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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 01, 2012

247 – A seis dias das eleições de 7 de outubro, a relutância da presidente Dilma Rousseff em mergulhar de cabeça na candidatura de seu ex-ministro Fernando Haddad finalmente foi vencida. Vinda especialmente de Brasília, ela subiu ao palanque, em Itaquera, na periferia Leste de São Paulo, ao lado do ex-presidente Lula, como a atração principal do mais importante comício do candidato do PT até aqui, nesta segunda-feira 1. E 247 – A seis dias das eleições de 7 de outubro, a relutância da presidente Dilma Rousseff em mergulhar de cabeça na candidatura de seu ex-ministro Fernando Haddad finalmente foi vencida. Vinda especialmente de Brasília, ela subiu ao palanque, em Itaquera, na periferia Leste de São Paulo, ao lado do ex-presidente Lula, como a atração principal do mais importante comício do candidato do PT até aqui, nesta segunda-feira 1. E não se furtou ao enfrentamento direto com o tucano José Serra, que a provocou, dias atrás, recomendando-lhe não "meter o bico em São Paulo".
"Não posso dirigir o País sem meter o bico em São Paulo", devolveu Dilma, para alegria e aplausos da platéia reunida pelo PT. Ela falou por cerca de quinze minutos. Não poupou elogios ao ex-presidente Lula, que se manteve todo o tempo ao seu lado. "Lula me deixou uma herança bendita. Ele fez o melhor governo, isso ninguém pode nos tirar", completou a presidente. "Gosto muito de estar ao lado do Lula. Se tem um homem que faz a diferença, é Luiz Inácio Lula da Silva". A seguir, rasgou elogios ao candidato a prefeito. "Haddad é um companheiro de fé. Ele melhorou as condições da Educação", assegurou. "Haddad é um realizador de sonhos". Até mesmo a mulher dele, Ana Estela, ganhou a atenção da presidente. "É uma mulher especial, uma mulher de fé", disse Dilma.
A presidente cumpriu à risca com seu papel de tentar estimular a candidatura de Haddad, com frases sob medida para serem reproduzidas no programa de televisão do candidato. "O Fernando faz a diferença. Na hora de votar, vote em quem faz a diferença", exclamou, numa afirmação pronta e acaba para esta reta final de primeiro turno.
Lula, ao discursar, virou suas baterias para a direção de Serra. "Ele não quer ser prefeito", disse o ex-presidente, batendo na tecla que mais acarreta rejeição ao candidato tucano -- a desistência do mandato de prefeito para concorrer, em 2006, ao cargo de governador de São Paulo. "Serra não conhece as necessidades do povo da Zona Leste", cravou Lula.
A senadora e ministra Marta Suplicy igualmente deu o ar da graça. "Vocês acham que há alguma chance de o nosso candidato não emplacar?", perguntou ela. "Não", respondeu, "não há chance de isso acontecer. Ele tem o apoio de Lula e Dilma e o melhor programa de governo para a cidade".
Fernando Haddad, por seu lado, escolheu um flanco do líder das pesquisas, Celso Russomano, para tentar bater forte. Tratou-se da proposta feita pelo candidato do PRB de cobrar o bilhete único pela distância percorrida pelo usuário dentro do coletivo. "Vocês acham que é justo isso?", perguntou. "O povo da Zona Leste vai ser um dos mais prejudicados", lembrou, numa referência à grande distância da região em relação ao centro da cidade. "Russomano não tem proposta", resumiu.
Com a popularidade em alta, Dilma vai testar, pela primeira vez desde que assumiu a Presidência da República, seu poder de transferir prestígio. O momento, para tanto, não poderia ser melhor e, paradoxalmente, mais arriscado. Se Haddad, efetivamente, ultrapassar o tucano José Serra nas urnas do dia 7, com quem trava uma briga parelha nas pesquisas das últimas duas semanas, consumará uma virada espetacular. Caso, porém, o mesmo Haddad não consiga o feito, tendo contado com Dilma a plenos pulmões, o ex-presidente Lula manipulando seus córdeis políticos e a senadora Marta Suplicy contemplada com o Ministério da Cultura, despejando todo o seu charme sobre a periferia da cidade, o fracasso será de igual proporção. Um verdeiro desastre político, de causar ressaca pelos próximos dois anos, até a próxima eleição presidencial.
Dilma preferia, desde o início, um outro roteiro, no qual tivesse menos exposição na campanha de Haddad. Ela foi convencida pelo ex-presidente Lula, porém, a jogar todas as suas fichas na candidatura caso, antes disso, seu pupilo se mostrasse minimamente competitivo. Ele não subiu como um rojão, como alguns esperavam, sequer chegando perto, segundo as pesquisas, dos 30% que, dizem, o PT teria como voto cativo na maior cidade do País. Porém, entrou para a zona dos dois dígitos de preferências e, à exceção do Datafolha, até mesmo ultrapassou o volume de opções prévias pró-Serra nas pesquisas de opinião. Nesta segunda, às vésperas do comício decisivo, trackings feitos pelo PT davam conta de que o candidato do partido estaria abrindo distância do ex-governador, enquanto o líder nas pesquisas, Celso Russomano, caia. Pode ser, mas o certo mesmo é que a verdade verdadeira só aparecerá no domingo, após o fechamento das urnas.
*Brasil247

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