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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Kassab rifou Serra? Leu o livro-bomba? 

 

Por Altamiro Borges

Numa longa entrevista à Folha, o prefeito Gilberto Kassab, chefão do recém-criado PSD, deu a impressão de que está rifando seu criador, o tucano José Serra. Apesar das juras de amor, ele garantiu que o ex-governador não quer ser candidato à prefeitura da capital e que seu partido, portanto, poderá ter candidato próprio. Seu ziguezague retórico não convenceu nem o jornal serrista.



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O senhor tem defendido aliança com o PSDB, mas também propugna que o candidato seja do seu partido.

Não é verdade. Tanto é que eu sempre dou prioridade para a candidatura de José Serra. Não há, da nossa parte, essa questão compulsória que seja um candidato do PSD. O que eu tenho dito é que é importante mais uma vez que seja escolhido o melhor candidato da aliança. E eu tenho dito sempre que a aliança tem dois bons candidatos hoje, que são o Serra e o Afif.

O senhor acha que um dos dois aceitará ser candidato?

Vamos deixar para janeiro, para conversar com eles. O Serra já tem dito com muito mais clareza que não será candidato. O Afif, em algumas conversas preliminares, tem manifestado a intenção de colaborar, caso a aliança entenda que possa ser ele o candidato, ele analisaria.

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Esforço para firmar o PSD

Na prática, como também alerta o Estadão, Kassab tem estimulado alguns nomes do PSD a ingressarem em campo. Estão na lista, além de Guilherme Afif Domingues, atual vice-governador, o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles – que transferiu o seu domicílio eleitoral para a capital –, e o seu secretário da Educação, Alexandre Schineider, que abandonou o ninho tucano.

Kassab parece determinado a consolidar seu projeto partidário e as eleições municipais são decisivas neste sentido. Ele mantém o discurso da “independência”, mas procura firmar o PSD. Garante que se o tucano Geraldo Alckmin for candidato à reeleição para o governo de São Paulo, em 2014, a nova legenda poderá apoiá-lo, “se essa aliança é renovada em 2012”. Tirou a faca!

Serra para vereador em 2012

Elogia Dilma Rousseff, mas também manda um recado: “Eu não me sinto à vontade de apoiar o governo da presidente Dilma. Eu não a apoiei na eleição, apoiei o Serra”. Ou seja, Kassab faz os cálculos políticos para ver o que é melhor para o seu partido. No momento, quem mais perde é exatamente Serra. Pode ficar sem o seu principal trunfo. Será que ele vai disputar para vereador?

De fato, Serra não vive os seus melhores dias. Suas noites de notívago devem ter se agravado. Primeiro foi a prisão João Faustino, seu ex-subchefe da Casa Civil e um dos coordenadores financeiros da sua campanha presidencial, acusado de integrar a quadrilha de desviou dinheiro da inspeção veicular no Rio Grande do Norte. A mídia abafou o caso, mas ele ainda dará dores de cabeça.

A privataria tucana

Depois, a pesquisa Datafolha (ou DataSerra?) confirmou que sua rejeição bate recorde entre os eleitores paulistanos – 35%. Para complicar ainda mais as suas ambições, o livro de Amaury Ribeiro, que comprova o envolvimento de seus familiares e amigos no esquema de lavagem do dinheiro da privataria tucana, não pára de vender. Já virou best-seller.

Por falar nisso, será que o Kassab leu o livro e achou melhor rifar seu criador? Será que teme que ele seja preso, junto com sua filha, seu genro, seu primo e seu ex-tesoureiro?

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