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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 23, 2014

É nosso dever revelar suas intenções.



Jornal GGN - O que é que se parece com um golpe, tem cheiro de golpe, tem contorno de golpe, mas é apresentado de tal forma que não se parece com um? Pois o site Causa Operária trouxe um bom texto analisando este golpismo disfarçado. Leia a matéria a seguir.
Enviado por Leo V.
do Causa Operária
 
Depois da Marcha da Família, “o retorno”, realizada em março desse ano, a direita novamente foi às ruas pedir a intervenção militar em ato realizado no início de novembro.
Tal reivindicação é extremamente repudiada e, para os golpistas, é mais que isso; é uma maneira desastrada de colocar o problema.
Logo em seguida à passeata, diversos políticos, principalmente do PSDB, negaram que defendessem uma intervenção militar de qualquer tipo. Xico Graziano, do PSDB, condenou tanto os que desejam a volta do regime militar, dizendo que esses deveriam sair do PSDB, e também se disse contrário ao pedido de impeachment. O próprio Aecio Neves e outras figuras tucanas adotaram a mesma posição.
Na passeata chamada para o dia 15 de novembro, os manifestantes se dividiram entre os que pediam intervenção militar, impeachment já e investigação do governo. Os primeiros eram minoritários e ficaram relativamente isolados dos demais. O cantor Lobão, que inclusive já deu declarações defendendo a ditadura, escreveu em seu twitter que não compareceu ao ato desse sábado justamente em razão da campanha em favor da intervenção militar. O colunista da Veja Reinaldo Azevedo escreveu um artigo também criticando a reivindicação. O título da matéria diz “Canalha minoritária e golpista macula protesto democrático contra desmandos do governo petista”. Azevedo procurou ainda amenizar o discurso de Eduardo Bolsonaro que não pediu intervenção militar no ato porque considera que “não é o momento”. Bolsonaro revela as intenções da direita assim como Olavo de Carvalho, que escreveu “os adeptos sinceros da ‘intervenção militar’ NÃO SÃO nossos inimigos. Apenas ninguém lhes informou que se querem realmente uma ação militar, não deveriam frustrar tão afoitamente o elemento-surpresa”.
A polêmica no meio da direita não é ser a favor ou contra a intervenção, mas sim falar abertamente ou não em intervenção e em que momento.
O golpe de Estado é uma daquelas coisas das quais não se deve falar e sim fazer. E os golpistas sabem disso.
Além disso, é preciso fazer o golpe parecer algo constitucional e democrático e não uma violação flagrante dos direitos da população. Provavelmente a direita percebeu que as condições ainda não estão dadas. Falar em golpe só cria um repúdio e, em lugar de preparar o próprio golpe, prepara a população para combate-lo.
De agora em diante, a direita se dedicará a aparecer como a grande defensora da democracia e da legalidade para que sua ação golpista não seja percebida como tal. É nosso dever revelar suas intenções.

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