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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Vem aí a CPI do Serra




O silêncio sepulcral mantido até agora pelos principais veículos de comunicação do País com relação ao livro que aponta desvios de recursos das privatizações realizadas no governo Fernando Henrique em benefício de alguns de seus principais integrantes, dentre deles José Serra, começa a dar lugar a comentários comedidos sobre o conteúdo da obra.
O motivo é o registro de pedido de CPI na Câmara dos deputados que contou com 185 assinaturas de parlamentares, 14 mais que o quórum exigido para iniciativas desse tipo. A comissão de investigação só deverá ser instalada no início do ano que vem, mas alguns de seus efeitos já podem ser antecipados.
O principal deverá ser o encerramento da carreira política do ex-governador de São Paulo José Serra que à revelia de seu partido montou o esquema ilícito de enriquecimento pessoal.
Documentos oficiais que ilustram o livro mostram que até a casa em que mora hoje Serra está em nome de sua filha, Verônica Serra, principal envolvida com o escândalo. Além desse imóvel, há outros em nome de parentes seus no litoral Sul da Bahia, inclusive uma ilha.
Para essas imobilizações deve ter contribuído a atuação do secretário de meio ambiente de Porto Seguro à época (2006-2008), o geógrafo Beny Ricardo Pontes Abreu que depois de deixar o cargo naquela cidade foi admitido na estatal paulista DERSA na gestão de seu padrasto , então presidente da empresa, Thomás de Aquino Nogueira, amigo e também indicado por Serra.
Outra conseqüência da CPI será o de revelar a parcialidade e partidarismo com que se guia o noticiário das principais emissoras de TV do Brasil, que se recusaram a noticiar até mesmo o fato jornalístico de o livro com as denúncias figurar como o mais vendido das últimas semanas, com a primeira edição esgotada em 48 horas.
Para além dos desdobramentos políticos de mais curto prazo que se espera de qualquer investigação desse tipo, a abertura da CPI deverá constitui o registro para a posteridade do momento em que as mídias sociais deixaram de se alternativas e passaram a constituir instrumento de fato de mudança da realidade política do País. 
*Brasilquevai

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