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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 04, 2012

Violência: a forma como os policiais se auto-destroem


A vida de policial é muito difícil. Uma grande parcela deles desenvolve problemas psicológicos graves. Alcoolismo, consumo de drogas, depressão, problemas sérios com esposa e filhos, etc.
Comparado com o resto da sociedade, os policiais tem mais problemas psicológicos. Já tratei de vários deles, e aprendi muito sobre alguns comportamentos que os destroem.
Antes, porém, sugiro que leiam o texto abaixo:
"Na madrugada do dia 31 de outubro, centenas de policiais militares com cavalaria, cachorros e viaturas da Rota invadiram a comunidade São Remo - vizinha à USP, que existe há mais de 40 anos e, onde moram mais de 13 mil pessoas - arrombando casas de trabalhadores muitos dos quais funcionários efetivos e terceirizados da USP.
Uma companheira, funcionária da USP, que teve sua porta arrombada, pelos coturnos dos soldados, pediu o mandado judicial e recebeu dois tapas, no rosto, de um policial que gritava: - está aqui!. Em várias outras casas, os policiais quebraram móveis, eletrodomésticos e, quando os moradores protestaram dizendo que eram trabalhadores, ouviram dos policiais que quem mora na favela e não paga IPTU é bandido".  Continue lendo
Quero discutir esta triste situação sob a ótica da saúde mental dos policiais
Qual a origem social destes policiais: a mesma das pessoas que eles agrediam livremente. Eles desqualificam estas pessoas, que poderiam ser seus parentes, amigos ou filhos. Cria-se um condicionamento mental: a agressividade deve ser direcionada para aqueles que são como eu - um "lixo". 
Agressividade mais auto-desqualificação atua na mente destes profissionais gerando alta dose de ansiedade e angústia. 
Quem treina para usar a agressividade em um momento da vida, aprende a gerar a agressividade em todos os momentos. É como diz uma frase atribuída a Nietzsche: "a pessoa belicosa em momentos de paz briga com ela mesma". 
Atribuo grande parte do sucesso dos tratamentos que fiz com policiais ao descondicionamento da agressividade dirigida às pessoas mais humildes. É a melhor forma deles aprenderem a não cultivar as várias formas de agressividade na vida cotidiana.
Policial deve ter autoridade. Sem isso, não há como trabalhar. Outra coisa é o autoritarismo, que é o primeiro incentivo para a perda de controle na hora do trabalho e em outros momentos.
Todo policial deve ser treinado para ser educado, firme e delicado. É a melhor forma de controle do stress e a melhor forma de gerar um vínculo positivo com as pessoas (o que facilita seu trabalho).
Não existe contradição entre ter autoridade e ser educado, firme e delicado. O primeira passo é se defender.
O policial de índole agressiva, que se auto-desvaloriza, costuma se colocar em risco. Vou dar um exemplo: o policial para um carro. Vai até a porta e manda o sujeito sair do carro, intimida, etc. Se o sujeito tiver uma arma nem dá tempo dele reagir. Ele acha que sua postura agressiva o protege, mas é o oposto.
O policial que gosta de si faz assim: para o carro e, se protegendo, manda o sujeito sair do carro. Ao ter certeza que não há risco para si, manda delicadamente o sujeito virar de costas, para ser revistado educadamente. São várias proteções anti-stress: se defender, ser delicado, ser educado, etc. A autoridade deve ser preservada, sem ela não há serviço bem feito.
Este mecanismo de PROTEÇÃO MENTAL é extremamente importante para toda a sociedade. Principalmente para os mais pobres, que sofrem mais abusos e para a polícia e seus familiares.
Seria muito mais fácil capturar bandidos se a população tivesse um laço mais profundo com a polícia. Haveria uma rede de informação muito mais eficiente. Seria mais fácil capturar estes assassinos que tem matado policiais, aqui no estado de SP. Todos sairiam ganhando, pois onde a educação, a delicadeza e o respeito prevalecem é mais fácil de trabalhar - justamente porque o stress diminui muito e a racionalidade/eficiência aumenta.
Esta filosofia tem sido vitoriosa em vários casos que atendi. Uma vida melhor para os policiais, suas famílias e mais eficiência no combate ao crime.
Todos somos seres humanos e todos merecemos viver bem, felizes e satisfeitos. O respeito e o controle da agressividade é parte fundamental desta conquista.
O que você acha? Comente, sua opinião é muito bem vinda.
Regis Mesquita
No Psicologia Racional

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