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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 30, 2014

Cristo não foi um homem, mas um mito — não uma vida, mas uma lenda.

Sobre os DEUSES-SOL

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Por Robert G. Ingersoll
Escrito em 1896
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Percebi que todas religiões tinham substancialmente a mesma origem; que, na verdade, nunca houve senão uma religião no mundo. Os ramos e as folhas podem diferir, mas o tronco é o mesmo.O nível da religiosidade de um pobre africano que derrama seu coração a uma divindade de pedra é idêntico ao de um padre de batina que suplica ao seu Deus. É o mesmo erro, a mesma superstição que dobra os joelhos e fecha os olhos de ambos. Os dois pedem ajuda ao sobrenatural; nenhum desconfia da absoluta uniformidade da natureza.
Parece-me provável que a primeira cerimônia religiosa organizada tenha sido a adoração do Sol. O Sol era o “Pai Céu”, o “Onividente” — a fonte da vida, a lareira do mundo. O Sol era considerado um deus que combatia a escuridão, a qual representava o poder do mal, o inimigo do homem.
Houve muitos deuses-sol; parecem ter sido as divindades mais importantes das religiões antigas; foram adorados em muitas terras, por muitas nações já extintas.
Apolo era um deus-sol que combateu e conquistou a serpente da noite. Baldur era um deus-sol apaixonado pela Aurora — uma donzela. Krischna era um deus-sol; em seu nascimento o Ganges foi estremecido desde sua nascente até sua foz, e todas as árvores — tanto as vivas quanto as mortas — floresceram. Hércules era um deus-sol. Também o era Sansão, cuja força estava em seus cabelos, ou seja, em seus raios; Dalila — a sombra, a escuridão — foi quem o despojou de sua força. Osíris, Baco, Mitra, Hermes, Buda, Quetzalcoatl, Prometeu, Zoroastro, Perseu, Cadom, Lao-tsé, Fo-hi, Horus, Ramsés — todos eram deuses-sol.
Todos esses deuses descendiam de pais deuses e de mães virgens. O nascimento de quase todos era anunciado pelas estrelas — celebrado por uma música celestial —, e vozes declaravam que uma bênção havia chegado ao mundo desventurado. Todos esses deuses nasceram em lugares humildes — em cavernas, sob árvores, em estalagens —, e tiranos tentaram matá-los quando eram bebês. Todos esses deuses-sol nasceram no solstício de inverno — no natal. Quase todos eram adorados por “homens sábios”. Todos jejuaram por quarenta dias. Todos ensinavam através de parábolas. Todos realizaram milagres. Todos tiveram uma morte violenta. Todos ressuscitaram.
A história desses deuses é exatamente igual à história de nosso Cristo.
Isso não é uma coincidência, não é um acidente. Cristo era um deus-sol. Cristo era um novo nome para o último sobrevivente dos deuses-sol. Cristo não foi um homem, mas um mito — não uma vida, mas uma lenda.
Descobri que não apenas nosso cristo era um plágio, mas que todos nossos sacramentos, símbolos e cerimônias eram legados oriundos de um passado já sepultado. Nada é original no cristianismo.
A cruz já era um símbolo milhares de anos antes de nossa era. Era o símbolo da vida, da imortalidade — do deus Agni —, e foi entalhada sobre tumbas muitas eras antes de a primeira linha da Bíblia ter sido escrita.
O batismo é muito mais antigo que o cristianismo — que o judaísmo. Hindus, egípcios, gregos e romanos já tinham sua Água Sagrada muito antes de o primeiro católico ter nascido. A eucaristia foi apropriada dos pagãos. Ceres era a deusa dos campos e Baco o deus do vinho; durante o festival da colheita faziam bolos trigo e diziam: “Esta é a carne de nossa deusa”; bebiam vinho e bradavam: “Este é o sangue de nosso deus”.
Os egípcios tinham uma Trindade. Adoravam Osíris, Isis e Horus muito antes de o Pai, o Filho e o Espírito Santo tornarem-se conhecidos.
A Árvore da Vida cresceu na Índia, na China e entre os Astecas bem antes de o Jardim do Éden ter sido plantado.
Outras nações já tinham seus livros sagrados muito antes de nossa Bíblia ter sido conhecida.
Os dogmas da Queda do Homem, da Expiação e da Salvação pela Fé são muito anteriores à nossa religião.
Nada em nosso sagrado evangelho é novidade, nada é original em nosso “esquema divino”. É tudo antigo — tudo emprestado, recortado e remendado.
Percebi que todas as religiões foram produzidas naturalmente — que eram todas variantes de uma só —, e então concluí que não passavam de obras humanas.
*A.Burke
lembrando que só o é pois o próprio


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