Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 02, 2010

Não às lagartas, sim às borboletas






Soraya F.
Ontem acabou o suplício de quatro meses com uma alegria indescritível. Depois de vibrar muito e acompanhar a nossa futura presidenta nos noticiários, fui dormir o sono dos justos. Há muito não dormia como ontem. Acordei ao meio dia, alma leve e coração tranquilo.
Durante o processo de campanha, com o ataque feroz e covarde da imprensa golpista e, especialmente no segundo turno, com o ataque da tropa de choque da calúnia eletrônica, nada me deixou tão triste como o pronunciamento da autora Ruth Rocha. A virulência desses meios era esperado, mas a dessa senhora, escritora de livros infantis, me chocou.
Sou professora de crianças pequenas por opção. Atualmente trabalho com duas turmas de 1º ano, isso aos 29 anos de profissão. Tenho uma pequena biblioteca em sala de aula, a grande maioria de livros infantis que eu comprei com o meu salário. Literatura infantil é parte do meu cotidiano e essa autora integrava a minha ‘best list”…Não mais.
Em um dos seus livros, A Primavera da Lagarta, a autora questiona o preconceito. Em outro intitulado As coisas que a gente fala, critica a mentira e a dificuldade que é juntar os cacos de uma calúnia. Há outros, a maioria nessa linha.
Imaginem qual não foi a minha surpresa em ver o vídeo onde afirma que sempre foi tucana? Que apoiava o Serra! Logo o Serra o representante encarnado de tudo o que ela questiona em seus livros?!! Meus olhos enxergaram, naquele momento, a bruxa da Branca de Neve que veste de boa velhinha para entregar a maça envenenada.
Esqueceu-se a sra. Ruth Rocha que os professores e professoras ouviram suas manifestações (espero que a maioria não tenham tido o desprazer de assistir o video)e que,certamente, se preocuparam com sua tão consciente escolha. Os professores não gostam de ser tratados com truculência, enganados e desrespeitados. Ah! E são os maiores consumidores de literatura infantil!
Gostaria de dizer em meu nome, pois não falo por outra pessoa além de mim, que a honestidade é um valor que não tem preço. Dizer uma coisa e fazer outra é o pior exemplo que se pode dar a uma criança. Ver uma autora que critica a calúnia participando ativamente da maior delas, me deu náuseas e profunda tristeza.
Ontem começou a Feira do Livro em Porto Alegre. Amanhã lá estarei com os meus pequenos, mostrando pelo exemplo a importância e o valor de um bom livro. Durante a semana, assim com a grande maioria dos professores, volto para comprar. Muitos autores estarão em minha lista, mas uma ausência é certa. O “faz o que eu digo ,mas não faz o que eu faço” é perverso e deseduca.
Quanto a campanha como um todo o saldo foi super positivo: vencemos o ódio, a calúnia e o medo; elegemos a primeira presidenta do Brasil; conquistamos parcerias e amizades virtuais; fortalecemos-nos como militância unida em suas proximidades e diferenças; conquistamos um espaço de livre expressão; tivemos acesso ao melhor da política  e ao melhor do jornalismo; e a torpeza da campanha de nosso adversário, fez cair algumas máscaras.
Enfim, podemos apreciar mais uma vez a primavera, com borboletas multicoloridas. As formigas, o camaleão e louva-a-deus não conseguiram expulsar as lagartas.

*Tijolaço

Nenhum comentário:

Postar um comentário