez significa transferir os efeitos colaterais do colapso americano para os países em desenvolvimento. A equação paradoxal manipulada pelo FED e a Casa Branca fortalece a economia no núcleo duro do capitalismo ao desvalorizar a moeda de troca elevando a competitividade das suas exportações para gerar crises de superliquidez no resto do mundo. Sobretudo o mundo pobre e em desenvolvimento perde fôlego comercial e capacidade soberana de coodenar sua economia, por conta da invasão de capitais especulativos vazados das burras do Tesouro gringo.
A inexistência de um movimento socialista forte no resto do mundo, a exemplo do que havia nos anos 30, e depois da Segunda Guerra, permite que Obama promova ‘esse repasse do ônus’, sem maiores riscos. Durante o governo Roosevelt, iniciado em 1933, deu-se o oposto. Para reverter a crise de 29 foi necessário que o Estado americano assumisse o comando da economia. À revelia dos mercados Roosevelt acionou uma inédita política desenvolvimentista de recorte estatal feita de gigantescas obras públicas, ações sociais e frentes de trabalho.
Omitir-se então, e transferir o ajuste aos mercados pela superliquidez, como agora, significaria abrir espaço ao avanço do movimento socialista europeu e do poder sindical dentro dos EUA. A ausência desse personagem histórico explica o impasse no G 20 e a conversa mole de busca de coordenação internacional quando na verdade o que interessa aos EUA é destruir qualquer articulação política que possa se opor aos desígnios do seu ajuste unilateral.
O corolário desse teatro foi expresso por Barack Obama nesta 2º feira na Índia. Com escárnio, o democrata, que fica cada dia menor à medida em que a crise se agiganta, disse sobre as ações do FED e do Tesouro: ‘O que é bom para os EUA é bom para o mundo”. O único lugar no mundo que pode dar uma resposta consequente a Obama é a América Latina com seu colar de governos progressistas dotados de uma incipente capacidade de coordenação. Basta isso para avaliar a octanagem conservadora da pregação demotucana e de seu dispositivo midiático contra a integração sulamericana. E é essa gente hoje que vem falar em risco de desindustrialização…
[Leia 'Desindustrialização, Guerra cambial e Hipocrisia']
EUA: O CONSUMIDOR NÃO COMPRA, AS EMPRESAS NÃO INVESTEM, OS BANCOS NÃO EMPRESTAM
“…as empresas não financeiras [nos EUA] detêm cerca de US$ 3 trilhões em caixa e só investem em tecnologia poupadora de mão de obra (com benefícios da depreciação acelerada), o que não aumenta o emprego. O sistema bancário tem reservas excedentes da ordem de um US$ 1 trilhão e não os empresta porque ninguém solicita” [Delfim Neto, Valor, 09-11]

Desigualdade explode nos Estados Unidos



Sim, isto são ous EUA: Detroit
NICHOLAS D. KRISTOF, no New York Times pelo Viomundo
Em minhas reportagens, eu viajo regularmente às repúblicas das bananas notórias por sua desigualdade. Em algumas destas plutocracias, o 1%  mais rico da população abocanha até 20% da torta nacional.
Mas, dá para acreditar? Você não precisa viajar a países distantes e perigosos para observar tal desigualdade. Nós temos isso bem aqui em casa — e depois das eleições de quinta-feira, pode piorar.
O 1% mais rico dos norte-americanos agora acumula quase 24% da renda nacional, comparado com 9% em 1976. Como Timothy Noah da [revista eletrônica] Slate notou em sua excelente série sobre desigualdade, os Estados Unidos agora tem uma distribuição de riqueza mais desigual que as tradicionais repúblicas das bananas da Nicarágua, Venezuela e Guiana.
Os dirigentes das maiores companhias dos Estados Unidos ganhavam em média 42 vezes o salário médio dos trabalhadores em 1980, mas isso passou a 531 vezes em 2001. Talvez a estatística mais chocante seja esta: de 1980 a 2005, mais de quatro quintos do aumento total de renda dos Estados Unidos foram para o 1% mais rico.
Este é o cenário para uma das grandes brigas pós-eleitorais de Washington — até quando estender os cortes de impostos de Bush para os 2% mais ricos dos Estados Unidos. Os dois partidos concordam em estender os cortes de impostos para quem ganha até 250 mil dólares [por ano]. Os republicanos também querem estender os cortes de impostos para quem ganha acima disso.
O 0,1% dos contribuintes mais ricos receberia um corte de impostos de 61 mil dólares do presidente Obama. Mas receberia 370 mil dólares [de corte de impostos] dos republicanos, de acordo com o grupo não partidário Tax Policy Center. E isso resultaria num modesto estímulo econômico, já que os ricos em geral não gastam o que deixam de pagar em impostos.
Num período de desemprego de 9,6%, não faria mais sentido financiar um programa de emprego? Por exemplo, o dinheiro poderia ser usado para evitar a demissão de professores e o enfraquecimento das escolas norte-americanas.
Além disso, uma prioridade óbvia do pior desaquecimento da economia em 70 anos seria estender o seguro-desemprego, parte do qual será cortado em breve a não ser que o Congresso aja para renová-lo. Ou há também o programa de assistência para o ajuste do comércio, que ajuda a treinar e apoiar trabalhadores que perderam seus empregos por causa do comércio exterior. Não será mais aplicado aos trabalhadores do setor de serviços depois de primeiro de janeiro [de 2011], a não ser que o Congresso intervenha.
Assim temos uma escolha. São nossa prioridade econômica os desempregados ou os zilionários?
E se os republicanos estão preocupados com o déficit do orçamento de longo prazo, uma preocupação justa, por que insistem em dois passos que economistas não partidários dizem que piorariam os déficits em mais de 800 bilhões de dólares na próxima década — cortar impostos para os mais ricos e derrubar a reforma do sistema de saúde? Que outros programas os republicanos cortariam para garantir os 800 bilhões em receita perdida?
Ao considerar estas questões, é preciso relembrar o cenário em que se deu o crescimento da desigualdade nos Estados Unidos.
No passado, muitos de nós aceitávamos os níveis de desigualdade porque acreditávamos existir uma troca entre igualdade e crescimento econômico. Mas há provas de que os níveis de desigualdade que agora atingimos na verdade suprimem o crescimento. Uma gota de desigualdade pode lubrificar o crescimento econômico [nota do Viomundo: teoria de Ronald Reagan, a Reagonomics, segundo a qual quando sobra mais dinheiro para os mais ricos eles investem na economia e criam empregos], mas muita desigualdade pode emperrar a economia.
Robert H. Frank, da Universidade de Cornell, Adam Seth Levine da Universidade Vanderbilt e Oege Dijk, do Instituto da Universidade Europeia, recentemente escreveram um trabalho fascinante sugerindo que a desigualdade causa problemas econômicos. Eles olharam para os dados do censo para 50 estados e os 100 condados mais populosos dos Estados Unidos e encontraram relação entre os lugares onde a desigualdade mais cresceu e o crescimento do número de falencias.
Aqui está a explicação: quando a desigualdade cresce, os mais ricos pegam o dinheiro e compram mansões ainda maiores e automóveis ainda mais luxuosos. Os que se encontram abaixo tentam fazer o mesmo e acabam gastando a poupança e assumindo dívidas, tornando uma crise financeira ainda mais provável.
Outra consequência descoberta pelos estudiosos: a desigualdade crescente aumenta o número de divórcios, presumivelmente como resultado de dificuldades financeiras. Talvez eu seja muito sentimental ou romântico, mas isso me impressiona. É um lembrete de que a desigualdade não é apenas uma questão econômica, mas também de dignidade e felicidade.
Há provas crescentes de que perder um automóvel ou uma casa mexe com a sua identidade e acaba com a sua autoestima. Mudanças forçadas [de endereço] arrancam famílias de suas escolas e de suas redes de apoio.
Em resumo, desigualdade deixa as pessoas que estão mais baixo na escala social se sentindo feito ratinhos na roda que gira cada vez mais rápido, sem esperança ou escape.
Polarização econômica também rompe nosso sentido de união nacional e de objetivos comuns, gerando também polarização política.
E assim, no cenário pós-eleitoral, não devemos agravar nossa separação por renda, que deixaria um caudilho latino-americano orgulhoso. Para mim, já chegamos ao ponto das repúblicas das bananas onde a desigualdade se tornou economicamente pouco saudável e moralmente repugnante.
PS do Viomundo: Este site não gosta de julgamentos morais. Nota que os Estados Unidos combateram ferozmente os governos que tentaram reduzir a desigualdade, tanto na Nicarágua quanto na Venezuela. E, ao contrário do articulista, nota que a desigualdade nos Estados Unidos se acelerou porque os ricos passaram a exportar os empregos e, para pagar menos imposto, a sediar suas corporações em paraísos fiscais, enquanto os mais pobres foram fritar hambúrguer no setor de “serviços”.
*estadoanarquista

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