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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 14, 2014

A Bicha de Blair Blair e Alckmin

A Bicha de Blair

Blair e Alckmin

via GGN
Enviado por Luis Armidoro
Amigos do Blog
Lendo a coluna de Kenneth Maxwell (FSP, edição 31.270, pag A2, 13 de novembro de 2014), li um troço que é inacreditável:
"Desde 2012, a Tony Blair Associates também assessora Geraldo Alckmin na "modernização" dos serviços públicos de São Paulo, como parte do projeto "São Paulo 2030"
Quero saber quanto de grana pública vai neste contrato (e porque não - já que quer JOGAR dinheiro público fora - chamar empresas brasileiras, como a Fundação Cabral; ou chamar as universidades públicas, que devem ter milhares de artigos e diagnósticos sobre a situação da administração pública.
Além de vender tudo (acho que é uma das propostas do diagnóstico da Tony Blair Associates), os tucanos paulistas venderam o governo do estado em 2012, e ninguém ficou sabendo.
Que tal terceirizar a vergonha na cara e pedir para sair?
Por Kenneth Maxwell
Da Folha de S. Paulo
Tony Blair foi o primeiro-ministro que governou o Reino Unido por mais tempo (1997-2007), vencendo três eleições consecutivas. Foi-lhe atribuído o crédito por salvar a monarquia britânica após a morte da princesa Diana. Blair personificava o "novo trabalhismo", o Partido Trabalhista britânico reinventado, pró-mercado, neoliberal, que deixara para trás o domínio exercido pelos sindicatos. Ele serviu como comparsa de George W. Bush em intervenções no Afeganistão, depois do 11/9, e no Iraque, em 2003.
Foi afortunado ao escolher a hora de partir, substituído por Gordon Brown um ano antes da pior crise financeira desde 1929. O colapso do Lehman Brothers foi seguido por operações de resgate do governo britânico a diversos bancos. A Europa até agora não se recuperou. Desde 2007, porém, Blair segue um caminho bem conhecido.
Ao estabelecer suas empresas, foi assessorado pela KPMG, em Londres, e pelo advogado Robert Barnet, que assessorou Bill Clinton em suas lucrativas operações pós-presidenciais. A configuração das empresas de Blair é perfeitamente legal, e "sociedades limitadas" não são obrigadas a publicar suas contas, sob a lei inglesa. Henry Kissinger estabeleceu a norma para tal tipo de "consultoria", tanto em termos de lucratividade quanto de sigilo do cliente.
O JP Morgan pagou US$ 10 milhões a Blair desde 2008. Ele também assessora a seguradora suíça Zurich, o governo de Abu Dhabi e o presidente Nursultan Nazarbayev, do Cazaquistão. Desde 2012, a Tony Blair Associates também assessora Geraldo Alckmin na "modernização" dos serviços públicos de São Paulo, como parte do projeto "São Paulo 2030".
O "Sunday Times" revelou nesta semana o que definiu como "o acordo secreto de Blair com os sauditas", que envolvia pagamentos para permitir acesso aos seus contatos. A PetroSaudi, petroleira que tem entre seus fundadores o príncipe Turki bin Abdullah Al Saud, pagava 41 mil libras/mês e uma comissão de 2% sobre os projetos que Blair ajudava a intermediar. A PetroSaudi tem projetos em Gana, Indonésia, Venezuela, Tunísia e Malásia.
Blair certamente prosperou. Tem uma casa na qual John Adams viveu como primeiro embaixador dos EUA em Londres, uma mansão que foi do ator sir John Gielgud.
Blair menciona seu papel como enviado (não remunerado) ao Oriente Médio do "quarteto" formado pela ONU, EUA, União Europeia e Rússia, bem como seu trabalho filantrópico na Faith Foundation e na África. "O objetivo não é ganhar dinheiro, mas fazer a diferença", disse a fiéis do novo trabalhismo no 20º aniversário de sua eleição como líder do partido.
Talvez. Deveria recordar Jimmy Carter, cujas atividades pós-presidenciais sem dúvida tornaram o mundo um lugar melhor, sem que isso lhe valesse muito dinheiro no processo.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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