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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 07, 2012

Vitória de Barack Obama impõe derrota à direita religiosa

Barack Obama
Retórica dos brucutus religiosos
 contra Obama não prosperou
 
Um dia antes das eleições americanas, o influente pastor Robert Jeffress, da Primeira Igreja Batista, do Texas, pediu aos fiéis que não votassem em Barack Obama (foto) porque ele, o candidato, estava criando as condições para a chegada do anticristo. E por ai continuou a pregação.

Jeffress faz parte da direita religiosa que saiu derrotada das urnas, com a reeleição de Obama.


O alarmismo religioso segundo o qual a vitória do democrata seria uma espécie de prenúncio do fim do mundo pontuou toda a campanha eleitoral, beneficiando o republicano Mitt Romney, que, embora mórmon, obteve o apoio de líderes cristãos conservadores.


Como observou a filósofa Martha C. Nussbaum antes da abertura das urnas, a direita religiosa pautou todo o tempo a campanha republicana, produzindo alguns episódios inimagináveis. Ela citou a declaração de um candidato de Indiana de que uma mulher estuprada engravidar faz parte “do plano de Deus”.


O empenho da direita religiosa contra Obama se intensificou quando ele se declarou favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. (Algo, aliás, que nenhum candidato brasileiro a presidente ousaria fazer na atual conjuntura de exacerbação religiosa, com pastores querendo que o país seja administrado com base na Bíblia).


A vitória de Obama, ainda que apertada, coloca em xeque, entre outras coisas, o poder de influência das lideranças religiosas sobre seus fiéis nas questões políticas.


Tanto quanto os pastores evangélicos mais conservadores, os bispos da Igreja Católica fizeram uma forte campanha contra Obama. Eles não chegaram a associar o candidato ao Satanás, mas foram firmes em dizer que Obama estava forçando os fiéis a violar seus princípios, impondo aos hospitais católicos, por exemplo, a obrigatoriedade de oferecer atendimento às mulheres que quiserem usar contraceptivos.


Apesar disso, Obama teve uma boa votação entre os católicos. Na explicação de John Green, especialista em religião e política da Universidade de Akron, isso foi uma decorrência principalmente do crescimento demográfico dos latinos, cuja maioria é católica.


A pregação evangélica fundamentalista também não prosperou. Em alguns Estados, Obama teve mais votos entre os evangélicos brancos do que teve em 2008. No Estado de Ohio, por exemplo, ele conseguiu cerca de 30% dos votos desse segmento dos eleitores, contra os 27% obtidos em sua primeira eleição.


A vitória de Obama e a consequente derrota da direita religiosa também podem ser analisadas a partir das pesquisas mais recentes que mostram estar havendo, por parte de uma parcela significativa da população americana, um distanciamento das religiões organizadas, além do aumento no número de ateus.


Diante desses dados, pode-se dizer que a direita religiosa americana tem mais estridência do que influência, o que talvez seja também o caso de sua congênere brasileira.

Leia mais em http://www.paulopes.com.br/#ixzz2BZR6nd1s
Paulopes

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