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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, setembro 13, 2011

A Midiocracia

Belluzzo: A Midia é parte da crise 


"O consenso em torno de certas ideias de dominância financeira -idéias que estão na origem da atual crise- não seria possível sem a sua vocalização pela mídia.

Não se trata de uma teoria conspiratória, estou dizendo que isso se deu através de um processo social em que as camadas dominantes impõem as idéias dominantes. A gente nunca pode perder essa dimensão da luta social; como ela se desenvolve e como maneja os símbolos, os significados, as palavras.

Tome o exemplo da queda da taxa de juros brasileira. Isso produziu em certas pessoas (da imprensa) uma estupefação; algumas mais estupefação e outras alguma indignação. As que ficaram mais estupefactas ficaram assim porque sempre disseram para elas o contrário, que era um perigo, era a ruína.

As ideias, como dizia um autor do século XIX, tem uma força material - a força material das idéias dominantes. Dizia o sociólogo Norberto Elias que é muito mais difícil você desconstruir um consenso como este. Daí a importância da luta social e política. Ou você acha que a crise vai ser resolvida mecanicamente por ela mesma? Não vai. É necessário formular alternativas. A solução dita ‘normal' é muito simples, como diz um economista americano, Doug Henwood. Ele tem uma newsletter de nome muito interessante, Left Business Observer, e foi encarregado de escrever sobre Wall Street, antes e depois da crise. É muito fácil, asseverou. Antes da crise Wall Street era o locus mais poderoso de interesses políticos, econômicos e sociais dos EUA. Depois da crise, Wall Street continua sendo o locus mais poderoso de interesses políticos, econômicos e sociais dos EUA. 

Qualquer repórter que te entrevista sobre política monetária se ouvir algo diferente do que pontificam esses interesses ele hesita em publicar; quando publica o faz cheio de ressalvas. Esse jornalista foi emprenhado pelo ouvido, durante anos, para perguntar e ouvir a mesma coisa. 
 Kayser
O problema da mídia no mundo inteiro é conquistar essa diversidade de pontos de vista. O que aconteceu nos últimos anos é o monopólio de algumas empresas de mídia que veiculam a visão da classe dominante. Eles são a classe dominante. 

Nos anos 50 e 60 na Europa, por exemplo, você tinha uma mídia diversificada que expressava as posições políticas distintas. As pessoas liam, por exemplo, o Avanti, o La Unitá... Havia debate político. Hoje você não tem debate. Hoje você tem uma farsa' 

(Luiz Gonzaga Belluzzo no debate ‘Neoliberalismo, um colapso inconcluso', organizado por Carta Maior)

*esquerdopata

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