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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 02, 2012

Porque hoje é Finados, os índios Guarani-Kaiowá



Os Guarani-Kaiowá e o Dia de Finados


Se estivesse vivo, no último dia 26 de outubro, Darcy Ribeiro teria completado 90 anos e estaria possesso com a forma como hoje se trata a questão indígena no Brasil.
Dos maiores antropólogos do País, após passar a vida dedicando-se a pensar a educação e os índios brasileiros, o mineiro de Montes Claros morreu, em 1997, na Brasília que viu dele nascer a UNB, uma universidade criada à frente de seu tempo.
Prezada leitora escreve estranhando não ter visto aqui comentado o episódio com os índios Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul.
Fosse apenas uma confusão na titulação de terras, como querem fazer-nos crer, seria apenas mais uma bobagem de órgãos governamentais mal geridos. Não é.
Explico: assim como o retrocesso na preservação ambiental, que trouxe o novo Código Florestal, também as terras indígenas logo servirão interesses financeiros que cobrem o país de cabo a rabo.
O cabo no setor de mineração e o rabo na expansão estatal e privada do setor energético.
Entre os dois, a falácia de sempre: o uso de folhas e telas cotidianas para nos convencer de que o crescimento da produção agropecuária se faz ao custo da destruição da vida. Nesta, entendidos fauna, flora, índios, valores culturais e paremos por aí, para não excitar a repressão comentarista.
Em discussão, 170 índios que não querem sair de uma área de 10.000 m². Ou um hectare, sabem os leitores. Vamos repetir: um hectare.
Se procurarmos áreas particulares de lazer com essa dimensão, apenas ao redor da capital paulista, as encontraremos em milhares.
O último Censo Agropecuário (IBGE 2006) revelou utilizarmos 250 milhões de hectares em lavouras e pastagens. Pelo menos, outros 150 milhões ainda poderão ser usados para alimentar, fibrilar e energizar o planeta no futuro.
Poder-se-ia, pois, recomendar paciência com os Guarani-Kaiowá.
Também do IBGE, é uma pesquisa divulgada neste ano, com dados de 2010, mostrando que 817.963 pessoas se autodeclararam indígenas, o equivalente a 0,4% dos residentes no Brasil.
 http://www.ibge.gov.br/indigenas/indigena_censo2010.pdf
Deles, quase 40% vivem em áreas urbanas. Já quase eram. Os demais 500 mil são os que se irritam quando autoridades, como o governador do Mato Grosso do Sul, Antônio Puccinelli (PMDB), impedem-nos de viverem onde sempre viveram.
A taxa de crescimento populacional entre indígenas diminuiu 10 vezes na última década se comparada ao período 1991/2000. Deu para perceber o que está rolando, certo?
Mais: a maior concentração deles localiza-se na Região Norte, ambiente amazônico onde predominam seus meios de cultura e vivência.
No resto do País, com o nome de etnogênese, repete-se com os índios o mesmo êxodo que trouxe massas rurais para o convívio urbano, com resultados conhecidos.
Taí, dirão os de sempre, se são tão poucos, pra que tanta terra?
Taí, direi eu, travestido da crueldade que se costuma dedicar às minorias, se eles estão acabando, não dá para esperar?
*Nassif

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