Obeidi fala sobre a execução de Khaddafi
Enviado por luisnassif
Por Adir Tavares
A compra do silêncio
por José Goulão [*]
Rami el Obeidi falou durante os últimos dias. E disse, sem hesitar, que Khaddafi "foi executado directamente por agentes franceses" numa "operação comandada pela DGSE (os serviços franceses de espionagem externa) e por responsáveis do Eliseu", o palácio presidencial de Paris, então habitado por Nicolas Sarkozy. Em português directo e sem rodeios, o ex-chefe de Estado da Líbia foi executado por altos responsáveis do Estado francês, com envolvimento do próprio palácio presidencial.
[*] Jornalista, especialista em Médio Oriente.
O original encontra-se em http://jornaldeangola.sapo.ao/19/46/a_compra_do_silencio
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
por José Goulão [*]
Chama-se
Rami el Obeidi, o nome talvez não diga nada à maioria dos leitores, mas
ficam um pouco mais informados se lhes disser que foi o chefe dos
serviços de espionagem do Conselho Nacional de Transição (CNT), a
organização montada por países europeus e da Península Arábica e
sustentada militarmente pela OTAN que derrubou Muammar Khaddafi na Líbia
há um ano. Obeidi, segundo reza a biografia sintética publicada em
algumas agências e jornais europeus, era uma espécie de interface com os
serviços secretos europeus envolvidos na operação de mudança de regime
em Tripoli. Obeidi não era, portanto, uma pessoa qualquer, e muito menos
desinformada nos assuntos que diziam respeito à sua actividade.
Rami el Obeidi falou durante os últimos dias. E disse, sem hesitar, que Khaddafi "foi executado directamente por agentes franceses" numa "operação comandada pela DGSE (os serviços franceses de espionagem externa) e por responsáveis do Eliseu", o palácio presidencial de Paris, então habitado por Nicolas Sarkozy. Em português directo e sem rodeios, o ex-chefe de Estado da Líbia foi executado por altos responsáveis do Estado francês, com envolvimento do próprio palácio presidencial.
Para Obeidi, dirigentes líbios actuais e jornalistas
que investigaram o escândalo, o móbil do crime também não é segredo:
Sarkozy recebeu do seu antigo amigo Khaddafi a módica quantia de 50
milhões de euros com que financiou a campanha e se fez eleger Presidente
de França em 2007. A justiça francesa está, aliás, a tratar do assunto e
o ex-espião do CNT líbio não tem dúvidas de que o assunto, e também a
escusa de Khaddafi em honrar alguns contratos milionários de energia e
armamento combinados com Sarkozy, fizeram com que "alguém no Eliseu
quisesse a morte rápida" do antigo dirigente máximo da Líbia. Tanto mais
que – o que acelerou o processo – Khaddafi fez saber que ou o deixavam
em paz ou, em português vernáculo, punha a boca no trombone sobre os
financiamentos.
A execução extrajudicial de Khaddafi às mãos de agentes franceses funcionou assim como uma "compra de silêncio", uma atitude que os italianos se habituaram a qualificar como "de matriz mafiosa" e que na Mafia se reduz a uma palavra: "omertà", boca calada.
Até aqui tínhamos vindo a discorrer sobre questões, peculiares é certo, de política internacional e, num ápice, entrámos com naturalidade por terrenos mafiosos.
Deveríamos supor que assuntos internacionais e Mafia não poderiam confundir-se, são até antagónicos, por definição. A realidade, como se percebe, é outra. Há comportamentos de "matriz mafiosa" na política internacional envolvendo entidades que deveriam encarnar em si mesmas as virtudes da democracia e da transparência. O que é não apenas escandaloso como inquietante.
Mahmmud Jibril, antigo superior hierárquico de Obeidi e ex-presidente do Conselho Nacional de Transição disse um dia destes a uma televisão egípcia que "muitos serviços secretos árabes e ocidentais estavam interessados em que Khaddafi se calasse para sempre". Afinal os podres conhecidos pelo ex-chefe líbio não se limitavam ao financiamento da campanha de Sarkozy e contratos de armas e petróleo não cumpridos.
O pelotão de fuzilamento comandado pela DGSE francesa serviu muitos outros interesses. Afinal, a velha tradição mafiosa da "omertà" está viva e recomenda-se, alargou horizontes para os assuntos internacionais e graças a ela presidentes, reis, emires e sheiks podem reinar e dormir de consciência tranquila.
Outubro/2012A execução extrajudicial de Khaddafi às mãos de agentes franceses funcionou assim como uma "compra de silêncio", uma atitude que os italianos se habituaram a qualificar como "de matriz mafiosa" e que na Mafia se reduz a uma palavra: "omertà", boca calada.
Até aqui tínhamos vindo a discorrer sobre questões, peculiares é certo, de política internacional e, num ápice, entrámos com naturalidade por terrenos mafiosos.
Deveríamos supor que assuntos internacionais e Mafia não poderiam confundir-se, são até antagónicos, por definição. A realidade, como se percebe, é outra. Há comportamentos de "matriz mafiosa" na política internacional envolvendo entidades que deveriam encarnar em si mesmas as virtudes da democracia e da transparência. O que é não apenas escandaloso como inquietante.
Mahmmud Jibril, antigo superior hierárquico de Obeidi e ex-presidente do Conselho Nacional de Transição disse um dia destes a uma televisão egípcia que "muitos serviços secretos árabes e ocidentais estavam interessados em que Khaddafi se calasse para sempre". Afinal os podres conhecidos pelo ex-chefe líbio não se limitavam ao financiamento da campanha de Sarkozy e contratos de armas e petróleo não cumpridos.
O pelotão de fuzilamento comandado pela DGSE francesa serviu muitos outros interesses. Afinal, a velha tradição mafiosa da "omertà" está viva e recomenda-se, alargou horizontes para os assuntos internacionais e graças a ela presidentes, reis, emires e sheiks podem reinar e dormir de consciência tranquila.
[*] Jornalista, especialista em Médio Oriente.
O original encontra-se em http://jornaldeangola.sapo.ao/19/46/a_compra_do_silencio
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Nenhum comentário:
Postar um comentário