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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 14, 2014

Sob chuva forte, o ato começou por volta das 17h no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp),

Passeata “Contra a direita e por direitos” reúne 10 mil pessoas em São Paulo

Liderado pelo MTST, ato reuniu movimentos sociais para cobrar as reformas prometidas por Dilma e dar "resposta à elite"; trajeto passou por um dos bairros mais ricos da cidade


Renan Truffi
passeata MTST na avenida Paulista
Passeata do MTST começou na avenida Paulista por volta das 17h
Capitaneado pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) de Guilherme Boulos, um ato com a participação de outros movimentos sociais reuniu nesta quinta-feira 13 feira milhares de pessoas, embaixo de chuva, para marchar pelas ruas da cidade. A manifestação passou pelos Jardins, um dos bairros mais ricos da cidade e reuniu, embaixo de chuva, pelo menos dez mil pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar. Além de discursos políticos, o ato teve momentos bem-humorados, como o baile de forró "contra o preconceito aos nordestinos" na frente do HOTELRenaissance, que tem uma das diárias mais caras da capital paulista.
Sob chuva forte, o ato começou por volta das 17h no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida Paulista, com os militantes do MTST e também da Central Única de Trabalhadores (CUT), do movimento Juntos e de outras organizações. “Tem uma ‘playboyzada’ aí dos Jardins que, porque o ‘titio’ Aécio [Neves] perdeu a eleição, ficaram ‘bravinhos’ e foram para a rua contra o povo. Se lá na marcha deles tem elite, que não gosto do povo, aqui tem povo trabalhador, aqui tem negro, aqui tem nordestino, aqui está o povo brasileiro”, gritou Boulos de cima do caminhão de som, antes de a passeata começar. Era uma referência ao ato do último dia primeiro de novembro, que reuniu 1,5 mil pessoas no mesmo local para pedir a queda da presidenta Dilma Roussef por impeachment ou por meio de um golpe militar.
De acordo com o líder do MTST, um dos objetivos era justamente “fazer o enfrentamento contra a direita atrasada”: “Eles têm ido às ruas nos últimos meses defender posições inaceitáveis para maioria do povo brasileiro. Defender não só intervenção militar e impeachment, como também semear ódio aos pobres, o racismo e a homofobia. Isso não pode ser admitido. Essa marcha vem para fazer contraponto e mostrar que se os golpistas do Jardins estão colocando mil pessoas nas ruas, nós vamos pôr 15 mil só para começar”.
Da avenida Paulista, a passeata passou pelas rua Augusta, alameda Jaú e avenida Rebouças, todas nos Jardins. Quando chegaram em frente ao HOTEL Renaissance, um dos mais caros da capital paulista, os militantes fizeram um rápido baile de forró ao som de Zé Ramalho e Luiz Gonzaga enquanto outros simulavam carpir o jardim do empreendimento. “Queremos terra”, ironizavam os manifestantes ao mesmo tempo em que viaturas e a Tropa de Choque da PM faziam uma linha de bloqueio na área de embarque e desembarque para proteger o hotel.
PMs protegem entrada de hotel de luxo em São Paulo
Durante a passeata, Tropa de Choque protegeu entrada de HOTEL DE luxo no centro de São Paulo (Foto: Leonardo Sakamoto)
“Esse ato é para sociedade brasileira perceber e entender que a Dilma tem o apoio popular para fazer as reformas para qual ela foi eleita. É para dar um recado para a sociedade brasileira: não são só os reacionários que estão indo para as ruas”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas. “O povo não votou para ter alta de taxa de juros, não votou para ter banqueiro no Banco Central ou como ministro da Fazenda, o povo não votou para ficar sendo pressionado pelo PMDB reacionário. Quem venceu a eleição foi a agenda progressista. E pela quarta vez, o povo derrotou a agenda retrograda reacionária”, complementou.
Pelas reformas já
Guilherme Boulos, do MTST, explicou ainda que a marcha foi pensada também para pressionar o governo federal pelas reformas prometidas na campanha eleitoral. “O ato também tem o objetivo de pautar reformas populares no Brasil. O programa que foi eleito nas urnas tem que ser realizado”, enfatizou. “[O projeto eleito] era de mudança popular. As propostas que perderam não podem imperar. É necessário que o povo deixe claro a importância das reformas estruturais: a reforma política, a reforma urbana, a reforma agrária progressiva. Enfim, todos esses temas estão travados na agenda brasileira há décadas por conta do impeditivo que as elites colocam no Congresso Nacional”, disse.
Presente na passeata, a ex-deputada federal do PSOL Luciana Genro, que disputou a Presidência em outubro, minimizou a representatividade do discurso de extrema direita: “Eu acho que a manifestação que ocorreu aqui dias atrás não tem força, não tem representatividade social. Mas é evidente que a direita existe no Brasil e ela se expressa, por exemplo, no massacre que a polícia e as milícias promovem semanalmente na periferia das grandes cidades”.
Dos Jardins, a passeata seguiu pela rua Consolação até o centro da cidade, na Praça Roosevelt. Após quase três horas de caminhada embaixo da chuva, o MTST encerrou o ato. No discurso final, Boulos deixou um recado para Dilma. “Nós não vamos permitir que a presidenta não faça as reformas que prometeu e não governe para os trabalhadores”.
*CartaCapital

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